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Ivan Chaves de Sousa

Diretor da Chaves Planejamento e Consultoria

Op-AA-53

É possível o fortalecimento da agroindústria sucroenergética?
É claro que é possível o fortalecimento da agroindústria sucroenergética. Mas, o primeiro passo é reconhecermos que o sucesso de uma empresa requer que os seus bons indicadores econômicos sejam sempre precedidos de bons indicadores operacionais. 
 
Para melhor esclarecimento dessa nossa colocação, desenvolveremos um exercício executando algumas simulações suportadas por estatísticas, obtidas através de pesquisas e estudos conduzidos por nós, anualmente, com a parceria de trinta usinas localizadas na região Centro e Sudeste. 
 
Dada a limitação de espaço, nos concentraremos no exame de apenas alguns desses indicadores. Ou, mais especificamente, na análise de três dos mesmos. Possivelmente surja aqui o primeiro questionamento por parte do leitor: como um trio de variáveis operacionais seria suficiente para influenciar os resultados de uma agroindústria? É o que veremos a seguir.
 
Assumiremos uma agroindústria hipotética que, numa fase inicial, encontrava-se “parada no tempo” e, posteriormente, sob nova e eficiente administração, buscou sua recuperação. 
 
Desde já, provocaremos o nobre leitor com algumas questões.  Por exemplo, essa usina, passando a contar com uma equipe competente, motivada e ávida por melhores resultados e recorrendo à correta tecnologia, conseguiria elevar a produtividade dos seus canaviais de 78 t/ha-corte para 85 t/ha-corte?

Outra pergunta: com essa mesma competente equipe, contando com o apoio de nossos excelentes geneticistas, poderia aperfeiçoar o manejo varietal (e da colheita) de suas lavouras de forma a alcançar um incremento no teor de ATR – Açúcar Total Recuperável – de sua produção canavieira, digamos, de 135 Kg/t cana para 140 Kg/t cana? 
 
Na área industrial. os índices de ATM – Aproveitamento de Tempo de Moagem, sofreram acentuados decréscimos nos últimos tempos. É certo que  há a interferência das chuvas e da colheita mecanizada, mas, as ações concentradas sobre as demais causas de paradas das moendas não permitiriam que tal ATM subisse de patamar, por exemplo, de 77% para 84%? Pois bem, citamos exemplos de incrementos em TCH, ATR e ATM e, agora, convidamos nosso leitor a nos acompanhar em um exercício, por meio do qual analisaremos o grau de impacto desses ajustes nos resultados da empresa. 
 
Inicialmente, vamos pressupor que essa mesma usina hipotética, em sua fase inicial, estaria operando nas seguintes condições: esmagando 100% de cana própria, com uma capacidade de moagem (TCD) igual a 16 mil toneladas de cana por dia, operando uma safra com 240 dias de extensão, dispondo de uma área de colheita de cana equivalente a 38 mil hectares por ano. E, mais um detalhe, antes do esforço pelo incremento dos três indicadores citados, estaria a mesma produzindo 62,0 Kg de açúcar mais 40,0 litros de anidro por tonelada de cana moída (perfil de produção).
 
Pois bem, nessa situação inicial “acomodada”, essa agroindústria estaria operando suas moendas com um tempo correspondente a 184,8 dias efetivos ao longo de toda a safra (240 dias corridos x 77% de ATM). Sendo sua TCD igual a 16 mil t cana/dia, então sua moagem total na safra resultaria em 2,957 milhões de toneladas. Dos quais, considerando o perfil de produção assumido, chegaríamos às produções de 3,666 milhões de sacos de açúcar e mais 118,27 milhões de litros de anidro, por safra.
 
Chegou a hora da pergunta crucial: qual a ordem de grandeza dos benefícios que seriam obtidos, admitindo a hipótese da efetiva melhoria do nosso trio de indicadores? Em primeiro lugar, fácil de verificar, através do incremento do índice ATM, subindo de 77% para 84%, as moendas operariam mais, ainda que mantivessem a mesma duração da safra (240 dias corridos). Consequentemente, com a mesma TCD, o contingente total de cana processada na safra alcançaria o contingente de 3,225 milhões de toneladas, ou seja, superando em 268 mil toneladas o verificado no cenário inicial.
 
