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Eduardo Pereira de Carvalho

Diretor da Expressão Comercial, Importadora e Exportadora

Op-AA-29

É mais do que hora de reverter esse quadro

Qual o panorama para o etanol no Brasil? Nunca houve preços, em média, tão altos, seja no anidro, seja no hidratado. Nunca as cotações do açúcar foram consistentemente tão elevadas quanto no último ano. Nunca as perspectivas para o futuro, seja de médio ou longo prazo, foram tão brilhantes.

No açúcar, a posição é a de absoluta liderança nas exportações, mesmo quando pipoca uma Índia ou, hoje, uma Tailândia, com um ou dois milhões de toneladas a mais ou a menos. Não há quem possa responder com oferta adicional relevante ao crescimento significativo da demanda pelo produto, a não ser o Centro-Sul brasileiro.

No combustível, o incrível crescimento da frota brasileira de veículos leves gera um otimismo ainda muito maior: ao redor de 2020, um consumo potencial da ordem de 73 bilhões de litros, contra os atuais 23 bilhões, numa hipótese conservadora de uso do etanol em 65% da frota, se seus preços forem competitivos.

Mais ainda: firma-se universalmente o conceito do etanol de cana como o único verdadeiro substituto, até agora, de forma sustentável, da gasolina. Antecipa-se a enorme demanda externa, prevista para futuro mais distante. Desde que a produção seja competitiva. Repito: competitiva.

São raros na história do setor momentos de estagnação na oferta tal como hoje. Aconteceram, de fato, alguns percalços climáticos. Houve mudanças negativas dos cenários macroeconômicos? Piora do macroambiente político? Nada disso. A expansão da produção simplesmente parou.

Não se reformaram os canaviais e, em consequência, há uma capacidade industrial ociosa da ordem de 120 milhões de toneladas de cana. Congelaram-se os projetos de novas usinas. Trocaram-se de mãos ativos do setor, em amplo processo de concentração industrial. Melhorou sobremaneira a situação financeira. Novos conglomerados. Novos atores. Apesar disso, paira no ar um clima cinzento, carregado. Sensação de desconforto, de mal-estar.

Sentimento de incapacidade, ou falta de vontade, de atender a toda essa fantástica demanda. Conversa de surdo-mudo. As enormes conquistas dos últimos trinta e cinco anos não podem ser perdidas. É mais que hora de reverter esse quadro.

O que fazer? Em primeiro lugar, diálogo leal e sincero entre os principais interessados: fornecedores de cana, industriais, distribuidores de combustíveis, governos estaduais e federal, consumidores (representados por quem?),  reconhecendo as dificuldades momentâneas e planejando as ações futuras, que eliminem o presente impasse.

Que assegurem níveis possíveis de abastecimento com a cana existente. Que evitem distorções e intervenções no mercado que piorem o clima para os investimentos. Que restabeleçam para o setor o otimismo prevalecente na grande maioria dos investimentos no Brasil.

O efeito dramático da valorização do real e do problema associado à perda de competitividade, refletido no brutal aumento dos custos de investimento e de produção, obriga mudanças. Novas tecnologias, novos produtos, melhoria de processos, fortes avanços nas condições de infraestrutura.

Por aí vai um longo conjunto de ações que só se realizará em sua plenitude quando se restabelecer clima de confiança mútua. Melhoria do ambiente institucional, em especial aquele relacionado quer com descabidas restrições ambientais, quer com tratamento potencialmente discriminatório sobre a propriedade e o arrendamento de terras por parte de investidores estrangeiros, partícipes fundamentais no arranque de novo ciclo de inversões.

É preciso uma clara política de combustíveis que defina o papel do etanol em nossa matriz energética. Nunca é demais lembrar que o petróleo, tal como o conhecemos no século XX, está aceleradamente deixando de existir como fonte primária de energia barata e abundante: produto crescentemente escasso, com todos os inconvenientes de sua insustentabilidade.  

O álcool de cana é, repito, de todos os combustíveis renováveis conhecidos até hoje, a única alternativa rigorosamente viável. Incomoda sobremaneira a atual política de preços internos da gasolina que, ao descasar-se dos preços internacionais de petróleo, impõe ao etanol uma competição desleal. Na minha percepção, reside aí o principal fator inibidor de novos investimentos no setor. Ora: tal situação só pode ser conjuntural.

Não se deve perpetuar a imposição à Petrobras de perda de aproximadamente 35 centavos de Real por litro de gasolina vendido ao mercado interno. Esse é, hoje, o tamanho da diferença de preços internos e externos da gasolina. Especialmente quando a mesma Petrobras busca todos os recursos disponíveis possíveis para os enormes investimentos na necessária exploração do óleo do pré-sal.

Vale lembrar que a CIDE – o imposto regulatório criado para os combustíveis –, tem como objetivo exatamente a adequada instrumentalização de uma política clara para os combustíveis. É inaceitável que, com todas as externalidades positivas do etanol, venham-se perder as fantásticas oportunidades que ele oferece.