Sócio da PricewaterhouseCoopers
Op-AA-20
Colaboração: Francisco Brandão
O advento da crise financeira mundial e a diminuição do crédito no mercado brasileiro colocam, novamente, o setor sucroenergético como um dos mais ativos no mercado de fusões e aquisições. Se a consolidação, iniciada no setor nos anos 2005 e 2006, possuía como motivação a mudança da matriz energética mundial, atualmente, investidores institucionais e financeiros, bancos e empresas-alvo articulam-se com o objetivo de capturar oportunidades com baixo custo, ajustar seu nível de exposição e diminuir sua alavancagem.
As oportunidades vão desde greenfields sem financiamento para iniciar suas atividades, até empresas endividadas que terão de recorrer à alienação parcial ou total de suas ações/cotas. Existem mais de 150 projetos de usinas em andamento, incluindo vários que não saíram do papel e quatro pedidos de recuperação judicial, desde setembro de 2008.
Além disso, existem inúmeras reestruturações de dívida em andamento, num montante superior a R$ 5 bilhões. Apesar das diferenças, as oportunidades possuem, em sua origem, o mesmo problema decorrente da excessiva das empresas, face sua capacidade de geração de caixa, principalmente dentro do contexto atual de falta de crédito.
Independente da atratividade que cada oportunidade desperta entre as partes, a conclusão de uma transação necessitará de uma complexa engenharia financeira e não menos complexa negociação entre investidores, credores e devedor. O correto entendimento dos riscos e oportunidades envolvidos na transação determina as chances de concluí-la com sucesso.
Dentro deste cenário, o recomendável é que o processo de negociação conte com assessores financeiros e legais independentes, com o objetivo de dar transparência, equiparar o grau de conhecimento sobre a situação financeira da empresa e unificar o canal de comunicação entre os envolvidos. Os assessores devem elaborar diagnóstico, que impacte as perspectivas futuras dos negócios, incluindo:
• Análise de informações para a compreensão do quadro atual: estrutura societária; composição dos passivos existentes; composição das contingências fiscais e trabalhistas; natureza e situação dos ativos da empresa; informações de mercado; indicadores de desempenho comparativos a outros grupos do setor; contratos sociais; principais contratos comerciais; fluxo das operações, etc;
• Análise das políticas de financiamento e gestão de recursos da empresa;
• Validação das premissas operacionais, através de parâmetros de mercado, como CAPEX, rendimento de moagem, estimativa de preço futuro de açúcar e álcool e etc;
• Análise sobre alternativas para a mudança de estratégia e melhorias operacionais, identificando oportunidades de redução de custo e aumento de produtividade;
• Estimativa de dívida sustentável, baseada nas projeções de geração de caixa;
• Análise de alternativas estratégicas de reestruturação, incluindo obtenção de linhas de crédito, atração de investidores, venda, securitização ou outras formas de alavancagem dos ativos existentes ou outras que vierem a ser identificadas durante o trabalho;
• Elaboração de plano de reestruturação para a empresa, considerando sua possibilidade de aceitação pelos acionistas e negociação com os credores;
• Elaboração de projeções financeiras – de resultado, fluxo de caixa e balanço patrimonial – relacionadas ao Plano de Reestruturação, e
• Preparação de análises de sensibilidade, necessárias para entendimento dos riscos e oportunidade da operação.
O resultado apresentado no diagnóstico deve identificar ativos operacionais e não-operacionais, passivos, contingências, viabilidade do negócio, alternativas para equacionamento da dívida de forma a torná-la sustentável, vis-à-vis a capacidade de pagamento da empresa. Vale destacar que os cuidados com a sustentabilidade vêm sendo também considerados nas análises de projetos para concessão de crédito. Riscos de problemas relacionados a estas questões significam crédito mais caro.
Nossa experiência em operações de fusões, aquisições e reestruturação de dívidas indica que os cenários mais prováveis destas negociações são: venda de ativos disponibilizáveis; venda de algumas unidades operacionais - greenfields ou não, com ou sem repasse de dívida proporcional; admissão de novo acionista, e reestruturação da gestão das empresas.
As possíveis implicações destas medidas são alongamentos de prazos, covenants financeiros e não-financeiros, mudança de modelo de gestão - conselho de administração, implantação das melhores práticas de governança e influência na gestão por parte dos credores ou novos acionistas, e implantação de atividades de compliance mais rigorosas, como exemplo, necessidade de acompanhamento da operacionalização dos planos de reestruturação apresentados por parte de uma auditoria independente, visando gerar maior credibilidade e transparência no processo.