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Márcio Henrique Venturelli

Consultor de Automação e Digitalização Industrial e Coordenador do Instituto SENAI de Tecnologia

OpAA85

Convergência entre Tecnologias da Operação e Tecnologia da Informação
Indústria 4.0 e a revolução na cadeia sucroenergética: 
A Indústria 4.0 representa a convergência entre tecnologias físicas e digitais com o objetivo de criar ambientes produtivos autônomos, inteligentes e integrados. No setor sucroenergético, a adoção desses princípios torna-se essencial para enfrentar desafios de eficiência, disponibilidade e segurança. A digitalização das usinas é um passo fundamental para alcançar essa nova realidade, pois permite a coleta, o tratamento e a utilização estratégica de dados para a tomada de decisões em tempo real, de forma assistida e autônoma.
 
O desafio da convergência TO-TI: a base para a digitalização: 
A Tecnologia da Informação (TI) tem como foco a gestão de dados, informação e segurança digital, enquanto a Tecnologia da Operação (TO) atua diretamente no controle, automação e execução de processos industriais. Apesar de suas funções distintas, a convergência entre essas duas áreas é um passo inicial crucial na jornada de transformação digital. 
 
Essa união permite o fluxo contínuo de dados da planta até os sistemas corporativos, possibilitando a criação de ambientes inteligentes e integrados. O maior desafio, entretanto, está na superação das barreiras culturais, tecnológicas e de governança.

Construção do roadmap de transformação digital: Metodologia VDMA
A ferramenta VDMA Toolbox oferece uma metodologia estruturada para mapear o estágio atual da usina e projetar sua evolução digital. O processo é baseado na análise de três dimensões fundamentais:
• Pessoas: capacitação, cultura e liderança digital;
• Processos: eficiência operacional, padronização e controle;
• Tecnologias: infraestrutura, conectividade, sensores e IA.

A análise ocorre nas principais seções da usina: moenda, fábrica de açúcar, produção de etanol e cogeração. Os dados levantados são tratados quantitativa (maturidade de 1 a 5) e qualitativamente (descrição do uso, criticidade e potencial). Essa abordagem permite responder à pergunta "onde estamos e para onde vamos?", guiando a elaboração de um roadmap estratégico.

Fichas de oportunidades e projetos de transformação
Com base nos diagnósticos setoriais, são geradas fichas de oportunidades que detalham gaps, soluções tecnológicas, setores impactados, tipo de tecnologia (sensor, conectividade, automação, IA), benefícios esperados e dificuldade de implementação. Posteriormente, essas fichas se transformam em projetos priorizados com base em critérios objetivos: impacto, investimento, prazo, complexidade e valor agregado.
 
As iniciativas se agrupam em três ondas de transformação:
• 1ª onda: infraestrutura, conectividade, digitalização;
• 2ª onda: tecnologias habilitadoras como IoT, Edge, Cloud;
• 3ª onda: IA, análise preditiva, decisão assistida.

Tecnologias habilitadoras e sistemas de decisão inteligente
A partir da infraestrutura digital criada, torna-se viável a implantação de tecnologias habilitadoras:
• IoT Industrial e Sensores Analíticos
• Edge Computing e Cloud Híbrida
• Data Lake e Plataformas de Analytics
• KPIs Inteligentes, Dashboards Interativos, Mineração de Dados
• Modelos de IA para previsão, anomalias e prescrições operacionais

Essas tecnologias redefinem a supervisão industrial, saindo da reatividade para uma gestão preditiva, padronizada e orientada a modelos de decisão baseados em dados.

Cibersegurança e governança: Pilar crítico da convergência TO-TI
A integração de redes industriais com sistemas de TI amplia significativamente a superfície de ataque cibernético. As prioridades também se diferenciam: enquanto TI prioriza confidencialidade, TO prioriza a integridade e a disponibilidade do processo. Portanto, é essencial implementar:
• Estruturas de defesa em profundidade (IEC 62443);
• Políticas de acesso, gestão de ativos e responsáveis por dados;
• Governança compartilhada e times unificados TO-TI;
• Treinamento das equipes operacionais sobre riscos digitais.
Sem esse alicerce de segurança, não há transformação digital sustentável.

Conclusão: Um plano estratégico para o futuro da operação digital
Transformar digitalmente uma usina não significa adotar tecnologias isoladas, mas construir um plano coordenado, baseado em diagnóstico, metas claras e valor operacional. A convergência entre TO e TI é o primeiro passo para criar uma base de dados consistente, confiável e segura, capaz de alimentar sistemas analíticos e mecanismos de decisão inteligentes.
 
Somente com esse alinhamento a indústria sucroenergética avançará rumo a uma operação digital, que seja assistida por dados e permita operações autônomas por Inteligência Artificial. As usinas do futuro serão definidas não apenas pela eficiência de seus equipamentos, mas pela inteligência com que utilizam suas informações. 

IDENTIFICAÇÃO DOS GAPS