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João Evangelhista da Costa Tenório

Presidente do Grupo Triunfo

Op-AA-10

Centro-Sul ou Norte-Nordeste? Qual o rumo seguir?

Nota-se, nos últimos tempos, uma razoável migração de empreendimentos sucroalcooleiros do Nordeste, rumo ao Centro-Sul. Este trajeto merece reflexões, suscita questionamentos e causa alguma surpresa aos menos avisados. Afinal, o que está acontecendo? Primeiro, vale a pena repetir o que a maioria já sabe: não existe mais capacidade de expansão física para os tradicionais perímetros da cana-de-açúcar no Nordeste.

O incremento através da tecnologia e o conseqüente aumento da produtividade têm sido o dever de casa a ser respondido primeiro e não há como fazer mágica, além de acompanhar e implementar os avanços tecnológicos contemporâneos. Vivemos um processo, no qual, além do aumento de produtividade, ocorre uma nítida expansão das áreas físicas da cultura e das unidades industriais. Estão os alagoanos rumando para o Centro-Sul, interiorizando-se, com sucesso, pelos municípios de MG, MT, GO e até SP.

Daí advêm uma primeira e fundamental avaliação: desfaz-se o mito de que o empresariado nordestino seria menos capaz. Sem quaisquer privilégios, seguindo rigorosamente as implacáveis leis de mercado, os do Norte estão triunfando noutras regiões (inclusive SP), e conquistando o bem-querer e a admiração de todas as comunidades – e particularmente do empresariado local – nos estados onde chegam.

Mas por que os empresários nordestinos não estão a se expandir para outros estados de sua própria Região? Afinal existem vastas áreas propícias para o cultivo da cana no MA, CE e PI, dentre outros. Região carente de novos empreendimentos (especialmente daqueles voltados para a absorção de uma mão-de-obra não-espe-cializada), o Nordeste poderia deslanchar mais em sua vocação para a cana-de-açúcar.


Por que o vetor de migração empresarial aponta para o Centro-Sul? Isto acontece porque existem distinções ambientais que fazem a diferença. O nível de produtividade disponibilizado pelo solo e clima nordestino (apesar de bom do ponto de vista global) não chega perto dos apresentados pelas áreas do Centro-Sul (C-S). Triplicou, no Centro-Sul, a produção da cana-de-açúcar entre 1983 e 2006; no mesmo período, permaneceu estática no Norte-Nordeste (N-N).

Na safra de 1981/82, o C-S compareceu com 68,7% e o N-N com 31,3%, do total da produção brasileira. Nesta safra de 2005/06, o placar favorável ao C-S pulou para uma verdadeira goleada: 87,3% x 12,7%.

Seria por desequilíbrio de competência entre empresários destas duas regiões? Relembrando: essa suposição é desmentida pelo sucesso dos nordestinos em sua jornada para a própria região C-S.

Note-se que não houve queda na produção bruta do N-N: na safra 1983/84, foram 50,2 milhões de toneladas; dez anos depois, em 2003/04, contabilizou-se 60,01 milhões de toneladas. O mercado aponta, inexoravelmente, para o C-S, apesar dos corações e mentes dos empreendedores nordestinos continuarem voltados também para a sua região de origem, até porque a multiplicação de empreendimentos no N-N é vital para a cidadania econômica e social brasileira.

Gostaríamos de levar novas alternativas de geração de emprego e renda ao Norte, mas isso só será viável com políticas públicas de compensação das disparidades naturais, garantindo, através de subsídios de equalização, níveis razoáveis de competitividade para o setor. Isto não é estranho ao Brasil, nem a nenhum País que almeje o desenvolvimento sustentado - e praticamos isso há décadas, com os incentivos que dão sustentação às indústrias automotivas concentradas no C-S.

O futuro reserva ótimas oportunidades para a cana-de-açúcar. Estão aí as demandas alimentares e está na nossa frente a crise dos combustíveis de origem fóssil. O Brasil tem todas as condições de apostar num expressivo salto em nossa produção sucroalcooleira (e de outras fontes renováveis de energia). Há espaço para ampliação dos investimentos no C-S e, concomitantemente, no N-N. Mas, isto não se dará espontaneamente.

Insisto: para se equilibrar a equação do desenvolvimento sustentado e integrado, precisa-se de instrumentos complementares, que atenuem a diferença insuperável entre as produtividades regionais. Não estamos falando de assistencialismo social, nem muito menos de protecionismo empresarial.

Falamos em competitividade brasileira nos mercados globais de alimentos e de combustíveis renováveis. Falamos de explorar ao máximo nossos distintos potenciais de crescimento econômico e nossas díspares condições edafoclimáticas. Falamos em não excluir o Nordeste da festa dos biocombustíveis. No avanço da produção da cana-de-açúcar na região C-S estão contidos o esforço e o capital de boa parte dos empresários do N-N.

Soubemos migrar, sem abandonar nossa região, estamos sabendo contribuir para multiplicar a produção brasileira e queremos ampliar nossa parceria com o desenvolvimento do N-N. Pela via dos projetos de desenvolvimento nacional sustentado e integrado regionalmente, descobriremos que o sentido C-S não é a única opção; e poderíamos facilmente multiplicar a produção sucroalcooleira no N-N. Se isso acontecer, será bem melhor para todos.