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Calebe Lorden Vital da Silva

Gerente Comercial da CLI Sul – Corredor Logística e Infraestrutura

OpAA82

O Brasil está preparado para enfrentar desafios logísticos?
O maestro caminha lentamente até o pódio ao som de pequenos aplausos. Após um breve momento de completo silêncio, ergue seus braços e então passa a reger a abertura imponente e emocionante de uma bela ópera. Houve um tempo em que tais espetáculos representavam o auge do entretenimento.

As obras prendiam a atenção dos espectadores durante duas, três ou até mais horas. Os tempos mudaram e novos “atores” entraram em cena; novas tecnologias como cinema, televisão, internet, streaming e redes sociais redefiniram os parâmetros de entretenimento ao longo dos anos. Na logística, a situação não é diferente, cada inovação tecnológica tem marcado um novo ato no espetáculo da vida real.
 
No palco logístico, vemos o desenrolar de uma trama envolvente: o Brasil está preparado para enfrentar os desafios logísticos para abastecer o mercado mundial de açúcar? Os portos estão preparados para acomodar o crescimento das safras de grãos e açúcar? 

Existe um fato importante que serve de ponto de partida para a nossa aventura: a produção de produtos agrícolas cresce de forma mais rápida que o avanço da infraestrutura logística. Diante desse desequilíbrio, oferta e demanda por vezes parecem ensaiar um ballet digno de ser apresentado no Bolshoi. Durante períodos de crise logística, é necessário respirar fundo e tentar enxergar o copo meio cheio, isto é, identificar as oportunidades que redefinirão o sincronismo da dança entre oferta e demanda de logística. 

A história recente de grãos tem algo a nos ensinar neste respeito. A produção brasileira de soja e milho cresceu de forma acelerada em décadas recentes, e, assim como um rio que em algum momento vai desaguar no mar, o produto encontrou formas de ser exportado até quando as opções de escoamento não eram tão claras. Períodos de restrições logísticas incentivaram a criação de rotas e soluções alternativas, como, por exemplo, o já consolidado Arco Norte brasileiro – importante corredor de exportação de grãos instituído em 2008 como um plano estratégico que integrou portos e terminais de transbordo nos estados do Amapá, Amazonas, Rondônia, Pará e Maranhão.  

No caso do açúcar, não é só a cana que se tem mostrado resiliente. O açúcar produzido no Centro-Sul possui vocação natural para escoamento via porto de Santos ou, a depender da região, pelo porto de Paranaguá. A produção de açúcar na safra 23/24 superou as expectativas iniciais esperadas pelo mercado, e este produto foi disponibilizado para exportação. 

No entanto, o açúcar se deparou com um cenário desafiador: grãos competindo agressivamente pela capacidade portuária no porto de Santos e terminais açucareiros com as capacidades já tomadas. Assim como a história de grãos ensinou que o “rio encontra uma forma de chegar até o mar”, surgiram novas soluções logísticas alternativas para suprir a demanda de embarque de açúcar como, por exemplo, o porto de Antonina no Paraná e o porto de São Sebastião no estado de São Paulo. 

A CLI Sul (Corredor Logística e Infraestrutura), terminal portuário localizado em Santos, detém 40% do total de exportação acumulada de açúcar no porto de Santos dos últimos 12 meses e é o maior terminal exportador deste produto da América Latina. Como parte relevante da cadeia de abastecimento global de açúcar, buscou inovar mesmo diante do cenário desafiador de estresse logístico. Foi uma busca intensa para aumentar a produtividade e eficiência operacional dos ativos sob sua gestão e garantir o fluxo saudável do abastecimento global da commodity. 

Reger uma orquestra não é uma tarefa fácil, mas quanto maior seu tamanho e complexidade mais imponente e marcante será a música por ela executada. A CLI assumiu a batuta dessa grande orquestra, isto é, as operações do terminal de Santos em novembro de 2022 e, já em abril de 2023, iniciou um novo e disruptivo modelo operacional para o açúcar, conhecido como “Modelo de Pool”. Inspirado no modelo operacional existente em grãos, a elaboração e adaptação do conjunto de regras para a realidade do mercado de açúcar exigiu tempo e esforço. 

Lembro-me de diversas vezes reunirmos a equipe em uma sala com um desejo, um propósito, um quadro branco na parede e uma caneta na mão. Discutimos incansavelmente os possíveis cenários, e, após muito trabalho, foi concluído em tempo o Regramento de Operações em Pool de Açúcar da CLI. Visto com certa apreensão pelo mercado nos meses que antecederam seu início, o modelo em pool se consolidou e provou que criatividade e inovação também podem ser aplicadas aos modelos de gestão existentes. Foi necessário pensar diferente para trazer resultados diferentes. 

O modelo consiste em tornar a operação dos membros participantes em um sistema fluído de entregas, empréstimos e devoluções de carga no porto mantendo a boa ordem do line up, modelo este que torna o sistema mais dinâmico, requer menor capacidade de armazenamento e mantém fluxos operacionais estáveis com baixa exposição à interrupção do fluxo logístico. O modelo pioneiro criado pela CLI foi um divisor de águas no mercado de açúcar por destravar capacidade e já está sendo replicado em outros corredores logísticos.

Há projetos também em andamento que ampliarão a infraestrutura portuária em Santos. Entre os projetos em desenvolvimento que trarão retorno no curto prazo (1-3 anos) destacam-se a CLI e o STS11. O projeto de modernização da CLI consiste num programa robusto de investimentos no complexo portuário de Santos, incluindo a construção de um novo parque de moegas, novo armazém, novo shiploader, entre outros investimentos, que deverão ampliar a capacidade de recebimento e elevação do terminal dos atuais 16 milhões para 19 milhões de toneladas por ano.
 
Em resumo, o plano de fundo neste palco da logística é claro, há expectativa de crescimento na produção e na exportação de açúcar e grãos, bem como há investimento em infraestrutura portuária no curto/médio prazo para atender a estas demandas. No curto prazo, provavelmente com o avanço das obras e liberação das novas capacidades, a exportação de açúcar volte ao seu caminho natural e reduza a participação em portos alternativos, trazendo maior eficiência para o sistema.

Em contrapartida, enxergo que o forte crescimento esperado de grãos ocupará progressivamente as novas capacidades ao longo do tempo e pressionará de certa forma o mercado de açúcar. Para garantir seu acesso à logística vocacional, as tradings e usinas de açúcar precisarão se planejar no modelo alongado, em contratos de longo prazo. 
 
A CLI está preparada para continuar na dianteira do fornecimento mundial de produtos agrícolas, como principal terminal exportador de açúcar do Brasil e maior terminal bandeira branca de exportação de grãos do porto de Santos. Os avanços feitos no modelo de gestão operacional, no aumento da produtividade e eficiência bem como nos projetos que estão em andamento reforçam esse comprometimento para com o mercado e mostram que o Brasil continuará como protagonista desse espetáculo, garantindo o abastecimento global de alimentos.