Gerente de Dutos, Terminais e Oleodutos da Transpetro
Op-AA-18
Vivemos um momento de transição e a quebra de alguns antigos paradigmas faz-se necessária. A indústria sucroalcooleira está em evidência e precisa adaptar-se a novas formas de trabalho. Preocupa-me, por exemplo, quando a BM&F estabelece, em seus contratos, que o álcool a ser exportado tem que ser entregue no terminal de Santos “sobre rodas”.
Nós que trabalhamos com dutos, pensamos: “aí está um paradigma que precisa ser quebrado.” Assim, começo minha explanação, falando exatamente de como os dutos funcionam. A cadeia do etanol começa na usina, vai para a empresa distribuidora, depois para os dutos, para os terminais, para os navios e para o mundo. Existem centros coletores junto às usinas, que levam o produto aos terminais de embarque e aos navios.
Muito se fala sobre pesquisa na produção, mas escuto muito pouco sobre pesquisas na área logística. É um ponto esquecido quando se fala na questão da exportação. Toda a cultura da cana-de-açúcar é voltada para o mercado interno. Precisamos lembrar que, ao colocar o produto nos Estados Unidos e na Europa, 10 a 30% do preço será destinado a pagar custos logísticos.
Temos duas diretorias. Uma responsável por operar os dutos de líquidos e outra pelos dutos de gás. São quase 8.000 km de dutos líquidos e 4.000 km de gasodutos. Até o final deste ano, inauguraremos mais um duto na Amazônia, na região de produção de Urucu, que transportará gás de cozinha até Manaus. Hoje temos treze terminais operando com etanol e dois polidutos que transportam etanol.
Percebemos que o setor não conhece a questão do livre acesso aos dutos. Eles pertencem a Petrobras e são operados pela Transpetro, mas quem quiser pode transportar por eles, assim como em uma estrada.
Por exemplo, o Terminal de Maceió é um grande exportador, principalmente de álcool químico, onde somos responsáveis por 15% das exportações brasileiras. O corredor da Replan, que já está em funcionamento em Paulínia, é um grande concentrador para o recebimento de álcool da região produtora no estado de São Paulo.
Essa facilidade já está disponível e, se alguém quiser transportar álcool por ele, já pode fazê-lo. Estamos construindo um novo corredor para escoar o produto por São Sebastião, que será o segundo ponto de escoamento da produção da região de São Paulo.
Já exportamos também por Maceió e Paranaguá. Alguns produtores do Paraná aproveitam o poliduto para transportar álcool junto com outros derivados e para distribuir a produção no Sul do Paraná e em Santa Catarina.
A história da Transpetro no transporte do etanol: Em 1976, a Petrobras criou a primeira força tarefa para estudar as operações de mistura álcool-gasolina. Em 1978, foi iniciado o sistema de distribuição com a instalação de 35 bombas de etanol, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Em 1982, a Petrobras aumentou o seu escopo e passou a atender aos mercados nacionais e internacionais de etanol. Nessa mesma época, a Petrobras concluiu os planos de transporte de etanol via costeira. Em 1997, foi encerrado o monopólio da Petrobras e criada a Transpetro. Em 2005, voltamos a trabalhar na logística do escoamento de álcool, que esteve um pouco parada, devido à baixa produção no país. Desde 1976, transportamos etanol em dutos, um trabalho único no mundo.
Constantemente, recebemos visitas para conhecer como desenvolvemos este sistema de logística. Com relação ao volume de etanol transportado por polidutos, em 1997, chegamos a 3 milhões de m³, representando 21% do volume total transportado. Se compararmos com os volumes de hoje, menos de 500 mil m³, representando 2% do volume total, podemos observar o grande potencial disponibilizado ao transporte de álcool.
Ainda em 2010, planejamos atingir 2 milhões de m³, representando 6% do volume total, entre 3 e 3,5 milhões, em 2011; e, acima de 4,5 milhões, em 2012, o que representará algo ao redor de 11% do volume total transportado. Em 1997, o etanol representava quase 70% dos produtos transportados por poliduto no Corredor Rio de Janeiro, chegou quase a zero em 2003, hoje representa 40%, e planejamos que até 2012 dediquemos 100% dessa facilidade ao transporte de etanol.
O sistema Osrio e Osplan vai de Paulínia ao Rio de Janeiro, tem 16 polegadas de diâmetro, soma 525 quilômetros de comprimento e transporta anualmente cerca de 55 mil metros cúbicos de etanol. O Opasc, com 10 polegadas e o Osvat, com 22 polegadas, têm, 270 e 100 quilômetros, repectivamente, e transportam, cada um, 30 mil metros cúbicos de etanol ao ano.
