Coordenador de Renováveis da Transpetro
Op-AA-12
A comparação entre o surgimento do etanol e o recente lançamento do biodiesel no Brasil é inevitável, mas é preciso observar algumas diferenças, já que o biodiesel encontra um ambiente muito mais fértil que o enfrentado por seu irmão mais velho. Em primeiro lugar, a necessidade da garantia de abastecimento de uma energia mais barata que o petróleo, que possa ser produzida por outras nações, é hoje uma prioridade na agenda energética de qualquer país do mundo, sendo, portanto, o grande impulsionador para a criação de uma nova commodity.
Em segundo lugar, a consciência ambiental do início do século XXI está bem mais consolidada que a existente na década de 70. Contudo, uma diferença importante entre ambos são os mercados a que se destinam e os produtos aos quais que pretendem substituir. Enquanto o etanol objetivava complementar o mercado da gasolina, que é composto, basicamente, de veículos de passeio, o biodiesel busca o mercado do diesel, o qual é composto, basicamente, pelos caminhões, locomotivas e ônibus.
Isto significa dizer que o potencial do biodiesel no mercado de cargas e movimentações brasileiro é imenso, possuindo muito mais externalidades que o etanol, e podendo ter um impacto muito maior, mesmo que indireto, em toda a cadeia produtiva do país. Ainda tratando deste aspecto dos mercados alvo, não podemos esquecer os carros flex-fuel, que surgiram recentemente e trouxeram vida nova ao etanol hidratado, criando uma demanda crescente e fornecendo ao consumidor uma ferramenta de controle de preços.
Certamente, ainda é muito cedo para falarmos de motores flex-fuel para biodiesel, mas o desenvolvimento desta tecnologia permitirá a utilização de qualquer percentual de biodiesel, concedendo aos clientes a possibilidade de gerar créditos de carbono, ao escolher qual combustível utilizar. Acredito que o surgimento do carro flex-fuel para o etanol é a maior demonstração da vida própria que um mercado adquire, quando lhe são fornecidas as condições ideais.
Mas, nem tudo são flores, e enquanto, no caso do etanol, o Brasil já era um grande produtor de açúcar e, conseqüentemente, possuía um parque industrial apropriado, no biodiesel, estamos ainda engatinhando. Neste mercado, o líder mundial é a Alemanha, seguida por diversos outros países da União Européia, onde já existe uma estrutura de produção estabelecida e aliada a um sistema protecionista.
Evidentemente, as diferenças nas distâncias envolvidas entre os mercados europeus são bem menores que as do mercado brasileiro, o que ressalta a importância de uma logística adequada. Além disso, o Brasil possui uma diversidade muito grande de matérias-primas para a fabricação do biodiesel, o que dificulta o desenvolvimento de uma especificação uniforme.
Isto, aliado à quantidade limitada de laboratórios para realização das certificações, as grandes distâncias entre os produtores e os pequenos volumes de produção, inviabilizam os ganhos de escala, elevando consideravelmente o custo logístico. É importante lembrar que no caso do etanol, a matéria-prima é sempre cana-de-açúcar, a especificação é uniforme e as instalações podem ser compartilhadas, uma vez que a ANP aceita até 3% de hidrocarbonetos no etanol puro.
Finalmente, se pensarmos que para comercializar diesel em uma determinada região, será preciso trazer biodiesel na proporção de 2% para aquela área, pode-se concluir que aquele que não tiver capacidade logística para buscar estes 2%, não poderá comercializar os outros 98%. Ou seja, o biodiesel será como um ingresso que permitirá (ou não) a atuação em determinados mercados de diesel.
Neste caso, o grande diferencial entre os diversos concorrentes será o custo logístico, atrelado a estas movimentações, o que significa dizer que a logística desempenhará um papel muito maior na consolidação do biodiesel, do que foi necessário para o etanol. Concluindo, para que o biodiesel tenha as mesmas oportunidades do etanol, muitos aspectos ainda precisam ser tratados, mas entre os principais, podemos citar: