Me chame no WhatsApp Agora!

Vitor Montenegro Wanderley Junior

Diretor Gerente da Usina Coruripe

Op-AA-15

Cogeração e infra-estrutura energética do Brasil

Recebo o convite para escrever sobre cogeração e a infra-estrutura energética brasileira, no momento em que prognósticos negativos rondam o setor de energia elétrica do país, uma vez que a oferta de eletricidade vem crescendo em um ritmo inferior ao do consumo. Ainda que não seja um expert no assunto, sinto que posso opinar sobre o tema, calcado na experiência de quem passa por constantes dificuldades para produzir energia, a partir de biomassa da cana-de-açúcar.

De acordo com estudos do Ministério de Minas e Energia, de 2005 a 2007, o emprego da biomassa para geração de energia elétrica no Brasil cresceu 21% em capacidade instalada, atingindo um total de 3.725 megawatts (MW). Infelizmente, esse crescimento mostra-se comprometido, quando comparamos os níveis de investimentos entre a produção da biomassa e a distribuição da energia dela decorrente.

Creio que a alternativa de cogeração nas usinas de açúcar e álcool é, provavelmente, a mais rápida opção para ampliar a oferta de energia no país e acredito que é chegada a hora de se buscar alternativas para que o atual sistema, predominantemente hídrico, possa se tornar mais eficiente, facilitando a vida de quem está disposto a produzir energia limpa.

Um bom começo seria atacar os problemas conhecidos: a falta de investimentos nas linhas de transmissão e distribuição, atualmente sobre-carregadas; o alto custo da conexão aos sistemas de distribuição e a vinculação a uma regulamentação que se apresenta inadequada à nossa realidade e que necessita ser revista, com urgência.

Como produtor de energia, não tenho dúvida em afirmar que já é passada a hora de se repensar o setor elétrico e encontrar soluções capazes de tornar a cogeração uma alternativa de sucesso. Entendo que não se pode abrir mão de um programa que, apesar das dificuldades, já detém 4% de toda a geração de energia elétrica do país.

É tempo de crescer e de corrigir erros. A hora é de tomarmos decisões práticas e inteligentes, que possam assegurar, definitivamente, o sucesso da cogeração de energia elétrica a bagaço de cana-de-açúcar. A Usina Coruripe nasceu e cresceu em Alagoas. Atualmente, esta unidade, matriz do Grupo, é a maior produtora de açúcar e álcool do nordeste brasileiro.

Sua produção deve atingir, na safra em curso, 5,7 milhões de sacos de açúcar e mais de 60 milhões de litros de álcool, resultado da moagem de 2,6 milhões de toneladas de cana. Em 1994, a Coruripe instalou-se no Triângulo Mineiro e hoje possui quatro usinas e projetos para a construção de mais duas. Nessa região, também foi criada a Coruripe Energética, empresa que tem a finalidade de operacionalizar e comercializar energia elétrica, vapor d’água e todos os derivados provenientes de cogeração de energia elétrica, bem como a compra de bagaço de cana-de-açúcar ou outras matérias-primas, que possam ser produzidas nas usinas.

Operando na área de influência da Cemig – distribuidora que atende a mais de 17 milhões de pessoas – estas unidades industriais lidam com constantes problemas, que vão desde a incompatibilidade do dimensionamento de subestações, ao alto custo para a instalação de linhas de transmissão que, pela regulamentação do setor elétrico, são de responsabilidade do produtor da energia.

Na região de Iturama, por exemplo, onde estão localizadas as filiais Iturama e Limeira do Oeste, a usina Carneirinho e a Coruripe Energética, temos de conviver com sérios problemas estruturais, em decorrência das deficiências do sistema. As três usinas possuem um potencial para exportar 70 MWh, mas correm o risco de apenas comercializar 19 MWh, limite da subestação de Iturama, que opera em linha de 69 KV.

Esta dificuldade somente será superada pela construção de uma nova linha de 138 KV, com 18 quilômetros de extensão; uma obra orçada em 22 milhões de reais, cuja responsabilidade deveria ser atribuída aos transmissores e não aos distribuidores, sob pena de se inviabilizar o negócio, considerando que esse investimento tem previsão de retorno após 12 anos.

A mesma situação repete-se com a filial Campo Florido, que tem potencial para exportar 54 MWh, mas está limitada a um repasse de 30 MWh. Em um futuro próximo, a filial de Limeira do Oeste e a usina União de Minas, próxima unidade a ser construída, terão, juntas, capacidade de exportar 120 MWh. Este volume de energia obrigará estas unidades a construir, além dos 18 km de linha para Iturama, mais outros 30 km.

Tais investimentos, somados àqueles necessários à compra de caldeiras, geradores, etc, leva o preço da energia para mais de R$ 200,00 por MWh, valor que o mercado não suporta. O Proinfa - Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, determina preço abaixo de R$ 110,00 e os leilões de energia têm o preço fixado pelo governo em R$ 140,00.

O certo é que ainda não foram dadas condições de mercado, que possam ser consideradas atraentes, sob o ponto de vista de investimentos no negócio de biomassa. Portanto, esse quadro pouco otimista, que retrata nossa realidade, deve ser revisto rapidamente pelo setor. O que ocorre com a Coruripe e com outros produtores serve de alerta. A Coruripe tem potencial para produzir na região do Triângulo Mineiro mais de 250 MWh, uma significativa contribuição ao sistema nacional, que necessita ser assegurada por uma política energética responsável e eficiente, que promova uma infra-estrutura adequada às reais necessidades do país.