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Dib Nunes Junior

Diretor do Grupo Idea

Op-AA-40

Os caminhos para a sobrevivência

Estamos cansados de saber que o setor sucroenergético está sofrendo nas mãos do governo que, desde 2008, mantém defasados os preços dos combustíveis. Os grandes grupos que detêm ao redor de 50% da produção canavieira, de certa forma, já traçaram seu caminho e adotaram o “gigantismo”, que lhes permite uma produção em maior escala e ganho de competitividade. Seria esse o caminho para a sobrevivência? Por outro lado, a outra metade da produção, nos últimos cinco anos, está lutando contra enormes dificuldades que vêm, gradativamente, aumentando seu endividamento e reduzindo sua capacidade de honrar seus compromissos.

 Nesse período, os custos de produção subiram tanto que o setor acumulou dívidas e perdeu competitividade. A saída para muitas dessas usinas continuarem funcionando foi recorrer à Lei 11.101/2005, que regulamentou a Lei de Falências e Recuperação Judicial (RJ), esta última equivalente à antiga concordata. Entrar em RJ foi a atitude extrema dessas empresas, com o objetivo de superar a crise financeira, permitindo a manutenção da produção, dos empregos, dos interesses dos credores e da preservação do negócio, cujo papel para a sociedade e a economia local é de fundamental importância.

Hoje, há mais de 30 empresas operando sob a lei da RJ, como é chamada, sendo que, se a situação continuar como está, esse número pode dobrar em apenas um ano. Deveriam as demais empresas se unir para formar um bloco de endividados e entrar com um único pedido de RJ; poderiam, assim, ganhar escala de produção e voltar mais ajustadas ao mercado. Será que isso é possível? Para isso, alguém precisa dar o primeiro passo. A alternativa escolhida por 59 empresas sucroalcooleiras foi paralisar as atividades, esperando por um melhor cenário econômico para o setor. Seriam esses os melhores caminhos para a sobrevivência?

O setor sucroenergético tem sido vítima das políticas públicas desastrosas que levaram à “bancarrota” várias usinas que produzem açúcar, etanol e bioeletricidade e também levaram para o buraco a Eletrobras e a maior de todas as empresas da América Latina, a nossa gloriosa Petrobras.

Essa Petrobras que era nosso orgulho está, hoje, totalmente dilapidada por ter sido usada como ferramenta de combate à inflação e, principalmente, pelos vergonhosos e despudorados escândalos de corrupção que desviaram milhões de dólares de seu caixa na compra de refinarias no exterior, plataformas de petróleo, entre outros investimentos malsucedidos.

O governo, no tempo do Lula, criou a Petrobras Biocombustível e investiu no setor. Sob o governo de Dilma, tomaram-se outros rumos, preferindo estimular o consumo da gasolina poluente e importada em detrimento do etanol limpo e brasileiro.

O pior de tudo é que essa política trouxe o maior dos cúmulos: a importação de gasolina por um preço superior ao que se vende aqui dentro, contribuindo, assim, para o aumento do rombo do caixa da estatal e afundando de vez o maior programa de combustível limpo do mundo. Para segurar o preço da gasolina, o governo ainda retirou a Cide desse combustível e o manteve para o etanol.

Não seria mais racional se esse dinheiro desperdiçado pela Petrobras tivesse sido direcionado para a produção de etanol? E os subsídios de R$ 63 bilhões que serão distribuídos ao setor elétrico? Com esse dinheiro, poderia ter sido edificado um vigoroso programa de  bioeletricidade.

Diante disso, muitas empresas do setor chegaram a pensar em reduzir significativamente sua produção de cana e etanol e se dedicar exclusivamente à produção de açúcar, cujo mercado externo consome dois terços da produção brasileira. Seria esse o caminho para a sobrevivência do setor?

Nos últimos cinco anos, o setor sofreu, e ainda está sofrendo, grandes transformações, que, somadas ao congelamento de preços do etanol, fizeram com que o setor se mobilizasse, em busca de alternativas por sua própria conta.

As principais atitudes e ajustes que as empresas sucroenergéticas  fizeram foram:
• Permuta de canaviais entre usinas vizinhas, visando reduzir a distância e o custo de colheita;
• Redução do valor do arrendamento de terras para níveis suportáveis;
• Aumento da mecanização no plantio e na colheita, reduzindo os gastos com mão de obra;
• Alteração no sistema de preparo de solo, optando por sistemas multifuncionais mais baratos;
• Adoção de novos espaçamentos, visando aumentar a população de plantas por hectare e, com isso, melhorar a produtividade agrícola;
• Rigoroso controle de tráfego na lavoura, para reduzir os danos por compactação;
• Severa redução no quadro de colaboradores nas diversas fases do processo produtivo, tanto na lavoura como na indústria;
• Aprimoramento dos processos gerenciais, visando ganhar eficiência e reduzir desperdícios;
• Devolução de arrendamentos de terras improdutivas e não mecanizáveis;
• Utilização de modernos produtos químicos para o controle de plantas daninhas e pragas da cultura;
• Terceirização dos serviços para reduzir a necessidade de investimentos e a folha de pagamento;
• Substituição rápida de variedades pouco produtivas ou com problemas fitossanitários, para ganhar produtividade;
• Investimentos na cogeração de energia elétrica, criando nova fonte de renda a partir do bagaço e da palha;
• Prolongamento do período de safra, para dar melhor aproveitamento à estrutura existente;
• Planejamento de venda dos produtos, utilizando mecanismos de hedge para garantir preços;
• Investimentos em treinamento e capacitação profissional de seus funcionários para melhorar a produtividade geral;
• Aprimoramento da logística de transporte, através de investimentos em ferrovias, hidrovias e dutos;
• Realização de investimentos em biotecnologia e etanol de segunda geração para a maximização da produção agrícola;
• Modernização da sua frota de caminhões e máquinas, para reduzir seus custos;
• Implantação de novos processos de limpeza de cana a seco, para melhorar a qualidade da matéria-prima;
• Substituição de velhas caldeiras por estruturas mais eficientes e mais potentes, viabilizando a cogeração de energia elétrica;
• Busca por novos parceiros em bioeletricidade;
• Renegociação de dívidas com bancos e fornecedores, melhorando sua capacidade de honrar compromissos.

A maioria das ações relacionadas necessitam de investimentos, de capacidade técnica e de gestão, além de apoio de consultorias especializadas. Não são todas as empresas que podem dar-se a esse “luxo”. Seriam esses os melhores caminhos?

Como se vê, quase nada dessas atividades dependem do governo, aliás, do governo só precisamos mesmo é da atualização dos preços dos combustíveis, que deverá ser feita oficialmente após as eleições (ou será feita “na marra” pelo próprio mercado).

Apesar de tudo, o setor ainda continua razoavelmente estruturado, com pessoas capacitadas e mais de 8 milhões de hectares cultivados, somente no Centro-Sul do Brasil. Porém o setor permanece em compasso de espera, pronto para responder a estímulos de preços e, assim, voltar a crescer de forma vigorosa e organizada. Está pronto para atender às demandas nacionais por combustíveis, sem necessidade de importação de gasolina.

Um adequado ajuste de preços nos combustíveis colocará o setor sucroenergético novamente nos trilhos. Depois disso, o mercado fará o resto, como manda o bom senso e as leis da livre economia, sem as desastrosas intervenções do Governo Federal.