Consultor Técnico da UNICA-SP
Op-AA-04
O uso do álcool etílico - etanol, como combustível automotivo vem aumentando em um crescente número de países. As razões são diversas, mas normalmente têm sido associadas aos seguintes interesses:
Seja qual for a razão primordial, trata-se de uma importante mudança de paradigma, particularmente em países que são grandes consumidores e importadores de energia fóssil, como os EUA, China e Índia. Abrindo espaço para a agricultura energética, termo recentemente cunhado pela FAO, organismo da ONU para a agricultura e alimentos, como alternativa de desenvolvimento sustentável, ideal para os países emergentes.
A posição da FAO baseia-se na criação de um ciclo virtuoso, que estimularia a produção de energia e geração de empregos em países em desenvolvimento e a exportação de um combustível limpo e renovável para países desenvolvidos. Em resumo, trata-se de uma situação na qual todos podem ganhar. Apesar de existirem razões que recomendam o uso do etanol como combustível, a demanda pelo produto ainda é relativamente pequena no cenário energético internacional.
Considerando que o consumo mundial de gasolina é de aproximadamente 1,2 bilhões m³/ano, enquanto o de etanol é de 30 milhões de m3/ano, representando o equivalente a 2,5% do consumo global de gasolina. Para se consolidar como uma commodity energética no mercado internacional e, conseqüentemente, ter a sua produção e comercialização aumentadas, o etanol precisa vencer algumas barreiras.
Inicialmente, os governos dos países que poderiam se beneficiar de seu uso devem compreender que, à semelhança da gasolina, do óleo diesel e do gás natural, o etanol produzido a partir da biomassa não é apenas um subproduto agrícola, mas uma fonte de energia conhecida, produzida a custos competitivos e que apresenta a vantagem de ser simultaneamente limpa e renovável.
É importante que os agentes que atuam no mercado de combustíveis, estruturado na predominância dos derivados de petróleo e na concentração de empresas, reconheçam que o uso do etanol introduz novos padrões e requer novas atitudes. Pelo fato da produção do etanol poder ser feita de forma desconcentrada, em grande número de países, a partir de várias fontes de biomassa, o mercado deve buscar formas de operação que conciliem a convivência do combustível renovável com os fósseis.
Há que se considerar, também, que o mercado de combustíveis é sujeito a rígidas especificações de qualidade e de segurança e tratamento fiscal específico que, embora necessárias, têm sido utilizadas como barreiras à utilização do etanol. É oportuno reconhecer que muitas das razões que tem dificultado a expansão do etanol no mercado internacional têm sua raiz no lobby de empresas de petróleo. Temendo perder mercado, elas combatem abertamente o uso do combustível renovável.
A questão se torna mais complexa quando se verifica que a esse lobby soma-se outro, o dos agricultores de países desenvolvidos, que vivem de generosos subsídios. Para garantir os seus privilégios, lutam para a criação e manutenção de barreiras tarifárias, o que inibe a consolidação de um mercado livre e cria uma involuntária, porém bizarra, aliança com os interesses da indústria do petróleo.
Outra questão que precisa ser observada é que apenas dois países – Brasil e EUA, representam conjuntamente 85% da demanda mundial de etanol combustível. Se isso representa uma demonstração da viabilidade de estruturação de mercados domésticos em grande escala, por outro lado, evidencia a necessidade de haver uma multiplicação de países que sejam produtores e usuários de etanol, de modo a intensificar o interesse para a consolidação de um mercado internacional.
A compreensão destas questões é fundamental para que possam desenvolver estratégias e ações, voltadas para a popularização do uso do etanol no mundo. A UNICA vem, há tempos, estudando essas questões e desenvolvendo inúmeras atividades para promover o uso do etanol em outros países. Várias das iniciativas têm sido bem sucedidas, favorecendo a criação de programas destinados a este objetivo.
Trata-se dos casos da China, Índia, Tailândia, Peru e Colômbia e outros que ainda não resultaram em medidas consistentes para produção e/ou utilização do etanol. Neste bloco podemos incluir a Austrália, Guatemala, Cuba, Guiana, República Dominicana, Jamaica, México e Japão. Vale também registrar a participação da UNICA na criação do contrato para o etanol da NYMEX, em Nova Iorque.
Embora a maioria destes países esteja privilegiando a produção doméstica, a UNICA tem buscado qualificar o Brasil como parceiro preferencial para o fornecimento complementar do produto. Evidentemente, em situações como a do Japão, que tem poucas condições para produzir quantidades substanciais do combustível, a UNICA trabalha para que o Brasil se torne o principal fornecedor. Como se pode observar, os desafios para a construção de um mercado mundial de etanol consistente requerem muito trabalho, missão a ser desenvolvida com afinco.