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Antoninho Marmo Trevisan

Presidente da Trevisan Escola de Negócios

Op-AA-25

O fim da bolha do etanol

Há cerca de três anos, o setor sucroalcooleiro e seu viés bioenergético voaram alto, mobilizando estratégias econômicas, provocando debates acalorados e ações políticas em todas as esferas governamentais. Agora, os tempos são outros. A constatação é de que a atividade voltou a pisar em terra firme depois de se imaginar em céu de brigadeiro por muito tempo.

O mundo virou-se para a produção do etanol como a salvação do planeta em médio prazo, aparentemente disposto a discutir sobre a necessidade de trabalhar com energias mais limpas para frear a incontrolável destruição do meio ambiente. Para nós, isso não é exatamente uma novidade, embora por outros motivos. O programa do etanol no Brasil, o chamado Proálcool, foi criado em resposta à crise do petróleo na década de 1970.

A preocupação inicial era encontrar um substituto ao combustível fóssil, cuja política de preço era muito desfavorável ao país em meio a uma condução hostil do produto pelas nações exploradoras de petróleo. A partir daí, o Brasil desenvolvia a matriz energética do etanol sem inibição. Muita pesquisa e polêmica sobre o resultado prático da ação marcaram essa época, já que ninguém acreditava e tão pouco apostava que um dia ela teria peso relevante na economia mundial.

Com o álcool destinado à frota veicular ganhando status internacional, terras para o plantio da cana-de-açúcar foram hipervalorizadas, usinas tornaram-se centro do sistema econômico nacional e o capital externo chegou a rodo. Em outra vertente, políticas (algumas oportunistas) foram discutidas e criadas para regular o setor em tempo de expansão. Grupos sociais trataram de reclamar das condições de trabalho dos canavieiros, que de fato eram e ainda são preocupantes. Enfim, pelos ingredientes envolvidos, o assunto tornou-se recorrente e irresistível na opinião pública.

A especulação correu solta. Falou-se de todas as circunstâncias possíveis em torno do tema. A bolha do setor sucroalcooleiro inflou até explodir alguns meses depois – a crise financeira internacional a partir de setembro de 2008 ajudou a dar mais impacto ao abalo. Ao mesmo tempo, a questão perdeu notoriedade entre os formadores de opinião, mas os destroços ainda estão por aí. O etanol continua ocupando papel importante na linhagem dos combustíveis do futuro, mas não consegue chegar perto da influência, da importância e do posicionamento geopolítico que o petróleo impõe ao mundo – não precisa ser especialista para concluir que boa parte dos conflitos que acontecem hoje no planeta envolve o controle do petróleo.

Sem contar que, indiscutivelmente, o combustível fóssil ainda liderará por décadas como matriz energética das grandes nações. Resta ao nosso álcool  mostrar ao mundo sua eficiência e capacidade como novo combustível da humanidade, com empresas mais centradas em seus objetivos, alinhados à nova realidade do mercado. Também é preciso provar sua sustentabilidade socioambiental.

Caso contrário, cairá por terra seu forte apelo de energia mais limpa e alternativa em relação à alta emissão de gás carbônico provocada pelo consumo de gasolina e óleo diesel de veículos automotores. Quando se trata de demonstrar o seu caráter sustentável, englobam-se principalmente a forma com que define as áreas de plantio da cana-de-açúcar, as relações de trabalho, modelo de colheita e benefícios à sociedade no entorno da unidade produtora.  

É bem verdade que o setor sucroalcooleiro avançou nas últimas décadas com forte participação de agentes privados e inevitáveis intervenções do Estado. Evoluiu no âmbito da produtividade, mas tropeça ainda na infraestrutura de armazenamento e transporte – um problema, aliás, de todos os setores econômicos, além da questão já citada de compromissos mais sólidos com as práticas de responsabilidade socioambiental no núcleo produtivo.

O capital estrangeiro, que abocanhou fatia expressiva do mercado – tanto na hora do boom, quanto depois que a bolha estourou, pagando preços módicos por usinas em estado quase falimentar –, deve dar impulso à internacionalização de tudo o que é produzido na área. O acesso desses grupos de fora no mercado local vai dar novo fôlego a um sistema ainda apoiado no modelo familiar empresarial e pouco profissionalizado. No entanto, isso não acoberta os prejuízos existentes na cadeia produtiva do açúcar e do álcool, principalmente de empresas totalmente nacionais do setor.

A falsa ideia de crescimento imediato sem atentar para as intempéries – esde aquelas propiciadas pelo inchaço econômico na área até as condições meteorológicas adversas – gerou incertezas que devem ser supridas neste momento, já que as previsões para o segmento são bastante interessantes. As contas favoráveis são, na verdade, quase as mesmas que existiam há três anos, mas, na época, optou-se pela especulação e euforia em torno da cana-de-açúcar. Isso acabou, e o setor se prepara para o novo momento, agora, com os pés na realidade.