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Sergio Francisco Aranha de Lima

Diretor de Manutenção da Lider Aviação

Op-AA-07

Manutenção na aviação executiva

A manutenção, de forma geral, trabalha sempre com os mesmos fatores: máquinas, homens e procedimentos. A gestão e a energia (tempo, dinheiro, mão-de-obra), que devem ser aplicadas para cada caso, estão diretamente ligadas à neutralização das prováveis conseqüências decorrentes de falhas, ou seja, quanto maior o risco de falha com conseqüências graves, maiores os cuidados necessários e a energia que deve ser desprendida para a manutenção, já que, quando realizada de forma incorreta, pode causar um pequeno desconforto ou morte.

Cabe a nós, estabelecermos estratégias inteligentes, que tratem de forma diferenciada cada tipo de equipamento, pois é certo: não podemos manter todos os equipamentos de uma indústria da mesma forma que na aviação. Porém, com certeza, existem equipamentos que, por sua importância, merecem uma estratégia de manutenção similar à dada pelas empresas de ponta da aviação.

O nosso negócio, aviação, exige que seja aplicada a energia máxima no processo de manutenção, por se tratar, principalmente, da segurança de pessoas, portanto, nossa estratégia é voltada para a confiabilidade total, que nos coloca, sem nenhuma modéstia, entre as melhores empresas de manutenção do mundo.

De uma forma simples e básica, uma visão geral da manutenção de aeronaves passa por alguns processos que fazem diferença entre outros segmentos. Porém, vale a pena ressaltar que a disciplina é a base para qualquer processo de manutenção. Portanto, é necessário ter sistemas que garantam o cumprimento dos planos de manutenção. Vamos falar de alguns diferenciais da nossa estratégia:

Projeto: No avião, a confiabilidade inicia nesta fase, onde a fábrica não se importa em apenas colocar o avião para voar, mas também em como mantê-lo. Define componentes críticos com vida útil estudada, freqüência de reposição e ainda fabrica as ferramentas especiais a serem aplicadas para cada modelo. E, em qualquer modificação na aeronave, é preciso envolver a fábrica.

Documentação Técnica: Cada modelo de avião tem um manual detalhado, com procedimentos a serem seguidos e as peças a serem aplicadas. Isso nos obriga a ter uma biblioteca técnica em cada oficina, atualizada continuamente com novos boletins da fábrica.

O manual de manutenção é de uso obrigatório pelo mecânico e nele estão todos os procedimentos a serem seguidos para uma manutenção correta. Esse manual é levado para o local do serviço e consultado, até mesmo, pelos mais experientes mecânicos.

Ferramentas: É preciso um grande investimento em ferramentas - já que, em sua grande maioria devem ser especiais e específicas para cada modelo de aeronave. As ferramentas necessárias para cada serviço estão discriminadas no manual e o setor de ferramentaria, além da guarda, é responsável pela inspeção e envio de ferramentas para recertificação, processo externo de calibração - quando especificadas pelo fabricante. Não existe improvisação de ferramentas.

Materiais: São quase, na sua totalidade, importados e é necessária uma garantia de boa procedência de cada peça, portanto, todo o material é rastreado até o fabricante, antes de aplicá-lo.

Assim, torna-se alta a responsabilidade da oficina que o aplica e, neste caso, a tolerância é zero para materiais com procedência duvidosa.

Planejamento: Os componentes de um avião têm vários tipos de contadores: horas voadas, mês, pouso e, em função do volume de componentes controlados (cerca de 2.000 itens), o planejamento é muito complexo. E, após definir as paradas para manutenção, um grande trabalho é feito para viabilizar o menor tempo possível de indisponibilidade da aeronave.

Inspetoria: Após cada tarefa executada, temos a figura do inspetor. Ele tem como responsabilidade garantir a qualidade da tarefa realizada pelo mecânico ou eletricista, já que inspeciona as tarefas. E, quando concluídas, assina como responsável para liberação do avião. É importante salientar que o inspetor não está ligado à produção e sim a uma área preocupada com a qualidade dos serviços.

Mão de Obra: Sua totalidade é o nível técnico, alguns a nível superior, com conhecimento de inglês técnico. Todos são certificados pelo DAC, com cursos na fábrica e na oficina sobre cada modelo de aeronave.

Auditorias: Acredito que auditoria é mandatória em qualquer processo para manter o padrão de serviços. É realizada periodicamente por órgãos de todo o mundo e tem como objetivo garantir que os procedimentos estejam sendo seguidos, além de gerar melhorias para o processo.

Para finalizar, deixo um resumo para reflexão e espero que contribua de alguma forma para as empresas que não são desse ramo.

 

  • Ter uma estratégia de manutenção, avaliando as necessidades e as conseqüências;
  • Invista certo. Utilize a tecnologia correta para o problema. Nem sempre é a mais cara, nem a mais moderna;
  • Ter um plano de manutenção compatível com a estratégia;
  • Acreditar que a manutenção pode ser um centro de lucros e não de custos;
  • Padronize sua manutenção, gaste energia nisso;
  • Tenha uma estrutura compatível com sua estratégia;
  • Tenha um planejamento que funcione na prática;
  • Seja rigoroso com a disciplina. Não custa nada;
  • Mantenha o time treinado para realizar um bom trabalho.

Ao longo destes anos, tenho visto que um dos grandes desafios do profissional de manutenção é descobrir o equilíbrio entre ter uma manutenção verdadeiramente adequada às necessidades da empresa e reduzir custo, de forma a não perder performance.