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Sabrina Moutinho Chabregas

Gerente de Pesquisa Tecnológica do CTC

Op-AA-32

Variedades transgênicas de cana-de-açúcar

Com o constante aumento da população mundial, a demanda por alimentos e energia é crescente. Uma vez que não é possível aumentar o tamanho do planeta, essa demanda gerada deve ser atendida pelo desenvolvimento tecnológico que garanta uma maior produtividade das culturas agrícolas na mesma área cultivada.

Esse desenvolvimento tecnológico agrícola, capaz de garantir saltos em produtividade, vem sendo alcançado com base na biotecnologia aplicada ao melhoramento genético das culturas. Culturas como milho, soja e algodão já desfrutam desse benefício e apresentaram aumentos de produtividade expressivos nos últimos 10 anos, decorrentes da aplicação da transgenia.

A adoção da tecnologia de transgenia no mundo cresceu cerca de 90 vezes nos últimos 15 anos. Esse grau de adoção é extremamente elevado e reflete o benefício gerado pelas cultivares transgênicas.

Temos, hoje, no Brasil, cerca de 85% das lavouras de soja ocupados por soja transgênica; 70% do milho cultivado é transgênico e ao redor de 30% do algodão. Esses dados colocam o Brasil na posição de segundo maior produtor de culturas transgênicas do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Em outros países, essa tecnologia já está sendo empregada em outras culturas, como mamão, canola e outras espécies vegetais.

No Brasil, além da soja, milho e algodão transgênicos liberados para plantio comercial, temos também um evento de feijão transgênico resistente a vírus. A cana-de-açúcar não pode ficar de fora desse desenvolvimento.

A cana é a matéria-prima ideal para produção de açúcar e etanol, além de poder ser queimada para geração de energia nas usinas. Ela garante um balanço energético extremamente favorável. Melhor que isso, é um importante “patrimônio nacional”, uma vez que o Brasil é o maior produtor de cana do mundo.

Uma cultura dessa importância justifica, por si só, investimentos para desenvolvimento tecnológico que gerem aumento de produtividade e garantam a posição competitiva do Brasil no que diz respeito a sua matriz energética.

Hoje, todas as variedades de cana-de-açúcar liberadas comercialmente, tanto no Brasil como em qualquer país do mundo, são provenientes de melhoramento genético convencional, baseado em cruzamento e seleção de novas combinações genéticas, que dão origem às novas variedades. A transgenia ainda é aplicada somente em pesquisa.

Em 1994, o CTC desenvolveu a primeira variedade transgênica do Brasil. De lá para cá, realizou projetos de pesquisa testando diferentes genes e novas metodologias de transgenia, provando que a transgenia é possível em cana-de-açúcar. Hoje, o CTC desenvolve projetos para liberação de uma variedade de cana transgênica comercial. Para isso, realizou parcerias com importantes empresas na área de biotecnologia, como a Basf e a Bayer.

Estamos trabalhando para desenvolver variedades de cana transgênicas mais produtivas, com maior teor de açúcar e tolerantes à seca. Essas variedades devem chegar ao mercado em breve e irão gerar inúmeros benefícios ao setor sucroenergético brasileiro.

Para atingir esses objetivos, o CTC tem direcionado investimentos na área de biotecnologia e possui a vantagem de já ter um forte programa de melhoramento convencional muito bem estabelecido. As variedades convencionais de cana são a base do desenvolvimento da transgenia. Com boas variedades, é possível gerar bons transgênicos.

A aceitação pública desse tipo de tecnologia também aumentou nos últimos anos. No início dos desenvolvimentos de culturas geneticamente modificadas, uma parte da população não tinha informação a respeito e acabava se posicionando contrária à tecnologia. No entanto, hoje, a situação é muito diferente, o consumidor entende o benefício que a transgenia gera para o produtor e para o meio ambiente.

Milhões de litros de água e combustível deixam de ser usados nas lavouras devido à diminuição dos tratos culturais necessários nos plantios transgênicos. Além disso, os benefícios de aumento de produtividade estão diretamente relacionados à preservação de áreas de expansão da agricultura.

Além do aspecto técnico, o processo de desenvolvimento de uma variedade transgênica também envolve uma série de análises de biossegurança.

A CTNBio, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, regulamenta os trabalhos com organismos geneticamente modificados no Brasil. Essa é uma comissão técnica extremamente séria e composta por pessoas gabaritadas, subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. O Brasil criou, ao longo dos últimos 10 anos, uma base bastante sólida que garante o desenvolvimento tecnológico, sem riscos adicionais à saúde humana, animal e ao meio ambiente.

A credibilidade da CTNBio e o benefício gerado pelas culturas transgênicas se refletiram na rápida adoção da tecnologia no campo.

Evidentemente, a adoção de uma nova tecnologia não aconteceria tão rapidamente se ela não garantisse vantagem para o produtor. Ao lado disso, temos a garantia adicional de que não existe no Brasil nenhum outro produto  que seja tão testado antes de seu lançamento comercial do que um produto transgênico.

Não é nem será diferente com a cana-de-açúcar. No CTC, temos uma área de regulamentação que garante que estamos seguindo todo o processo corretamente, realizando todos os testes em laboratórios certificados, sob rigorosa inspeção de órgãos do governo, com descarte apropriado, enfim, atendendo às exigências para garantir a sanidade, como também assegurar a qualidade agronômica de nossas variedades transgênicas.

Em pouco tempo, não é difícil prever, assim como aconteceu com a soja e com o milho, teremos variedades transgênicas de cana sendo plantadas comercialmente, adaptadas a diferentes regiões brasileiras. Serão, certamente, variedades mais produtivas e com menor custo de produção agrícola.

Com os investimentos projetados e o foco em desenvolvimento da biotecnologia que o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira,  está realizando, esse dia não demora a chegar. Todos os resultados obtidos até hoje indicam que estamos no caminho certo, e, em breve, a agroindústria da cana-de-açúcar se beneficiará de variedades de cana transgênica, agregando valor ao negócio e ao meio ambiente.