Presidente da Areva Renewables Brasil
Op-AA-35
Apesar do fraco crescimento do PIB no Brasil em 2012, em torno de 1%, segundo estimativas do Banco Central, o crescimento no consumo de energia elétrica foi de 3,5%, atingindo 448.293 GW/h. Aliadas a esse fato, a falta de chuvas no final de 2012 e a consequente redução do nível dos reservatórios fizeram com que fossem despachadas as usinas térmicas em todo o País.
O risco de racionamento era iminente, porém reduzido, graças às chuvas do último mês, quando os níveis dos reservatórios começaram a se recuperar; contudo ainda continuam bem abaixo do que se poderia considerar seguro. O governo já anunciou a manutenção do despacho das térmicas.
Adicionalmente, a Medida Provisória 579, que trata das renovações das concessões, trouxe um clima de insegurança aos investidores, o que contribui para a redução dos investimentos no setor. A política energética pautada exclusivamente na “modicidade tarifária” colocou em competição todas as fontes e em todo o território nacional. Houve uma grande redução dos preços de compra da energia, mas, em contrapartida, provocou uma grande distorção do ponto de vista geográfico (geração longe dos centros de consumo) e uma enorme concentração da expansão em uma única fonte: a eólica.
Cabe ressaltar, aqui, o aumento de competitividade dessa fonte nos últimos anos, advindo de incentivos fiscais, da construção de fábricas no Brasil e ainda dos ganhos de produtividade da indústria. No entanto entendemos que, ao colocar em competição nos leilões todas as fontes da forma como está ocorrendo, não estamos comparando “laranjas com laranjas”. Há que se considerar, para ficar em um só exemplo, os enormes custos de transmissão que estão sendo assumidos pelo governo e que beneficiaram sobremaneira a instalação dos parques eólicos.
A biomassa tem ficado de fora da expansão da geração, assim como as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Com isso, uma forte e competitiva indústria, de tecnologia nacional e grande empregadora, vem sofrendo um lamentável revés. Hoje, da forma como a política está sendo aplicada e como os leilões estão sendo organizados, os únicos ganhadores serão os parques eólicos, e continuarão ficando de fora a biomassa e as PCHs. Há um enorme potencial de geração com a biomassa.
Somente no setor sucroenergético, com a utilização do bagaço de cana-de-açúcar e também das suas pontas e palhas (palhiço), seria possível gerar 15 mil MW médios, o equivalente a uma “Itaipu verde”, referência que se tornou comum em nosso mercado. Além disso, a geração de energia se tornou um forte pilar da indústria sucroenergética, um setor importante e estratégico para o País, além de ser grande empregador.
Precisamos de uma matriz diversificada e segura do ponto de vista do fornecimento de energia. A biomassa tem um papel importantíssimo na obtenção dessa segurança, pois o combustível pode ser armazenado, e, dessa forma, a geração pode ser modulada de acordo com a necessidade do consumo, o que não ocorre com outras fontes renováveis, como a eólica e a solar. Há disponibilidade imediata do combustível, e a construção de centrais de geração são projetos de rápida execução (em torno de dois anos).
Já há o reconhecimento, por parte dos órgãos que planejam e regulamentam a expansão da geração, da necessidade de implantação de mais térmicas para garantir a segurança do fornecimento, e mais, reconhecem também que elas deverão ser implantadas o mais próximo possível da carga para evitar grandes investimentos em transmissão. Mais uma vez, a biomassa é a solução ideal, pois se encontra majoritariamente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde está o consumo.
A alternativa à biomassa seria a construção de térmicas movidas a combustível fóssil. Num país como o Brasil, que tem 88% da geração de energia elétrica proveniente de fontes renováveis e com a possibilidade de continuar expandindo a geração a partir dessas fontes, não faz sentido falar, muito menos fazer, a expansão baseada em combustíveis fósseis, indo na contramão da redução das emissões de carbono e contribuindo para o aquecimento global. Só uma mudança da política energética brasileira poderá trazer de volta os investimentos em geração a partir da biomassa. O Brasil precisa dessa mudança agora!