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Op-AA-01
A partir das exigências impostas pelo Protocolo de Kyoto e pelas pressões ambientais que discutem a necessidade do uso de combustíveis menos poluentes, a busca acirrada e urgente por um tipo de combustível limpo, alternativo e renovável leva o mundo a voltar suas atenções para o etanol, que além de excelente fonte de energia alternativa, é também muito indicado para a mistura com a gasolina.
Revendo-se o histórico brasileiro de produção de etanol e considerando-se as grandes possibilidades em termos de aumento de safra e de áreas plantadas, os produtores nacionais de cana-de-açúcar ocupam posição de destaque no mercado mundial de etanol, apresentando-se potencialmente como os mais competitivos fornecedores desta nova cadeia.
Até então, o comércio internacional de álcool resumia-se basicamente no mercado de álcool industrial, para as áreas de químicos e de bebidas. Atualmente, estimulados entre outros motivos pelo Protocolo de Kyoto, os países mais desenvolvidos e os signatários do tratado têm procurado desenvolver novas fontes de energia, buscando reduzir a emissão de partículas poluentes e a grande dependência dos países produtores de petróleo, fonte de energia fóssil e escassa, capaz de provocar desestabilização nas principais economias globais e crises nos países produtores.
Depois da bem sucedida experiência com o Programa Pró-Álcool, o Brasil é hoje referência no mercado de álcool e posiciona-se como o maior produtor mundial desta commodity. Além disso, desde 1930 o país possui know-how para utilização do álcool como mistura na gasolina, e a partir daí, a industria automobilística local foi capaz de desenvolver um carro 100% movido a álcool.
Atualmente, a legislação brasileira permite a mistura de até 26% de álcool à gasolina - o que nos transforma nos maiores consumidores mundiais de álcool carburante - e o país verifica a bem sucedida experiência com o carro híbrido (flex fuel), que funciona tanto a álcool quanto à gasolina, dependendo unicamente da escolha do consumidor.
No entanto, para alcançar o posto de líder da cadeia de suprimento de álcool para o resto do mundo, o Brasil tem ainda que lutar para quebrar algumas barreiras que dificultam sua atividade de exportação. Em primeiro lugar, é necessário que o álcool tenha produção e preços desvinculados dos praticados para o açúcar nos mercados interno e externo, assim como do próprio mercado interno de álcool.
O álcool como commodity tem que conquistar seu espaço, tem que ter preço competitivo e tem que atender à demanda de seus consumidores. Conclui-se que de nada adianta criar um novo mercado sem que haja certeza de sua liquidez. Desta forma, paralelamente ao estimulo do consumo de etanol no mercado internacional, é fato que este produto está se tornando uma commodity global e um dos grandes passos para que esta posição se consolide será o lançamento do contrato de álcool na bolsa de NY, em maio vindouro.
Quanto à produção brasileira especificamente, temos capacidade e tecnologia para atender à demanda mundial, na medida em que, além de sermos os maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar, somos também os mais competitivos e temos grande capacidade de expansão desta cultura, visto nossas características físico-geográficas, que nos permitem dispor de grandes extensões de terra para o plantio da cana na medida suficiente para o incremento da produção conforme o crescimento da demanda.
Vale ressaltar que estamos aqui tratando de ações da iniciativa privada para que seja possível que o setor se torne auto-sustentável, situação que somente será real caso haja condições macro e micro econômicas favoráveis, instituições fortes, legislação transparente e contratos seguros. Entretanto, é imprescindível o apoio estatal.
Nesse sentido, as mais importantes e necessárias providências a serem tomadas dizem respeito ao aperfeiçoamento da infra-estrutura logística existente, especialmente portuária, para que se possa atender com perfeição a esta cadeia de exportação. O fato é que há um novo mercado mundial se desenvolvendo, diante do qual o Brasil se posiciona como o produtor mais experiente, com maior possibilidade de produzir os volumes de exportação necessários e com maior potencial para tanto, desde que reconheçamos os investimentos que ainda necessitamos realizar para a perfeita atividade do setor.
Para o país, além de importante para o incremento das divisas e para o equilíbrio da balança comercial, o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro também é uma excelente ferramenta no incentivo à economia e na geração de empregos em grande escala. É perfeitamente possível afirmar que podemos ser o grande fornecedor de energia alternativa do mundo, mas para isso é fundamental que o setor procure organizar-se, para descobrir, num grande esforço conjunto, como desenvolver potenciais clientes e como melhor atendê-los. Fica assim na mão dos diversos players do mercado brasileiro, a chance de escolher o futuro do setor.
Se for da vontade de todos realmente aproveitar a destacada oportunidade que se coloca no agribusiness mundial, é imprescindível tomar uma atitude rapidamente, para que seja possível atender com eficiência à demanda dos países desenvolvidos. Assim como os produtores de petróleo do Oriente Médio, o país tem a oportunidade de ser um dos mais importantes fornecedores de energia do mundo e, conseqüentemente, tem condições de transformar sua economia e sua realidade.