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Marcos Fava Neves

Professor Titular da FEA/USP e Professor visitante internacional da Purdue University, EUA

Op-AA-39

Carregando e transportando o Brasil

As cadeias produtivas do agronegócio em 2013 seguiram fortemente no seu caminho de carregar o nosso país, produzir e gerar renda, empregar para distribuir renda e contribuir para a economia brasileira. O valor bruto da produção do agro brasileiro chegou a R$ 470 bilhões, 11,3% maior que em 2012. Desse total, cerca de 66,5% referem-se à agricultura, e os 33,5%, à pecuária. Renda gerada que moveu inúmeros outros setores econômicos do que chamo de... Brasil-chinês, o Brasil do agro.

As exportações encostaram em US$ 100 bilhões, 4,3% acima de 2012. As importações também cresceram 4%, chegando a US$ 17 bilhões, o que proporciona um incrível saldo de US$ 83 bilhões em 2013. Vale dizer que a China comprou do Brasil US$ 23 bilhões só em comida. Nossa deteriorada balança comercial fechou o ano com saldo de pouco mais de US$ 2,5 bilhões, o pior resultado desde 2000. As exportações do setor sucroenergético caíram quase 9% de 2013 a 2012 e totalizaram US$ 13,72 bilhões.

O governo só não jogou o País para déficit na balança devido à criativa operação de se exportarem as plataformas de petróleo que nunca deixaram o Brasil. Só isso gerou US$ 7,7 bilhões em “exportações”.  Os números de 2013 mostram que, na conta petróleo, nosso déficit foi de US$ 22 bilhões, contra US$ 5,6 bilhões de déficit em 2012. É fruto do apagão que contamina esse governo na área de energias renováveis, em que se optou por destruir a indústria da cana, tal como em Cuba, para favorecer as importações de gasolina, uma tragédia há anos amplamente anunciada pelos ignorados cientistas brasileiros.

Ao mesmo tempo em que investimos em Cuba, foram estimadas em cerca de R$ 4 bilhões as perdas dos exportadores em 2013 com as ineficiências na infraestrutura logística brasileira. Esses bilhões sumiram dos bolsos dos produtores, exportadores, donos de pizzaria e imobiliárias, entre outros. É uma perda não apenas do agro, mas de toda a sociedade brasileira. Recursos que foram para o ralo.

Segundo a Unica, em 2013/2014, a moagem foi de 596,2 mi t no Centro-Sul, 12% maior que em 2012/2013. A produção de açúcar cresceu 0,57%, para 34,277 mi t e o etanol cresceu 19,52%, um total de 25,51 bilhões de litros, sendo 11,03 de anidro (19,52% maior) e 14,48 de hidratado (16% maior). O mix foi de 45,25% para açúcar e 54,75% para etanol. Em relação às perspectivas devido à seca, estimativas começam a aparecer e não são animadoras. Fala-se em 570 a 580 milhões de toneladas. O fato é que foi mais um golpe no combalido setor sucroenergético.

Em relação às perspectivas, estas continuam promissoras. Começando pelo que se passa no mundo, a AIE (Associação Internacional de Energia) divulgou seu relatório World Energy Outlook, segundo o qual consumiremos (mundo) 15% a menos de petróleo e 12% a menos de carvão em 2025. Crescerá o consumo de gás natural (11%) e energia nuclear (25%).

A boa noticia é que se estima que as fontes renováveis de energia crescerão 33% no período, indo de 13,2 para 17,6% da matriz energética mundial. O açúcar também deve melhorar, pois a OIA já fez uma previsão de que, no ciclo 2014/15, pode haver déficit de produção de 2 milhões de toneladas, e, segundo a Datagro, a safra 2014/15 de cana, que termina em 30/09/15, terá déficit de 1,6 milhão de toneladas. Primeira vez em cinco temporadas. Já existem analistas americanos dizendo que o açúcar pode ser a próxima commodity a subir. O etanol também está, em 2014, em outro patamar.

Em 2013, exportamos 2,9 bilhões de litros de etanol, arrecadando US$ 1,87 bilhão. Indícios internacionais mostram um maior uso de etanol em muitos países produtores de cana; os EUA começam a mostrar que pode haver continuidade da política de biocombustíveis na forma como foi desenhada em 2007. Portanto nossas exportações devem continuar. No mercado interno, a pressão continuará grande. Segundo a Bioagência, entre 2009/2010 e 2013/2014, o consumo de gasolina no Brasil cresceu 56%, indo de 26,8 para 41,8 bilhões de litros. Já a demanda do hidratado caiu de 15,6 para 10,9 bilhões de litros.

Já para a Archer Consulting, consumimos, em 2013, 5,85% a mais de combustíveis no Brasil, sendo 39,2% etanol. Estima para a safra 2014/2015 que consumiremos 22,9 bilhões de litros de etanol e 32,4 bilhões de litros de gasolina. A venda de etanol pelas usinas em janeiro foi de 2,2 bilhões de litros, 8,4% a mais que em janeiro de 2013, dos quais, 96% foram para consumo doméstico.

Segundo o Sindicom (agrega 60% do mercado), vendendo 695 milhões de litros de hidratado, 37% acima de janeiro de 2013. De gasolina foram vendidos 2,64 bilhões de litros. Chama a atenção que esse consumo é quase 8% maior que o ano passado. Já está em trâmite no governo uma solicitação do setor para aumentar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 25% para 27,5%, e, com isso, consumir mais 1 bilhão de litros de anidro. Vale ressaltar que essa ação pode tirar até 2 milhões de toneladas de açúcar do mercado mundial. Mais uma vez, o fator que pode alterar o quadro é o mix de produção açúcar e etanol, a esperança é que o consumo de etanol cresça, ao longo do ano, graças a um maior preço da gasolina e, com isso, se consuma cana saindo do mercado do açúcar.

Também na questão da eletricidade, temos nova crise. As térmicas, em fevereiro, estão em pico histórico de produção, fornecendo praticamente 19% da energia do País. Resta saber o custo que isso terá para a sociedade brasileira. Poderia ser evitado, se a cogeração a partir do bagaço de cana tivesse sido estimulada. Isso nos dá um alento que o desenho de uma política pública firme para a cogeração de eletricidade a partir do bagaço da cana possa sair.

O triste é que a nossa logística continua devagar. Segundo editorial de O Estado de S. Paulo de 13 de janeiro, poucos projetos do governo conseguiram sair do papel, e a safra 2013/2014 sofrerá dos mesmos problemas da anterior. A sofrível gestão do pesado e complexo Estado e a decorrente explosão do gasto público deixaram nosso governo sem margem para reduzir sua fúria arrecadatória (impostos) e para investir mais no que o País precisa, que é a questão da educação, da saúde e da infraestrutura. Nada indica que reformas serão feitas, resta torcer por mais privatizações, como as que aconteceram recentemente em infraestrutura.

O fato é que teremos um ano muito interessante, em que a safra é menor, o consumo de etanol é sensivelmente maior, e o açúcar pode ainda dar uma virada de aumento de preços. Será interessante acompanhar. Teremos também eleições, e ampla oportunidade para discutir os problemas desse setor que é o carregador do Brasil, o transportador da nossa nação, e apresentar a agenda aos candidatos, que, pelo que já vi, estão namorando o agronegócio e o setor de cana, que terão que ouvir e com que se comprometer. Acredito fortemente que 2014 possa ser o ano da nossa virada definitiva, tanto do País quanto do setor de cana, e lutarei fortemente por isso.