Diretor de Operações da Goiasa, Goiás
Op-AA-09
Poucas atividades empresariais têm o privilégio de fornecer produtos que, além de contribuírem para a melhoria das condições ambientais, são obtidos em um processo industrial, cuja emissão controlada de efluentes, totalmente aproveitados na própria empresa, gera ganho econômico e baixo impacto ambiental.
A prática desta vocação para o desenvolvimento sustentável é a realidade que vive a atividade sucroalcooleira, atestada por todos que acompanham as modernas empresas do setor e distante de um passado de inúmeros erros, que nos granjeou uma reputação de falta de preocupação com as questões ambientais. A expansão que estamos vivenciando, na busca de atender a crescente demanda mundial por bioenergia, é uma ótima oportunidade de confirmar esta mudança de postura.
A compreensão de nosso papel como empreendedores zelosos do meio-ambiente, além de alinhada com o preceito constitucional que vincula o direito de propriedade às funções social e ambiental da terra, vai ao encontro da básica regra capitalista de preservação e valorização do capital. Se a grande maioria das atividades de produção necessita usar os recursos naturais, isto é particularmente intenso no nosso caso.
Se não cuidarmos para que esta exploração se dê com o menor impacto possível, garantindo sua sustentabilidade, estaremos destruindo nosso patrimônio. Em uma usina de açúcar e álcool, os resultados são medidos em produtividade e rendimento e não em produção e moagem de cana. A terra, capital de quem produz, é avaliada por sua capacidade de permitir que dela se obtenha boa produtividade.
Para isto, várias medidas devem ser tomadas, entre as quais uma das mais importantes é a preservação da cobertura florestal, principalmente nas nascentes, matas ciliares e de encostas, fundamental para a proteção e conservação da água do solo. A manutenção da polêmica Reserva Legal pode, também, proteger nosso patrimônio, ao ajudar a melhorar os fatores de produção, com o aumento da umidade e da presença de predadores naturais das pragas da cana-de-açúcar.
A queima da cana-de-açúcar, visando possibilitar a colheita manual com mais segurança, talvez seja a única questão a, ainda, provocar debates, entre aqueles que interagem no setor. Apesar de seu impacto não ter sido provado, causa incômodo às comunidades vizinhas aos canaviais, sendo alvo constante de questionamento pelo Ministério Público.
No entanto, esta é uma discussão com dias contados, seja porque os estados, como São Paulo, já estão regulando a prática, seja porque maiores taxas de crescimento da economia do país direcionarão os profissionais do corte de cana para atividades mais remuneradoras, obrigando as usinas a mecanizarem amplamente suas colheitas.
Os novos projetos encontrarão, com certeza, passivos ambientais nas áreas onde se instalarão. Providências deverão ser tomadas para enfrentá-los, entre elas, provavelmente a mais custosa, a recomposição da cobertura florestal. Estas medidas melhorarão o ambiente de produção e aliadas à correta utilização dos resíduos a serem gerados no processo industrial para adubação e incremento da matéria orgânica dos solos, trarão importantes ganhos de produtividade e longevidade, em canaviais de áreas menos férteis.
As questões do meio ambiente assumiram um caráter emergencial. Catástrofes climáticas em várias partes do globo, com enormes perdas humanas e materiais, trouxeram um sentido inédito de urgência e gravidade. O consumo exacerbado de combustíveis fósseis por populações que aspiram à passagem ao mundo desenvolvido faz da energia de biomassa a alternativa que pode ajudar este legítimo desejo a se materializar, sem causar danos irreparáveis ao planeta.
O aquecimento global, valorizando as formas de energia não emissoras de gases causadores do efeito estufa, traz inéditas oportunidades de incremento ao faturamento das unidades sucroalcooleiras, como a produção generalizada de energia elétrica a bagaço que, além de aproveitar um insumo com menor demanda nas áreas de instalação das novas usinas, poderá agregar, à receita, a venda de créditos de carbono.
É de fundamental importância buscar um maior contato com os técnicos dos órgãos ambientais que poderão ajudar na aprovação dos projetos e no direcionamento das ações, em consonância com suas exigências. A proximidade leva-os a uma atitude mais de consultores que de fiscais, auxiliando-nos a trabalhar melhor, harmonizando produção e preservação.
Este relacionamento poderá trazer, de acordo com nossa experiência, ao invés de autuações, prêmios de gestão ambiental. Oportunidades e ameaças convivem em todas as ações empresariais. Ao mesmo tempo em que temos a possibilidade de crescer de uma maneira nunca antes experimentada, estaremos sendo atentamente acompanhados para que vejam como nos desincumbiremos desta monumental tarefa.
Ao mesmo tempo em que outros povos anseiam pela energia limpa que podemos, eficientemente, produzir, exigem que isto se faça de forma a garantir o equilíbrio de um delicado ecossistema. Enquanto nos incentivam, procuram eles mesmos desenvolver seus programas de energia renovável, mesmo que, para isso, seja necessário instituir pesados subsídios, que os viabilizariam com a expectativa de que a escala de produção e novas tecnologias permita-lhes suspendê-los no futuro. Além de produzir ainda melhor, seremos instados a mostrar como o faremos. A certificação dos nossos processos de produção e industrialização da cana, conforme a norma NBR ISO 14.001, tornar-se-á um instrumento valioso.