Um dos maiores desafios do setor sucroenergético hoje, sem dúvida, é a produtividade agrícola. E, quando dividimos a safra em três períodos (início, meio e fim), o desafio é ainda maior. A cana colhida nesse período é exposta a um estresse abiótico mais acentuado.
O estresse abiótico da cana-de-açúcar refere-se a qualquer fator não biológico do ambiente que afeta negativamente o crescimento, desenvolvimento ou produtividade da planta. Esses estresses comprometem processos fisiológicos e bioquímicos essenciais, como a fotossíntese, a absorção de nutrientes e o metabolismo energético.
Dentre eles, os mais relevantes são o déficit hídrico (seca), que é quatro, cinco vezes maior nas canas de final de safra, e as altas temperaturas e radiação solar excessiva. Todas elas combinadas geram estresse oxidativo, que é uma das principais consequências do estresse abiótico em plantas e está diretamente ligada à produção e acúmulo excessivo de espécies reativas de oxigênio, causando redução de crescimento, queda na taxa fotossintética, amarelamento e queima das folhas (perda de clorofila), enfraquecimento da planta e queda de produtividade.
Tudo isso implica em uma qualidade menor desta cana processada, com menor pureza, mais fibra e uma quantidade maior de açúcares redutores, onde temos relevantes impactos na indústria.
Comparativo entre áreas aplicadas com bioestimulantes pós-seca e testemunho com 20 dias após aplicação.
Adicionalmente a este desafio da qualidade, temos uma redução de produtividade média nesse período, em torno de 25% a 35%, impactando na manutenção de performance de colheita, havendo a necessidade de estrutura adicional e, por consequência, aumentando os custos de produção.
Diante desta realidade, a BP Bioenergy tem como umas das estratégias agrícolas implementar e desenvolver novas alternativas que reduzam este efeito, garantindo melhores condições para o nosso negócio, dentre elas a utilização de bioestimulantes.
A nossa jornada na utilização de bioestimulantes começou há 10 anos no plantio mecanizado, com uso de extratos de algas que estimulavam o enraizamento mais rápido, melhorando assim a brotação, mitigando parte do efeito dos danos mecânicos inerentes à operação. Em seguida, iniciamos as operações foliares com nutrição e extratos de algas. Inicialmente com uma única aplicação e depois conseguimos expandir para até três aplicações, dependendo das condições.
Há quatro anos começamos a utilização de complexos de aminoácidos, inicialmente junto com extratos de algas e foliares nutricionais e, atualmente, começamos a explorar mais a nossa experimentação, pois notamos que haveria oportunidades no estudo deste manejo.
Intensificamos nossa experimentação e, hoje, estamos utilizando um pacote de bioestimulantes à base de aminoácidos e extratos de algas com foco no arranque e/ou destravamento do canavial no início das chuvas, antes das aplicações com foliares nutricionais.
Embora ainda houvesse uma melhoria no canavial pós-estresse, havia o paradigma “do que mais faremos” para melhorar a cana de final de safra. Foi aí que iniciamos os estudos no manejo pré-seca, que consiste em proteger a lavoura antes do início da estiagem.
Para o nosso setor, de fato, é uma quebra de paradigma, pois, no manejo convencional, sempre se trabalhou para estimular o crescimento da planta e não no conceito de regulagem de fluxo de dreno, fortalecendo raízes e rizomas, antes da colheita.
Desta forma, na BP Bioenergy, aplicamos aminoácidos, extrato de algas e alguns nutrientes em três aplicações, realizadas na última janela de favorabilidade no final das chuvas. Os intervalos variam conforme a condição climática, podendo alternar entre 10 e 20 dias.
Embora haja variações entre anos, notamos que, além de reduzir a perda de produtividade, conseguimos um aumento de seis toneladas em média no final de safra, aumento de quase dois pontos de pureza e uma melhoria de brotação, que deve ser em função da maior quantidade de amido das áreas aplicadas, que chegam a 50%.
E, por fim, sobre os últimos avanços das tecnologias em bioestimulações na BP Bioenergy, é válido mencionar que, no ano passado, validamos o uso de ácido giberélico em janeiro, com foco no crescimento. Olhando a dinâmica do Centro-Sul, mesmo sendo uma época de abundância de chuvas, é um período em que temos uma redução de radiação, e as aplicações de giberelina isolada ajudam a destravar nossa lavoura a alongar os colmos, dando excelentes resultados.
Atualmente, a empresa aplica aproximadamente nove vezes a área total com algum tipo de bioestimulante (55% aminoácidos, 20% precursores hormonais, 17% pré-seca e 8% hormônio). Contudo, mesmo com todo esse manejo, ainda se faz necessário continuar investindo em experimentações de alto nível para entender até onde poderemos chegar com o manejo de bioestimulações.
Ademais, a BP Bioenergy, além de investir fortemente em experimentação, também investe em outras técnicas para reduzir os impactos de clima, como manejo de água, correção de solo, utilização de variedades modernas e resistentes a seca e investimentos em irrigação que chegam a média de R$ 100 milhões por ano.
Comparativo entre áreas testemunho (1) e aplicadas com pré-seca (2)