O setor sucroenergético passou, e continua a passar, por mudanças de paradigmas no que diz respeito ao meio ambiente, chegando ao ponto de incorporar em seus valores e missão a produção e a comercialização sustentável, assumindo, dessa forma, as propostas da ciência e da tecnologia quanto à viabilidade econômica de uma produção com minimização do uso de recursos naturais, maximização do uso e da produção de energia, manutenção da qualidade ambiental no tocante à fauna e à flora e garantia da qualidade de vida da população do entorno das áreas de influência dos empreendimentos.
Durante muito tempo, a preocupação ambiental, da sociedade e das indústrias em geral, esteve restrita ao recurso natural água, embora se acreditasse que os recursos naturais fossem infinitos.
Na década de 1970, foram estabelecidos procedimentos administrativos pelos quais os organismos ambientais autorizavam a instalação e o funcionamento de atividades potencialmente poluidoras. Nessas licenças, surgiram as primeiras exigências técnicas direcionadas ao setor.
Como o conhecimento ambiental ainda é incipiente, estando em constante aprimoramento e construção, através do trabalho de pesquisadores e de técnicos especializados, o licenciamento ambiental no Brasil passa regularmente por atualização, como ocorrida através da Resolução Conama 237 de 1997, que gerou mudança significativa nos procedimentos, de tal forma que a licença de operação, que tinha validade indeterminada, passou a ser renovada periodicamente, com o objetivo de reavaliar as condições de instalação/operação de equipamentos e a eficácia das medidas adotadas para reduzir ou minimizar riscos e emissões dos poluentes.
Paralelamente, as unidades sucroenergéticas buscaram, voluntariamente, a certificação ambiental, como a do Bonsucro, com o objetivo de comprovar a adoção de práticas sustentáveis em toda a cadeia de produção da cana-de-açúcar, atestando o atendimento à legislação ambiental e trabalhista, a produção sustentável e a preservação da biodiversidade.
Assim, as exigências legais expressas nas licenças ambientais, a intensificação do poder de fiscalização dos organismos do estado e, ainda, as certificações ambientais voluntárias realizadas para atender a exigências dos mercados consumidores, alargaram o conceito de meio ambiente para as empresas sucroalcooleiras, provocando transformações significativas na produção.
Na área ambiental agrícola do setor sucroenergético, a modernidade encontra-se na utilização de controle biológico de pragas, na redução do uso dos agroquímicos, assim como na utilização de metodologia de aplicação e dosagem adequada de produtos menos agressivos na lavoura, pois podem causar poluição, ou, ainda, pela aplicação imprópria, acarretar a mortandade de abelhas, por exemplo, indicador biológico que tem função ecológica fundamental.
Não se pode deixar de mencionar o uso da tecnologia de satélites para a prevenção e o combate a incêndios nos canaviais, acidentais ou criminosos, permitindo monitoramento 24h em tempo real e detecção de focos de incêndio com alta precisão. Esses sistemas são complementados por equipamentos adequados e brigadas de combate a incêndio, devidamente treinadas para atendimento às emergências, evitando-se dessa forma perdas de matéria-prima para a indústria, emissão de poluentes para a atmosfera, risco de propagação de incêndio para outras áreas e para fragmentos florestais. Sinal de modernidade da indústria sucroalcooleira nessa área é a existência dos planos de auxílio mútuo, com participação ativa de usinas, visando agir rapidamente, de forma cooperada, em resposta às emergências.
Ainda na área agrícola, as certificações ambientais e as licenças ambientais exigem a comprovação de ações que visem à manutenção ou à melhoria de qualidade da flora remanescente, de tal forma a manter-se a biodiversidade florística e a qualidade dos fragmentos de vegetação, com consequente manutenção da fauna local, sendo realizados monitoramentos de fauna e flora periodicamente, comprovando, junto às certificadoras, o compromisso assumido em relação à biodiversidade.
No que tange à indústria, a modernidade está na minimização do uso de água, buscando a reutilização e o reúso de efluentes em outras operações do processo industrial, assim como a adoção de tecnologias classificadas como mais limpas. O setor assimilou as propostas de uso racional e a minimização desse recurso natural fundamental para a vida, obtendo redução significativa na taxa de captação de água, atualmente com média em torno de 0,9 m3/TC.
Em relação à manutenção da qualidade do ar, temos como principal fonte de emissão atmosférica os gases decorrentes da queima do bagaço como combustível nas caldeiras. A modernidade está no uso de equipamentos de controle de poluição atmosférica mais eficiente, como o precipitador eletrostático, que permite atender ao padrão de lançamento, bem como manter a qualidade do ar no entorno das unidades industriais.
Quando tratamos de resíduos sólidos, a modernidade está em trabalhar na busca da redução da geração de resíduos, da reciclagem do que for aproveitável e da disposição ambientalmente adequada do que não puder ser evitado ou reciclado. Os programas de aproveitamento de vinhaça e torta de filtro na lavoura buscam retornar ao solo aquilo que do solo a cana-de-açúcar retirou, estando atualmente em execução, por organismo ambiental, um estudo relacionado ao monitoramento do solo e das águas subterrâneas em áreas de aplicação
desses resíduos, visando confirmar não haver poluição decorrente dessa utilização, com acompanhamento técnico do setor. A propósito, moderno é ter, no setor sucroalcooleiro, pessoal tecnicamente capacitado na área ambiental, com conhecimento para enfrentar discussões técnicas nos mais diversos foros, participando inclusive da Câmara Técnica Ambiental, paritária com técnicos do Estado, na qual todos os assuntos relacionados a meio ambiente do setor são discutidos.
Como se pode constatar, a abrangência dos assuntos ambientais é muito grande, restando aos técnicos do setor manter programas que permitam monitorar as ações executadas em função dos licenciamentos e dos compromissos assumidos para as certificações.
Por fim, a modernidade está na existência de um sistema de gestão de crises, visando administrar situações que possam colocar o nome da empresa em risco, quer seja por acidentes, como rompimento de tanques de produtos finais/resíduos, ou incêndio com vitimas, até mesmo na resolução de questões mais simples como demandas de munícipes, de ONGs, Ministério Público, entre outras.
As ações acima mencionadas foram por nós classificadas como modernidade ambiental do setor sucroalcooleiro, exatamente por serem executadas pela maioria das unidades agroindustriais, em busca constante por uma produção sustentável de cana-de-açúcar, etanol, açúcar e eletricidade.