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José Mauro Coelho e Guilherme Mercês

Sócios da Consultoria Aurum Tank

OpAA83

A nova estratégia da Petrobras: entre o petróleo e o futuro de baixo carbono
A Petrobras divulgou em novembro de 2024 o Plano de Negócios 2025-2029, o primeiro sob a liderança da presidente Magda Chambriard. O documento visa orientar a estratégia da estatal para os próximos cinco anos, marcando uma nova fase para a maior empresa brasileira.

Dada a relevância da Petrobras para o setor de energia do Brasil, o Plano de Negócios funciona não apenas como um guia para a companhia, mas também como norteador para os rumos do setor energético nacional. O novo plano reflete a busca por  uma Petrobras mais robusta e diversificada, mantendo seu protagonismo no setor de petróleo e gás natural, ao mesmo tempo em que fortalece sua posição no mercado de combustíveis e amplia sua atuação em energias de baixo carbono.
 
A Petrobras prevê investimentos totais de US$ 111 bilhões para o quinquênio, um aumento de 9% em relação ao plano anterior. Todos os segmentos de negócio da companhia foram contemplados com maiores recursos financeiros, reforçando a estratégia de expansão e fortalecimento da Companhia.

O segmento de Exploração e Produção (E&P) de petróleo continua sendo o principal eixo estratégico da empresa, com investimentos de US$ 77 bilhões, o que corresponde a aproximadamente 70% da carteira total. Os US$ 34 bilhões restantes serão alocados entre os segmentos de Refino, Transporte e Comercialização (RTC) e de Gás e Energias de Baixo Carbono, refletindo o compromisso da estatal, tanto com a segurança, quanto com a transição energética.

Refino, Transporte e Comercialização:
O segmento de Refino, Transporte e Comercialização recebeu um aumento substancial de investimentos, saltando de US$ 16,7 bilhões no plano anterior para US$ 19,6 bilhões no novo ciclo. Esse crescimento sinaliza uma estratégia mais competitiva da Petrobras para fortalecer sua participação no mercado de combustíveis e reduzir a dependência externa do País.
 
A companhia planeja ampliar sua capacidade de refino de 1,8 milhão de barris por dia (b/d) para 2,1 milhões b/d, com destaque para a expansão da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca/PE, conclusão das unidades de refino do Complexo de Energias Boaventura (outrora chamado de Comperj e Polo Gaslub), em Itaboraí/RJ, e ampliação de refinarias nas regiões Sul e Sudeste. Essas iniciativas visam ampliar a oferta de produtos de alta qualidade, como o óleo diesel S10 e lubrificantes, bem como combustíveis de baixo carbono.
 
Outro destaque do novo plano é o aumento expressivo de 70% nos investimentos em logística, priorizando a remoção de gargalos logísticos e a expansão da atuação da estatal em mercados estratégicos. Nesse sentido, o plano sinaliza grande foco no atendimento ao mercado crescente do Centro-Oeste, com destaque para o projeto ambicioso de um novo duto de combustíveis ligando as refinarias de São Paulo até o coração do agronegócio em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Este é o primeiro projeto de oleoduto de longa extensão anunciado no País desde a década de 1990, marcando uma retomada dos investimentos em infraestrutura dutoviária.
 
Ainda no segmento RTC, a Petrobras retornará ao setor de fertilizantes nitrogenados, com investimentos da ordem de US$ 900 milhões. Esse movimento é estratégico para o País, dada a relevância dos fertilizantes para o agronegócio brasileiro, que hoje depende fortemente de importações.
 
Energias de Baixo Carbono:
Embora a área de E&P permaneça como o carro-chefe da Petrobras, o novo Plano reflete uma visão mais robusta para energias de baixo carbono. O segmento recebeu um aumento de 48% nos investimentos em relação ao Plano anterior, totalizando US$ 8,9 bilhões. 
 
Essa estratégia está alinhada à visão da Petrobras de permanecer com foco em petróleo e gás natural, mas ampliando sua diversificação em negócios de baixo carbono. As cadeias relevantes da transição energética priorizadas no plano são: etanol, biometano, biodiesel e diesel renovável (HVO), combustível sustentável de aviação (SAF), hidrogênio de baixa emissão de carbono, geração de energia renovável (solar e eólica), e captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS). 

Em relação ao ciclo anterior, o Plano de Negócios 2025-2029 indica um ajuste pontual na estratégia da Petrobras ao reduzir sua ênfase na energia eólica offshore e focar mais em biocombustíveis. No biorrefino, a Petrobras aposta na combinação de suas competências e ativos com a crescente demanda por combustíveis renováveis. Nesse sentido, a companhia prevê tanto adaptações no parque de refino, quanto novas unidades capazes de transformar biomassa em produtos de alto valor agregado. 
 
O Plano de Negócios prevê a construção de três plantas dedicadas à produção de SAF e HVO, que somarão 44 mil b/d (ou 2,6 bilhões de litros por ano). A unidade da RPBC (Cubatão/SP) iniciará operação em 2029, enquanto as plantas do Complexo de Energias Boaventura (Itaboraí/RJ) e da REPLAN (Paulínia/SP) estão previstas para após 2030.

As duas primeiras utilizarão tecnologia de hidroprocessamento de ésteres e ácidos graxos (HEFA), com matérias-primas como óleo vegetal e gordura animal, enquanto a planta da REPLAN empregará tecnologia alcohol-to-jet (ATJ), a partir do etanol. Além disso, a Petrobras avalia duas parcerias estratégicas em projetos de biorrefino, sendo uma com a Acelen, na Bahia, e outra com a Refinaria Riograndense, no Rio Grande do Sul.

Uma grande novidade do Plano de Negócios 2025-2029 é o reposicionamento estratégico da Petrobras no segmento de biocombustíveis, com o retorno da companhia ao mercado de etanol, o seu fortalecimento no mercado de biodiesel e o ingresso no mercado de biometano. 

Esses segmentos apresentam elevado potencial de crescimento, e a estatal os enxerga como alternativas consolidadas para a transição energética e soluções maduras na estratégia de diversificação rentável da empresa. Esse redirecionamento, entre outros fatores, certamente foi impulsionado pela sanção da Lei do Combustível do Futuro (Lei nº 14.993/2024), que traz maior previsibilidade regulatória e estabelece as condições para uma maior inserção dos combustíveis renováveis na matriz energética nacional. 
 
A Petrobras afirma que pretende ingressar nesses mercados preferencialmente por meio de parcerias estratégicas, o que tem movimentado o setor de biocombustíveis nos últimos meses. O Plano de Negócios 2025-2029 da Petrobras reflete uma abordagem equilibrada entre a necessidade de consolidar o protagonismo da empresa no setor de óleo e gás e a urgência de se adaptar a um mundo em transição para uma economia de baixo carbono. 
 
O foco principal em E&P permanece, com uma ampla carteira de projetos, mas o aumento dos investimentos nos segmentos de Refino, Transporte e Comercialização e de Energias de Baixo Carbono demonstra uma visão estratégica que alia rentabilidade e diversificação de portfólio.

Se bem executado, o novo Plano poderá consolidar a Petrobras como uma das empresas mais preparadas para a transição energética, garantindo segurança energética, enquanto amplia sua relevância no mercado global. A Petrobras é uma das maiores protagonistas da história energética do Brasil, uma referência em excelência técnica e inovação, e este novo ciclo estratégico poderá definir o papel da empresa e do País nas próximas décadas.