Precisaríamos de mais terras para atender esse aumento na quantidade de cana a moer? Não, porque o outro indicador “melhorado” referiu-se à produtividade agrícola. Assim, os índices de TCH citados (78 t/ha-corte e 85 t/ha-corte), aplicados sobre a área de corte total disponível (cerca de 38 mil hectares) possibilitariam produções de cana que atenderiam as demandas por matéria prima pela indústria nos dois cenários (2,96 milhões de toneladas e 3,23 milhões de toneladas, respectivamente).
 
Finalmente, o terceiro progresso estabelecido: incremento do teor de ATR, saindo de 135 Kg/t cana para chegar aos 140 Kg/t cana. É plausível assumir que, com a cana mais rica em açúcares, os rendimentos industriais – mantidas as demais condições constantes – subam na mesma proporção. Logo, o perfil de produção do primeiro cenário (62 Kg de açúcar e mais 40 litros de anidro por tonelada de cana moída) deveria se elevar para 64,30 Kg de açúcar e mais 41,48 litros de anidro. 
 
Portanto, considerando tais perfis e o total de cana moída na safra nos dois cenários, concluimos que as produções industriais alcançariam: 1) no cenário inicial, 3,666 milhões de sacos de açúcar mais 118,27 milhões de litros de anidro; 2) no cenário “melhorado”, 4,148 milhões de sacos de açúcar mais 133,78 milhões de litros de anidro.
 
Resta-nos agora, avaliar monetariamente esses números. Admitamos preços já livres de impostos e na condição PVU equivalentes a R$ 62,00 por saco de açúcar e R$ 1,65 por litro de anidro (aplicáveis a ambos os cenários). Fazendo os cálculos, chegaríamos ao faturamento total para o primeiro cenário igual a R$ 422,4 milhões enquanto no cenário aperfeiçoado, esse montante alcançaria a cifra dos R$ 477,9 milhões. Ou seja, uma vantagem deste sobre o anterior equivalente a R$ 55,5 milhões por safra.
 
Mas, os leitores mais atentos lembrarão que, no cenário “aperfeiçoado”, ocorrerá maior produção de cana (graças à TCH superior), correspondente a 268 mil toneladas, que, com certeza, implicarão em custos adicionais. De fato, no campo teremos que computar os custos de colheita e transporte desse contingente (assumiremos como igual a R$ 32,00/tonelada) ao passo que, na área industrial, embora não haja alteração na duração da safra, imporemos um custo variável equivalente a R$ 7,00/tonelada (enfoque bem conservador). 
 
Portanto, aplicando esse custo unitário variável agregado de R$ 39,00 por tonelada de cana moída sobre aquelas 268 mil toneladas adicionais, perceberemos que o cenário “aperfeiçoado” teria que arcar com um custo extra perto de R$ 10,5 milhões.
 
Assim, a vantagem encontrada anteriormente (R$ 55,5 milhões), depois de deduzidos esses custos, decresceria para cerca de R$ 45 milhões, em relação ao cenário inicial. Seria modesto esse ganho líquido, de aproximadamente R$ 45 milhões por ano? Ou algo como R$ 225 milhões no acumulado de cinco safras?
 
Cremos que o leitor concordará conosco: esses são, sim, ganhos significativos.  E devemos lembrar que há ainda um segundo – e mais importante – ponto a ressaltar: tais ganhos estariam resultando de progressos de três variáveis: TCH, ATR e ATM. Para finalizar, registramos uma última pergunta: é possível imaginar o salto que a sua agroindústria experimentaria se um esforço como esse aqui exemplificado, ao invés de concentrar-se em apenas alguns poucos indicadores, fosse extrapolado para todos os segmentos da empresa?
 
Pense, reflita e aja. Sua empresa merece! E agradece!