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Júlio César Pinho

Petrobras Biocombustível

Op-AA-18

O desenvolvimento dos biocombustíveis no Brasil

O Brasil destaca-se globalmente pelo alto nível de sustentabilidade e de renovabilidade, principalmente da nossa matriz energética, que em grande parte vem do setor sucroalcooleiro. Ela tem, praticamente, 45% da sua composição de fontes renováveis - contra os 13% da média mundial, devido à fortíssima representação do setor hidrelétrico e sucroalcooleiro.

O Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor de etanol no mundo. Hoje, a produção de etanol divide-se da seguinte forma: América do Sul com 38%, América Central e do Norte com 37%, Ásia com 16% e Europa com 9%. Primeiramente, faremos um overview do setor sucroalcooleiro no Brasil e da energia no mundo para, depois, entrarmos na questão do que o Sistema Petrobras representa nesse setor, o que planeja fazer e quais são suas metas, onde se inclui a nova empresa Petrobras Biocombustível.

Atualmente, temos três principais rotas de produção de etanol. A rota sacarina, uma tecnologia totalmente dominada no mundo, representada no Brasil pela cana-de-açúcar e mundo afora pela beterraba, arroz, trigo e várias outras matérias-primas. A rota amilácea é a utilizada pelos Estados Unidos para a produção de etanol através do milho. A produção de energia através de material vegetal pode gerar discussão e conflito com a produção de alimento. A China é um bom exemplo.

Em 2001, ela desejava se tornar um player global na produção de biocombustíveis e tomou uma série de ações nesse sentido. Mas, em razão de conflitos, acabaram descontinuando o projeto e optando pela produção de alimentos. A rota de lignocelulose, ou etanol de segunda geração, tem recebido imenso investimento e está em desenvolvimento em uma centena de centros de pesquisas no mundo.

A Petrobras tem hoje uma planta-piloto em funcionamento no Cenpes, nosso Centro de Pesquisa, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. A tecnologia de lignocelulose tem potencial para revolucionar o setor e sua configuração, porque são utilizados materiais residuais da agricultura ou qualquer outra biomassa rica em celulose para produção de etanol.

Com a tecnologia da lignocelulose, toda a palha de soja, de milho e de arroz, que existe na produção, por exemplo, da China, poderia ser usada para a obtenção de etanol. Essa tecnologia tem duas opções bastante diferentes, a ácida e a enzimática. A opção enzimática tem, primeiro, uma fase ácida, seguida de uma enzimática. O principal problema da ácida é a qualidade do produto e o rendimento. O principal problema da opção enzimática é o custo.

Pela ácida, com uma tonelada de bagaço de cana, por exemplo, pode-se produzir cerca de 85 litros de etanol. Já pela opção enzimática, pode-se chegar a 220 litros de etanol com a mesma tonelada de bagaço. A previsão do Cenpes da Petrobras é que, em 2010, consigamos instalar uma planta de produção semi-industrial, utilizando essa tecnologia.

Para cada matéria-prima e cada material celulósico utilizado, é necessária uma enzima específica para maximizar o rendimento desse processo. Pode ser, que no futuro, consigamos desenvolver uma superenzima que processe palha de soja, bagaço de cana e cavaco de madeira. Mas, ela ainda não existe. A Petrobras assinou uma parceria com a Novozymes, uma das maiores produtoras de enzimas do mundo, para desenvolver uma enzima específica para o bagaço de cana.

A vantagem da cana sobre as outras opções é que ela está muito centralizada e não haveria um custo logístico muito grande para a implantação desse processo. Essas diretrizes fazem parte do Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011 e tem algumas questões muito relevantes, como: o desenvolvimento da agroenergia no Brasil, a agroenergia e a produção de alimentos - de forma complementar e não competitiva, o desenvolvimento tecnológico, a autonomia energética comunitária, a geração de emprego e renda, a otimização do aproveitamento de áreas antropizadas e das vocações regionais, a liderança no comércio internacional de biocombustíveis e a aderência à política ambiental.

Em relação ao desenvolvimento tecnológico e à autonomia energética comunitária, esse documento levanta uma questão importante: a de que deveríamos empenhar esforços no sentido de criar alternativas tecnológicas para uma produção descentralizada de álcool, de forma a promover a inserção econômica e social da pequena produção de etanol.

Gostaria de enfatizar também a questão da aderência à política ambiental. A Petrobras acompanha e faz parte de alguns fóruns mundiais que estão discutindo a questão da sustentabilidade da produção de biocombustíveis e, conseqüentemente, a sua certificação. Somos companheiros da Unica em um desses fóruns que teve origem na Suíça, o Round Table on Sustainable Biofuels, que chegou a um documento final, uma versão zero, que foi publicada e comunicada à imprensa.

