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Huber Mastelari

Diretor-presidente da LOTS Group Latin America

Op-AA-67

Na vanguarda do biometano no Brasil
Uma empresa nacional – a paranaense Geo Energética – desenvolveu o biodigestor adquirido por uma usina brasileira, a Cocal, sediada em Narandiba (SP), para gerar biometano, a ser distribuído por gasoduto também construído pela iniciativa privada do País, a GasBrasiliano. Esses investimentos farão o biogás chegar a Presidente Prudente (SP). As demais cidades do oeste paulista também serão beneficiadas. Caminhões a gás já fabricados no Brasil – primeiro pela Scania – e operados por transportadoras aqui instaladas levarão o combustível para consumidores fora do trajeto do encanamento. 
 
Esse exemplo é emblemático de vários movimentos simultâneos em andamento no Brasil, que revelam o amplo leque de oportunidades e tendências do biogás no setor sucroenergético. Além de representar o pioneirismo da parceria dos produtores rurais com a indústria nacional para desenvolver novas tecnologias e fazer investimentos expressivos na geração de combustível renovável, o conjunto de iniciativas simboliza o potencial da circularidade “ponta a ponta” nessa atividade do agronegócio.

A começar pelo plantio da cana-de-açúcar, considerada equivalente a uma “árvore” em um processo natural de reflorestamento. Na continuidade da produção de açúcar e etanol, esses produtores geram o biogás para ser vendido a outros setores, mas também para ser usado para abastecer suas frotas próprias de veículos. 

Dentro de algum tempo, essa cadeia incluirá a utilização de máquinas e equipamentos movidos a biometano. Embora ainda não disponíveis para venda, equipamentos e máquinas agrícolas movidos a biometano fabricados no Brasil estão sendo testados no campo para validação das novas tecnologias, que são promissoras. Ao produzirem seu próprio combustível, o biometano, essas usinas poderão abastecer suas frotas e todos os maquinários. Terão o ciclo completo em um só lugar. Da produção de um combustível limpo sairá outro combustível, também renovável, para consumo próprio e das empresas, com forte política de sustentabilidade. Elas serão igualmente beneficiadas, pois passarão a contar com fontes de energia renováveis em suas cadeias produtivas.
 
Da mesma forma, três a cinco indústrias de biodigestores já fornecem essas usinas para a produção do biogás. Tudo isso caminhando em paralelo com pesquisas para obter biometano por meio de outras fontes que não o bagaço da cana – a partir de rejeitos do processamento de papel e celulose, por exemplo. 

Com o aumento da importância da sustentabilidade e dos aspectos ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) nas empresas, não há dúvida de que caminhamos para uma demanda crescente de combustíveis limpos e de fontes renováveis. E, nessa boa onda, a comercialização de créditos de carbono finalmente ganhará peso, lançando uma fonte adicional de receitas para as usinas. O excedente de créditos pode ser compartilhado e vendido às corporações que precisam compensar a pegada de carbono no seu processo produtivo. 

Não faltam motivos para o setor persistir nessa direção: cada vez mais, o biogás estará no centro do enfrentamento das mudanças climáticas, bem como exercendo, no curto e no médio prazo, papel decisivo na transição do modelo vigente de transportes de cargas para a eletrificação – que se apresenta viável em um horizonte de longo prazo, por exigir altos investimentos em infraestrutura no sistema viário.

Portanto haverá demanda crescente de biometano para abastecer caminhões e ônibus. Com essa perspectiva positiva, o investimento privado tenderá a aparecer cada vez mais, com a indústria sucroenergética dando o exemplo de como fazer isso acontecer.

Outra constatação é que o pioneirismo do setor sucroenergético já começa a ser ampliado. Com a criação de tecnologia para produzir etanol à base de milho, as usinas conseguem operar durante os doze meses do ano, inclusive na entressafra. 

O mesmo ocorre com os rejeitos das indústrias florestal e de papel e celulose. Ao bagaço da cana vai se somar, em breve, o bagaço orgânico da celulose. O setor sucroenergético também será, em curto prazo, referência para a produção de biometano com o lixo de aterros sanitários, um potencial enorme que ainda está para ser explorado no Brasil e deve ganhar impulso com o novo marco regulatório do setor de saneamento.

Se já temos essas conquistas, o que falta para ganharmos escala? Poderíamos colocar todo o peso na nossa legislação pendente, como a aprovação, pelo Congresso Nacional, da lei que regula o Novo Mercado do Gás. Mas ainda há muito a ser feito pelo setor privado. 
 
Na LOTS, decidimos fazer parte da inovação do presente mercado da sustentabilidade nos transportes e do futuro mercado da automação, entendendo que as operações logísticas de alta demanda podem e devem ser livres de combustíveis fósseis e mais inteligentes.  

E o setor sucroenergético se insere nessa necessidade de um viés tecnológico na implementação de fluxos logísticos eficientes, com o que há de mais moderno em produtividade e metodologia Lean ofertadas nas nossas operações monitoradas por torres de controle. 
 
Como parte do grupo Scania, fabricante sueca que assumiu a liderança rumo ao transporte sustentável, a LOTS apoia diversas iniciativas de combustíveis limpos, especialmente o biogás. Acreditamos que esse mercado, sobretudo o de cargas pesadas, será eletrificado, mas num futuro mais distante. 
 
Na nossa avaliação, o biogás é a solução de curto e médio prazo mais sustentável, principalmente nas regiões em que atuamos, em comparação à eletrificação, que deve deslanchar no longo prazo. Inclusive, desde a safra 2020, a LOTS, em parceria com a Scania, testa um caminhão a gás no setor sucroenergético. É apenas o pontapé inicial, pois as oportunidades que o agronegócio oferece para o avanço da produção e do consumo do biogás são múltiplas. 

E os ganhos não param aí, o setor é um grande produtor de energia, de várias fontes: biomassa, etanol e biometano, que viram eletricidade para consumo industrial, além de ser bem sustentável. As aplicações são diversas, e toda a sociedade pode se beneficiar.

Estamos certos de que, se houver consumo, haverá oferta. E vice-versa. Assim, a roda vai girar. Ou melhor, já está girando.