A atual situação do Brasil e as turbulências visíveis a cada dia no mercado internacional nos levam a reflexões importantes. Esse modelo de gestão política ultrapassada e a condução macroeconômica reativa não nos permitirão solucionar os problemas que nos assombram no curto e médio prazo. O etanol e a gasolina ainda disputam o mercado dos consumidores de forma irracional, em que as partes envolvidas se fecham dentro dos seus ciclos e pouco interagem de forma a gerar eficiência, a favor de toda a cadeia produtiva.
A irracionalidade desse processo, que provocou os estragos irreversíveis no setor sucroalcooleiro, colocou de joelhos a maior empresa nacional e não trouxe nada de novo para a solução dos problemas que enfrentaremos em um futuro próximo. Hoje, o cenário só não é mais alarmente porque, infelizmente, o País adicionará ao seu crescimento risível dos últimos anos uma nova retração do PIB em 2016. É hora de olharmos para frente e podermos aprender com os erros do passado.
O setor de transportes no mundo não será o mesmo que conhecemos até o momento. Estamos diante de transformações da sociedade, dos conceitos e das prioridades, que nos afetarão de forma significativa e em uma velocidade que nunca vivenciamos. Acompanhamos, nos últimos anos, a supremacia do petróleo no setor de transportes. A matriz de transporte mundial, hoje, é baseada em combustíveis líquidos. Esse fato ajudou a rápida expansão do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis em todo o planeta.
Compartilhando os ativos de infraestrutura foi mais fácil introduzir o etanol em larga escala nessa cadeia. Os motores a combustão interna podem se tornar peças de museus em um futuro muito próximo. A eficiência energética, com as rupturas tecnológicas que ainda estão por vir, nos trarão novidades com as quais ainda nem sonhamos. O etanol poderá ser o combustível da perfeita transição do sistema atual. Apostando nessa transição, é que há um enorme espaço para a convivência do etanol e da gasolina em nosso País, de forma racional e econômica.
Estamos em um País continental, com diferenças regionais bem definidas, que deverão conviver com a infraestrutura já instalada para cada um dos combustíveis. Não temos ainda o petróleo de que necessitamos, não temos as refinarias que precisaríamos ter. O déficit de refino do País está igualmente distribuído entre óleo diesel e gasolina. As novas e caríssimas refinarias deverão priorizar a produção de óleo diesel, não contribuindo para solucionar o déficit de refino de gasolina.
O planejamento do suprimento dos combustíveis torna-se imperativo. Isso deve ser feito a três mãos: o Governo Federal, congregando todas as esferas envolvidas, tais como Ministério da Fazenda, Minas e Energia, Meio Ambiente, Indústria e Comércio e Agricultura de um lado, buscando os interesses macros da nação; a Petrobras, como a maior produtora e importadora de combustíveis do País; e os Produtores de Etanol, responsáveis por uma importante parcela dos combustíveis deste País.
São visões distintas que, mantidas de forma isolada, não nos levarão a nenhum lugar de forma rápida e eficiente que necessitamos. Temos uma lacuna no mercado de combustíveis. A demanda já supera a oferta em nosso País, e, tão logo retomemos o crescimento econômico de nosso País, esse descompasso vai se alargar. A hora é agora, pois os investimentos necessários à cobertura dessa demanda são vultosos e demandam tempo em obtenção de licenças ambientais, e os prazos de construção de infraestrutura e novas plantas industriais são muito extensos.
É uma excelente oportunidade de ajudarmos o País a reencontrar seu caminho de crescimento. A forma como vamos partilhar o crescimento da oferta de combustíveis entre gasolina e etanol gerará uma expansão saudável e permanente em uma longa cadeia de suprimento, gerando riqueza e segurança energética. A capacidade de moagem instalada nas usinas da região Centro-Sul, hoje, é cerca de 620 milhões de toneladas de cana, associada a uma capacidade de produção total de etanol de 30 milhões de m³, incluindo etanol anidro, e de cerca de 36 milhões de toneladas de açúcar.
Acima desses valores, há necessidade de pesados investimentos para a adequação da moagem e da fabricação de etanol e açúcar. Caso a demanda não seja suprida pelo setor sucroalcooleiro, haverá a necessidade de se importar toda essa demanda adicional, compartilhando a limitada infraestrutura de importação e exportação de combustíveis líquidos, agravada pela enorme extensão territorial de nosso País, a consequência natural serão os aumentos dos custos e a desotimização de toda a cadeia.
Esse é o grande desafio, que não pode mais ser postergado, imaginando-se que, de forma natural, as forças de mercado serão suficientes para equacionar o problema. Não é essa a realidade, onde, hoje, cada setor envolvido toma as suas decisões de forma isolada, muitas vezes tentando sobreviver, como é a atual situação tanto da Petrobras quanto do setor sucroalcooleiro. As palavras de ordem são planejamento, otimização, racionalização, eficiência, eficácia e visão de futuro.
Devemos enxergar esses desafios como uma grande oportunidade. Oportunidade de gerar riqueza através do investimento seguro e planejado. Todos nós acreditamos que precisamos mudar este País, mudar conceitos, atitudes. Devemos deixar para trás os vícios e visão estreita de um problema se quisermos nos tornar uma nação de verdade. Ajustar a ideia setorial e pensar de forma agregada, no conceito de cadeia de suprimento. O consumidor que comprou a ideia do carro flex tem que ter a sua disposição o melhor combustível, de forma competitiva, para que ele possa exercer a opção que um dia, sem saber, ele comprou.