Podemos dizer que o setor sucroenergético, sem sombra de dúvida, vive em constante reinvenção e já passa da hora de parar de surfar ao sabor dos ventos e abalos, que literalmente consomem grande parte de sua energia e esforços, para maior desenvolvimento e consolidação. Sinto-me à vontade para falar desse tema, pois minha história de vida tem sido de uma enorme persistência para a manutenção nesse setor, desde que minha família fundou, em 1885, a primeira usina de açúcar de Minas Gerais, Ana Florência, em Ponte Nova, na Zona da Mata, região que chegou a ser uma das maiores produtoras de açúcar do País.
Desde então, não somente as usinas de Ponte Nova, de Minas Gerais, mas do País acumularam uma grande história de reinvenção, com o enfrentamento de várias crises e situações, que envolveram dificuldades extremas do plantio da cana-de-açúcar em áreas de alta declividade; alteração nas cotas de produção de açúcar, que levou ao fechamento e à fusão de várias empresas; integração ao Proálcool na década de 1970, um marco para o setor, que visou ao incentivo à produção e ao consumo de etanol, bem como à sua posterior desregulamentação na década de 1990, culminando novamente com o fechamento de várias unidades, que não conseguiram sobreviver ao livre mercado.
No início deste século, em 2003, o lançamento dos carros flex deu um novo fôlego ao segmento, alterando, substancialmente, as estratégias operacionais da atividade, até então, marcadamente, açucareira, e com baixa produção de etanol para os carros, grande parte sucateados, movidos apenas a etanol. Todas essas transformações provocaram um movimento de intensa profissionalização do setor, tradicionalmente marcado pela gestão familiar, aliado à introdução da tecnologia em todos os processos produtivos.
Porém, apesar de se reinventar ao longo de toda a sua história, e mais recentemente, norteado pela busca de maior eficiência e redução dos custos, o setor ainda luta para maior consolidação e valorização de produtos tão originais, como o etanol hidratado, anidro e a bioeletricidade, que contribuem para a redução da poluição e o combate ao aquecimento global, tão preocupantes nos dias de hoje. Mas, se podemos tirar uma lição de todas as crises e marcos, ressalto a importância da evolução empresarial na gestão dos negócios e na modernização da produção, aliada a políticas públicas que valorizem as energias renováveis e possibilitem que o consumidor usufrua de seus benefícios com maior segurança ambiental e proteção à saúde.
Cabe destacar que os governos estaduais têm sido os grandes incentivadores nesse sentido, com reduções das alíquotas de ICMS do etanol hidratado, como fez Minas Gerais, que diminuiu de 25% para os atuais 14%, gerando a maior diferença do País de 15 pontos percentuais entre as alíquotas de etanol hidratado e a gasolina. As reduções começaram a ocorrer no governo de Antônio Anastasia, que reduziu de 25% para 22%, depois para 19%, e, posteriormente, no governo do Alberto Pinto Coelho, com o apoio do atual governador Fernando Pimentel, no final de 2014, caindo ainda mais para 14%.
Para mostrar a importância desse projeto em Minas Gerais, somente três deputados votaram contra e não por causa da redução da alíquota do etanol e sim contra a alta da alíquota da gasolina, hoje em 29%. Com isso, Minas Gerais se tornou o segundo maior consumidor de etanol hidratado do país, com uma alta de quase 140% em 2015, comparado com o consumo de 2014.
A orientação do governador Pimentel é de dar todo o apoio ao setor sucroenergético, localizado no interior do estado, com 37 usinas, 121 municípios canavieiros e geração de 80 mil empregos diretos. Há muito ainda o que fazer na diminuição dos custos e aumento da produtividade, desenvolvimento maior das pesquisas do etanol de segunda geração, além de um mecanismo para precificação do produto via bolsa, a exemplo do que acontece com o mercado de açúcar.
Destacamos também a possibilidade de venda direta do produto aos postos de combustíveis, o que poderia baratear o custo do combustível limpo e renovável para o consumidor. O Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – INDI envida esforços no sentido de apoiar a reativação de algumas empresas, que entraram em processo de falência no estado. O trabalho consiste no levantamento dos custos de reativação e prospecção dos empresários que possam assumi-las, além da ajuda junto aos bancos do estado.
O instituto faz também um trabalho de atração de novas empresas para o estado, além de apoiá-las no andamento das negociações junto aos bancos, área ambiental, Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, entre outros órgãos, para maior rapidez na viabilização dos empreendimentos. Caso contrário, sem o apoio das políticas públicas de incentivo ao combustível limpo e renovável, o setor viverá de crise em crise, como ocorreu nos últimos cinco anos, da forte intervenção governamental congelando o preço da gasolina na bomba, provocando a perda de competitividade do etanol hidratado junto ao consumidor, a falência e a recuperação judicial de muitas empresas do setor.
É preciso que, a partir de agora, os empresários enxerguem um novo cenário para a produção dos combustíveis renováveis no Brasil, tendo também como suporte o acordo dos 195 países na COP 21, ocorrida recentemente na França, que decidiu por ações para limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 grau centígrado, com metas para redução das emissões de gases do efeito estufa. Isso, talvez, faça com que o setor pare de ter que se reinventar e consolide de fato uma das maiores invenções do mundo na área de combustíveis, o etanol, e na de energia, a bioeletricidade, produtos que irão fazer a diferença, se, de fato, quisermos um mundo menos poluído e mais saudável.