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Raffaella Rossetto

Diretora Técnica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios

Op-AA-05

Adubação da cana planta e da cana soca

Os ventos estão muito favoráveis para a cana-de-açúcar no Brasil. Para atender as novas demandas espera-se um aumento de 2,5 milhões de hectares na área de plantio, nos próximos 10 anos. Uma nova fronteira agrícola para a cana-de-açúcar já se delineou. No estado de São Paulo será o oeste, principalmente, a região de Araçatuba, onde a cana substituirá solos antes ocupados com pastagens. Olhando a expansão pelo ponto de vista do patrimônio “solo”, precisamos de cautela. Regiões de cerrado apresentam grandes áreas de solos com baixos potenciais produtivos.

Necessitam de manejo criterioso. No oeste paulista, temos solos distróficos, álicos ou ácricos e com um crítico problema representado pelo baixo armazenamento de água, onde déficits hídricos são comuns. A expansão ocorrerá em solos que representam desafios para a nutrição e adubação da cana. Nosso setor, entretanto, emprega grande número de agrônomos e a tecnologia para enfrentar esse desafio, já dominamos. Basta empregá-la bem.

A atividade agrícola canavieira consome aproximadamente três milhões de toneladas de N+P2O5+K2O, representando cerca de 15% do total geral comercializado no Brasil. Este consumo tende a crescer, principalmente, pelo aumento em área plantada, e também por melhores perspectivas econômicas do setor, que permitem investimentos ao longo de toda a cadeia produtiva, inclusive, no manejo de fertilizantes.

Mas existe um porém, o custo dos fertilizantes acompanha as altas do petróleo e a adubação ocupa uma fatia considerável dos custos de produção. Não poderemos dispensar a atenção a nenhum dos fatores de produção. A alocação de variedades, respeitando os ambientes de produção, é ponto inicial no planejamento e deverá otimizar os resultados da correção e adubação do solo. As atividades que antecedem o plantio e a adubação da cana necessitam de cuidados especiais.

Recomenda-se o bom diagnóstico do local, com análises físico-químicas do solo, inclusive em subsuperfície. Fatores limitantes devem ser minimizados como compactação, adensamento, presença de pragas de infestação de plantas daninhas. Um bom diagnóstico evidencia se o solo apresenta-se com baixos teores de nutrientes em superfície e subsuperfície ou a presença de elementos tóxicos, como o alumínio ou manganês, demandando aplicação de calcário e/ou gesso, antes da adubação.

A adubação visa fornecer, através dos fertilizantes, os nutrientes que por alguma razão, não são fornecidos pelo solo e que são necessários para uma boa produtividade da cultura. Existe sempre um fator de eficiência, ou seja, nem todo o nutriente aplicado será efetivamente utilizado, partes são perdidas no sistema. O IAC, através de seu Boletim 100, recomenda para a cana planta dosagens de: 30kg/ ha de N; 40 a 180 kg/ha de P2O5 ; 0 a 200 kg/ha K2O, de acordo com a análise do solo.

Também recomenda que seja feita a adubação de cobertura com mais 30 a 60 kg/ha de N, de acordo com a meta de produtividade, e subdividir doses altas de potássio, aplicando, quando recomendado, 100 kg/ha K2O, no plantio, e o restante da dose em cobertura. Como médias gerais para SP, são utilizadas na cana planta, as seguintes dosagens: 38,3kg/ha de N; 124 kg/ha de P2O5 e 117,6 kg/ha K2O.

Existe o questionamento: não estaríamos adubando pouco? Em que condições poderíamos aumentar as dosagens? Seria o parcelamento uma prática com resultados econômicos? Para a cana soca, o Boletim 100 recomenda: 30 a 120 kg/ha de N; 0 a 30 kg/ha de P2O5; 30 a 150 kg/ha K2O, de acordo com a análise do solo. São utilizadas, como média em SP: 83,6 3kg/ha de N; 25,5 kg/ha de P2O5 e 124 kg/ha K2O. Novamente nos perguntamos as mesmas questões anteriores. O Bol. 100 recomenda, ainda, a utilização de micronutrientes, principalmente, zinco e cobre, quando detectadas as deficiências.

Os resíduos gerados na agroindústria da cana fornecem nutrientes. Produzimos no Brasil cerca de 160 bilhões de litros de vinhaça e 13 milhões de toneladas de torta de filtro. Aplicamos, em média, 300 m3/ha de vinhaça em São Paulo, e 35t/ha de torta de filtro, além da fuligem e das cinzas de caldeiras. O uso destes resíduos representa economia em fertilizantes. Estima-se que apenas a vinhaça e a torta de filtro economizem cerca de 60.000 t de N; 80.000 t de P2O5 e 400.000 t de K2O, anualmente.

As tabelas de recomendação de adubação resumem dados de muitos experimentos realizados, por várias Instituições. No caso específico da cana, muitas mudanças ocorreram no sistema produtivo, como a mecanização da colheita, agora sem queima prévia e a manutenção da palha sobre o solo; mudamos também as variedades de cana. Este novo sistema de produção exige atualizações na experimentação de calibração de doses de adubação.

O IAC tem como tradição a elaboração das recomendações de adubação para todas as culturas de SP (Bol. 100). A cada 10 anos, esse boletim é atualizado. Precisamos investir urgentemente num esforço conjunto para a realização de ensaios de calibração de adubação, com o objetivo de incluir as novas variáveis. Finalmente, gostaríamos de salientar a necessidade de investimentos em P&D.

Nossas instituições de pesquisas tradicionais encontram-se em reformas e necessitam de grande apoio do setor. Infelizmente, não contamos com uma política de P&D que efetivamente incentive investimentos privados. Sem pesquisa científica e tecnológica constante, nossa vantagem competitiva frente aos outros países canavieiros sofre ameaças e pode estar com os dias contados.