Assessor da Presidência do BNDES
Op-AA-11
O Brasil possui condições únicas no mundo para produção de etanol. A cana-de-açúcar é, reconhecidamente, o insumo renovável de maior potencial energético, e o Brasil possui os melhores indicadores de produtividade agrícola, em função do nível de insolação, disponibilidade de água e terras agriculturáveis. Esses fatores, associados a estudos e pesquisas agropecuárias da cana-de-açúcar, permitem que o açúcar e o álcool produzidos no Brasil tenham a maior competitividade do mundo.
Essas características permitiram ao país uma estrutura única na área de combustíveis, para o setor automotivo. Após a implantação do Proálcool, que resultou em 30 anos de experiência na utilização de álcool combustível, passamos para uma fase de mistura do etanol à gasolina, em percentual de até 25%, e, recentemente, iniciamos a fabricação de veículos flex-fuel, que permitem o uso de etanol ou gasolina como combustível.
A mistura do etanol à gasolina e a utilização direta do etanol nos motores flex só é possível em função da alta competitividade do etanol, cujo preço é bastante competitivo, quando comparado ao da gasolina. Esses fatores permitem identificar crescimento acelerado do consumo de etanol no país, pois, para surpresa de toda cadeia automotiva, com pouco mais de três anos de fabricação, os automóveis flex já representam mais de 80% dos automóveis vendidos.
Esse cenário permite identificar a enorme necessidade de novos investimentos no Brasil, para a produção de etanol, que deverá passar de 17 bilhões de litros, para cerca de 22 bilhões de litros, em 2011. Esta situação, por si só, já seria suficiente para o BNDES considerar o etanol um produto prioritário e estratégico.
Porém, dois outros fatores adquiriram enorme importância: a utilização da biomassa para geração de energia e os aspectos ambientais, que conferem ao etanol o status de opção estratégica mundial. A produção de energia elétrica, a partir do bagaço ou da palha, é fundamental para agregar valor aos projetos de usinas de açúcar e álcool.
O BNDES possui linhas de financiamento específicas para os projetos de cogeração de energia. Os estudos sobre mudança do clima e o Protocolo de Kyoto nunca estiveram tão evidenciados, como agora. A queima de combustíveis fósseis, principal gerador dos gases do efeito estufa, vem sendo combatida e é uma das principais preocupações ambientais dos governos dos principais países do mundo.
Sendo o etanol uma fonte renovável de energia, com impacto positivo para as emissões de carbono, e com preços competitivos, quando comparados aos dos derivados do petróleo, assistimos, hoje, a uma verdadeira corrida de diversos países, para incluir o etanol como fonte energética de suas cadeias automotivas. Em países com condições técnicas e econômicas para produzir etanol, a solução passa por implantar projetos agroindustriais para produção de etanol, voltados para o mercado doméstico, tanto para mistura à gasolina, como para os automóveis tipo flex-fuel.
Em países de clima frio ou sem terras agriculturáveis, o caminho passa pela importação do etanol e sua mistura à gasolina. Estudos desenvolvidos por diferentes entidades informam ser viável tecnicamente, a mistura de até 10% de etanol à gasolina. Essa solução tem ainda a vantagem de poder utilizar toda a rede de distribuição já existente nos próprios países, minimizando investimentos em tanques e bombas específicas para o etanol, nos postos de combustível.
Sua implantação pode ser imediata e o consumidor do combustível não deverá perceber diferença na condução do veículo. Poderá ter um produto mais barato e ainda estará contribuindo para a redução do efeito estufa. É importante que outros países iniciem a produção de etanol para atender ao mercado externo. Este será um produto estratégico e é fundamental que haja diversificação da oferta, reduzindo a dependência de um só produtor e tornando mais regular e estável esse mercado.
Por mais que surjam novos países produtores, o Brasil tem diversas vantagens competitivas e conhecimento tecnológico em toda cadeia produtiva, incluindo a produção agrícola, industrial, equipamentos, motores, carros flex e mistura à gasolina. Considerando as características ambientais, altamente favoráveis do etanol, os aspectos econômico-financeiros bastante competitivos e ainda o fator estratégico de reduzir a dependência energética do petróleo, concentrada em países de alto risco político, entendemos como bastante viável que os países desenvolvidos decidam pela mistura de 10% de etanol à gasolina, e certamente o Brasil vai ser o principal fornecedor desse potencial mercado, que é muito maior que toda a atual produção brasileira.
Esse cenário do mercado internacional já é uma realidade e diversas ações, envolvendo governos, produtores, investidores e instituições de crédito e fomento, vêm ocorrendo. Os financiamentos do BNDES no setor vêm duplicando nos últimos três anos, ainda focados no atendimento do mercado interno, mas temos certeza de que o etanol já está sendo discutido como commodity internacional.
Basta observar as diversas reuniões e debates internacionais, que ocorrem atualmente, e também o comportamento das exportações brasileiras de etanol, que eram insignificantes há três anos, e hoje já representam quase 20% da produção nacional. O BNDES vem acompanhando todo esse movimento, tendo classificado a cadeia do etanol como Frente Estratégica Nacional. Além de dar apoio financeiro aos novos projetos do setor, o Banco atua junto ao governo federal no desenvolvimento de estudos e programas que atendam às necessidades de P&D, capacitação de pessoal, logística e aspectos sociais e ambientais.