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João Crisóstomo Simões Rodrigues e Aníbal Pacheco de Almeida Prado

Diretores da Saccharum Consultoria

Op-AA-05

Raízes: cuidados necessários para o seu crescimento

Dentre todas as etapas que envolvem o planejamento de implantação da lavoura canavieira, a análise das características químicas e o conhecimento das condições físicas do solo em exploração são as que mais requerem atenção. Isto porque, o desenvolvimento do sistema radicular deve ser o centro das atenções da implantação, pois sendo profundo e desenvolvido, irá prover a planta de água e nutrientes, que serão traduzidos em alta produtividade.

No entanto, nem sempre se chega a esse objetivo, pois os resultados das análises de solo não são corretamente interpretados e não se supre adequadamente o solo de fósforo; a correção do solo não atinge os objetivos propostos de suprir de cálcio e magnésio as camadas subsuperficiais e neutralizar, se houver, o alumínio; e a profundidade de preparo não é a ideal, pois não rompe as camadas compactadas do solo.

Diante de um resultado como este, pode-se inferir que é um solo que foi trabalhado em sua camada superficial, pois os níveis dos elementos são maiores que nas demais profundidades, sendo esse um exemplo típico de solos que são explorados por culturas anuais, e que cada dia mais vêm sendo explorados com cana-de-açúcar. Assim, um programa de recuperação desse solo tem que ser feito, pois a cultura da cana tem um sistema radicular que exige uma camada mais profunda, em condições de exploração.


Muito importante na interpretação da análise é observar, além dos teores dos elementos individualmente, observar também a sua relação no complexo de troca, pois isso ajuda a visualizar o ambiente do futuro sistema radicular. Dentro do programa de recuperação desse solo, a aplicação de calcário e gesso é fundamental e deve ser feita em pré-plantio, sendo a quantificação do calcário feita pela fórmula de saturação de bases, e a do gesso, quantificada pela relação entre a CTC e V% (desenvolvida por Demattê 1986), observando-se os valores das camadas mais profundas.

A maior solubilidade do gesso suprirá a necessidade de cálcio nas camadas subsuperficiais, onde o alumínio é predominante, havendo uma diminuição deste pela sua complexação, pelo íon sulfato, enquanto o calcário fará a neutralização do alumínio, até a profundidade que ele atingir. Dessa forma, o gesso, temido em determinadas regiões do Brasil pelos seus supostos malefícios, pode e deve ser empregado sem medo, mas sempre tendo critério na determinação da dose, não se podendo esquecer ainda que é um grande fornecedor de enxofre para a cultura.

Um acompanhamento a cada dois anos deve ser feito nas canas socas, com análise de solo, para avaliar o efeito desse trabalho e, na maioria das vezes, numa cultura bem estabelecida, já após o segundo corte, uma nova calagem e gessagem é requerida pelo solo. Fica a pergunta: onde foram o calcário e o gesso aplicados no pré-plantio? Foram para extração e lixiviação, e a atenção sempre deve estar voltada para o suprimento deles à cultura.

Ainda o fósforo é de grande importância no sistema produtivo e, via de regra, solos com teores de fósforo menores que 10 ppm e com teores de argila menores que 25%, requerem uma fosfatagem que deve ser feita utilizando o produto solúvel que menor custo por ponto de P2O5 estiver no mercado. Por fim, vem a adubação de fundo de sulco, que deverá obedecer as tabelas existentes e vem mostrando boa correlação com a produção.

Com relação à profundidade de preparo do solo, as pressões exercidas pelo tráfego, mais a umidade, causam redução da porosidade, aumento da densidade, redução da aeração e maior resistência à penetração das raízes. Assim, um exame em profundidade da camada compactada deve ser feita, com a abertura de trincheiras, para determinar exatamente a profundidade de subsolagem, que é visual, pois ainda a pesquisa não definiu as densidades críticas para o desenvolvimento radicular para os diferentes tipos de solo.

Muitas vezes, a subsolagem, que é uma operação de alto custo, não atinge a camada compactada, o que faz com que as raízes fiquem confinadas na região do sulco, desenvolvendo-se pouco, com menor capacidade de suprir a planta em água e nutrientes. Após a subsolagem, uma nova trincheira deve ser aberta para verificação do resultado da operação. Apesar de ser um método trabalhoso, pois as áreas de plantio das usinas são grandes, justifica-se seu uso pela importância da operação, no que diz respeito a sua eficiência e custo.