Diretor da Chaves Planejamento e Consultoria
Op-AA-28
Quanto custa produzir uma tonelada de cana? As dificuldades encontradas nas últimas safras foram inúmeras, donde se torna difícil uma resposta adequada a essa questão. Preços aviltantes para a cana, graves adversidades climáticas com frustrações de safras, aguda crise financeira de 2008 constituíram, entre outros, os fatores que abalaram a rotina do processo produtivo, ocasionando elevações de custos nesses últimos anos.
Não esqueçamos os projetos recém-implantados, ainda em fase de ajuste operacional. Nesse contexto de turbulência, talvez pudéssemos refazer aquela pergunta, de uma forma inversa: quanto deveria ser o nosso custo de produção à luz dos preços praticados pelo mercado?
Relembremos que a cana é paga pela quantidade de açúcares (açúcares totais recuperáveis ou, simplesmente, ATR) contida nessa matéria-prima destinada à produção sucroalcooleira. Pelas regras do Consecana, que norteiam os cálculos para valorização da cana, os preços da ATR oscilam na mesma proporção das variações havidas nos preços dos produtos finais, açúcar e etanol.
Assim, eis o melhor dos mundos para produtor de cana: conseguir ótima produtividade de ATR por hectare colhido e obter excelentes preços para a sua produção. É o momento de perguntarmos: que preços o mercado tem proporcionado para o setor nos últimos anos? O ano-safra 2010/11 demonstrou para o estado de São Paulo um preço médio equivalente a R$ 0,4022 por kg de ATR (fonte: Consecana).
Como simples comparativo, considerando os dez últimos anos-safras, encontramos algo próximo a R$ 0,37 por kg de ATR como preço médio, a valores de março/2011 (fontes para esses cálculos: circulares Consecana e índices IGPM da revista Conjuntura Econômica, da FGV, para atualização dos valores).
Portanto houve, sim, alguma recuperação de preços para o setor em 2010/11. Em tempo: poderíamos admitir como extrapoláveis esses patamares de preços para os demais estados da região Centro-Sul.
Posto isso, qual seria a remuneração por tonelada de cana? Dependerá do teor de ATR contido na cana, claro. Considerando uma concentração média de açúcares equivalente a 145kg ATR/t cana, encontraríamos um preço igual a R$ 53,65/t cana (para o preço médio “histórico” da ATR igual a R$ 0,37/Kg), o qual subiria para R$ 58,32/t cana se o cálculo se baseasse no preço médio da ATR relativo ao último ano-safra paulista.
Nossas pesquisas realizadas com usinas da região Centro-Sul mostram que os seus custos, na média, nos últimos anos, têm se posicionado algo acima dessa faixa de preços. É forçoso relembrar as dificuldades citadas no início desta matéria, afetando negativamente a performance dessas empresas.
Mas há exceções. Assim, consideremos dois patamares de custos e produtividade, com base em nossas observações nessa região. Há um estrato de empresas que, por motivos diversos, tem superado, pelo menos em parte, tais dificuldades: demonstra custos bem administrados para o seu processo produtivo e obtém bons índices de produtividade (por exemplo, 88t/cana/ha-corte).
Segundo nossas análises, estaria esse grupo de usinas conseguindo produzir cana a um custo próximo a R$ 52,00/tonelada. Portanto, no confronto com os preços citados, estaria obtendo uma ligeira margem positiva. Mas não é raro – muito pelo contrário – encontrarmos empresas produzindo cana a custos algo mais elevados, inclusive pelas dificuldades citadas.
Combinando essa condição com uma produtividade menor (por exemplo, 82t/cana/ha-corte), o custo unitário de produção dessas empresas alcançaria R$ 63,00 por tonelada de cana. Ou até mais, dependendo das circunstâncias. Ou seja, configurando uma situação de prejuízo. Ressalte-se novamente: são usinas localizadas na região Centro-Sul.
Nesse contexto, esperar que a recuperação do mercado prossiga firme e favorável? Ou envidar esforços para tornar nossas empresas mais competitivas? A lógica manda concentrarmos todos os esforços na segunda alternativa, uma vez que os humores do mercado estarão fora de nosso controle.
A receita para a melhoria dos resultados é simples: produzir mais açúcar por hectare colhido e a menores custos. Mas como? Providenciando um amplo leque de medidas, que abrange o aperfeiçoamento da gestão do negócio, substituição de práticas agrícolas por outras mais eficientes, desenvolvimento de programas de treinamento e motivacionais para a equipe, adoção da melhoria contínua via adoção do benchmarking, etc.
E ainda exigir das diversas instituições fornecedoras de seus fatores de produção: variedades de cana mais produtivas e resistentes, equipamentos mais aprimorados e com melhor performance, principalmente para as fases de plantio e colheita e assim por diante. E, se de fato o leitor partir para este processo de busca de fortalecimento da empresa, considere esta recomendação final: seja humilde, porque “sábio é quem recolhe a sabedoria dos demais” (Juan Guerra Caceres).