Os sistemas Obati mais o Opasa, levam produtos para Barueri, têm 14 polegadas, juntos, somam 250 km, e transportam anualmente 10 mil m³. O Osplan tem um segundo segmento na linha para o Rio de Janeiro, com 160 km de comprimento e 24 polegadas de diâmetro; transporta, aproximadamente, 8 mil m³ de etanol. O sistema Olapa, com 12 polegadas de diâmetro, 100 km de comprimento, transporta anualmente cerca de 3 mil m³ de etanol. Esses são os principais dutos utilizados no sistema para o transporte de etanol.
A experiência da Transpetro: Estamos trabalhando em uma vasta gama de assuntos relacionados ao etanol, como a garantia da contaminação “água zero” e a adequação do seqüenciamento de bateladas nos dutos - no qual o etanol anda junto com gasolina e diesel.
Outra questão que tem exigido grande cuidado é o controle de corrosão – o transporte do etanol por dutos foi muito questionado, principalmente, pelos americanos, com a alegação de que ele causaria sérios danos ao sistema.
Operamos há 30 anos e nunca tivemos problemas em nossos dutos. Mas, de qualquer forma, o Centro de Pesquisa da Petrobras detectou que, ao contrário do etanol de cana, o etanol de milho causa, realmente, problemas aos dutos.
Na linha da busca da garantia da não contaminação, trabalhamos também no desenvolvimento de tetos e coberturas para os tanques existentes. Buscamos ainda soluções para o gás inerte para tanques, em razão do aumento da acidez no transporte em navios de maior porte.
Trabalhamos também no desenvolvimento de operações de mistura, no manuseio e tratamento de interfaces, e nas necessidades especiais de combate a incêndio, compatibilidade dos materiais, dentre outras ações.
Logística para a exportação do etanol: Temos uma grande competitividade na produção de etanol. Entretanto, é necessário que consolidemos um sistema de transporte confiável, eficiente e tecnologicamente atualizado, para que nos livre dos engarrafamentos em estradas e portos e reduza os custos reais para fazer o produto chegar ao mercado final. Isso vale para o Brasil e para todos os outros países que queiram começar a produzir o etanol.
Estamos trabalhando também em grandes projetos na Hidrovia do Tietê, navios e em terminais no exterior. Com o objetivo de dar maior segurança de fornecimento ao consumidor, a Petrobras comprou duas refinarias, uma em Pasadena e outra, mais recentemente, no Japão - que é, na realidade, um terminal com uma refinaria anexa.
Utilizaremos estes dois sistemas para nossa logística de criar estoques junto ao consumidor e garantir três quesitos. Em primeiro lugar, o consumidor quer ter certeza que trocará sua matriz energética por um produto que manterá a competitividade. Em segundo, o consumidor quer ter a garantia de que a sua produção é sustentável e que não esteja vinculada a problemas ambientais e trabalhistas. E por último, o consumidor quer ter a segurança de que o suprimento é confiável.
Muitas vezes, não consideramos a questão da segurança energética, mas sabemos o quanto custou ao Brasil a falta de energia. Os outros países estão muito conscientes disso e pensarão muito, antes de mudar a sua matriz energética. Colocar um sistema de armazenamento junto no país consumidor, dá a ele uma tranqüilidade maior de que o produto estará ali quando for preciso.
Estabelecemos algumas linhas mestras para a consolidação da nossa estratégia. No que se refere à estruturação de uma maior competitividade, estamos instalando terminais marítimos e navios de grande porte. Para a garantia de suprimento no serviço porta a porta, estamos buscando disponibilizar grandes volumes nos locais de consumo. Para a redução dos custos logísticos, planejamos uma maior utilização do sistema de dutos.
Temos três corredores de exportação. O de São Paulo – que se inicia em Senador Canedo, Araçatuba e Oeste do Estado, na divisa com o Mato Grosso, incluindo o sistema hidroviário, que descerá para São Sebastião, com capacidade instalada prevista de 12 milhões de m³. O do Rio de Janeiro, com capacidade instalada de 4 milhões de m³. O corredor Sul, que sairá por Paranaguá, com capacidade para 4 milhões de m³. Totalizando, em 2015, um volume de 20 milhões de m³.
Um sistema muito interessante a ser implantado em macrorregiões produtoras de etanol, com grande concentração de usinas é o conceito da Coleta Dutoviária de Produção, que é a interligação das usinas por dutos, utilizando material plástico, formando uma malha, ligando a rede a um duto troncal. Esse sistema é muito utilizado na indústria de petróleo que tem campos de produção muito espaçados.
O campo de Urucu, por exemplo, é, na realidade uma área de, aproximadamente, 50 km de raio, onde temos todos os pontos interligados a um duto troncal, que leva ao terminal. Trata-se de um projeto que poderá ser utilizado na região de Ribeirão Preto, devido à grande concentração de usinas, bem como nas novas regiões das fronteiras de expansão - nas quais estão sendo planejadas a instalação de complexos de usinas próximas, para baratear o custo da logística da usina até o alcoolduto.