Represento a Petrobras nesse fórum e sou testemunha da ativa participação que a Unica teve na versão final do documento. Hoje, não há como fugir da questão ambiental, que está em pauta no mundo todo. É uma discussão importante e precisamos fazer um grande esforço para participar desses fóruns e levar a nossa opinião, visão e posicionamento, de forma muito consistente. Não temos espaço para uma posição passiva e secundária nessa discussão global, porque somos grandes produtores de etanol no mundo e seremos ainda mais de biodiesel.

A estratégia da Petrobras no segmento de biocombustíveis é atuar, globalmente, na comercialização e logística de biocombustíveis, liderando a produção nacional de biodiesel e ampliando a participação no negócio de etanol de diversas maneiras. Entre 2008 e 2012, a Petrobras prevê o investimento de US$ 1,5 bilhão em projetos de biocombustíveis, envolvendo produção e transporte, sendo 46% desse valor para dutos e alcooldutos, 29% para biodiesel, 25% para as demais atividades, onde se inclui o H-Bio - um diesel que utiliza fontes renováveis na sua composição (óleos vegetais como o de mamona, girassol, soja, ou dendê), mas tem as características físico-químicas finais semelhante às do óleo diesel mineral.

A Petrobras tem como metas corporativas para o segmento de negócios de etanol, sair de uma exportação, em 2008, de 500 mil m³, para 4,7 milhões de m³, em 2012, com um crescimento de 75% ao ano. Temos um conjunto de investimentos que está em análise na companhia para produção de etanol. A Petrobras assinou um acordo com a Mitsui e temos alguns projetos em análise mais avançada, e outros em fase de implementação.

Os projetos de etanol são todos em parceria com a nova empresa, a Petrobras Biocombustível, e serão geridos e administrados pela Diretoria de Participações. Na Diretoria de Produção Industrial, serão geridos os projetos nos quais não há participação de sócios, ou seja, 100% da Petrobras. Por enquanto, temos apenas projetos de produção de biodiesel, que são 100% da Petrobras.

Em relação ao biodiesel, nossa meta de disponibilização é de 329 mil m³, em 2008, para chegar a 1,1 milhão de m³ de biodiesel, em 2015. Falamos em disponibilização, porque a nossa preocupação é desenvolver projetos que sejam 100% da Petrobras e projetos em parcerias. Hoje, a Petrobras é a principal compradora de biodiesel. Quando falamos de disponibilização, significa tanto a produção própria da Petrobras, quanto a produção de biodiesel que será comprada pela companhia, através de leilão ou de contratos com empresas produtoras no Brasil.

Agricultura familiar: A Petrobras apoiou uma cooperativa do Rio Grande do Sul na implantação de um projeto de agricultura familiar, para verificar a sua viabilidade. O projeto contempla nove microdestilarias, com capacidade de produção de 500 litros/dia. Existe uma unidade retificadora central, colocada para garantir a especificação do produto. O projeto é muito diferente, porque a plantação de cana é feita de forma consorciada com a produção de alimentos.

Quando a cana é cortada, pode-se plantar, no meio das ruas da soqueira, milho, girassol, abóbora, e uma série de produtos com ciclo vegetativo rápido, de 3 a 4 meses. Antes que a cana cresça e forme uma cobertura para aquela produção secundária, o agricultor procede à colheita da cultura consorciada. O bagaço é utilizado não só para a geração de energia, mas como fertilizante e como alimento animal, porque na microdestilaria, o coeficiente de extração do caldo é da ordem de 70% - muito menor que o da moenda da usina, com um aumento de 20% da produção de leite.

Biodiesel: A Petrobras tem duas plantas-piloto de produção de biodiesel, localizadas em Guamaré, no Rio Grande do Norte, e três plantas industriais, localizadas em Quixadá, Candeias e Montes Claros.

O importante nessas plantas-piloto, para o setor sucroalcooleiro, é que, hoje, praticamente toda a produção de biodiesel no Brasil é feita utilizando metanol. A Petrobras está desenvolvendo duas tecnologias: uma tradicional, cujo objetivo é ter uma tecnologia nacional, para que não tenhamos que comprar tecnologia estrangeira toda vez que instalarmos uma planta de biodiesel.

Na segunda planta-piloto, o objetivo é fazer o processo de transesterificação, não a partir do óleo, e sim da semente. Isso é importante para a produção de biodiesel, porque, quando montamos um projeto de biodiesel, temos, basicamente, duas sessões, a de esmagamento e a de transesterificação. O maior investimento que se faz é na sessão de esmagamento, para pegar o grão ou a semente, esmagar e tirar o óleo.

Na tecnologia que estamos desenvolvendo, não é preciso esmagar a semente para retirar o óleo, é preciso apenas quebrar a semente e provocar uma fissura no grão, para que o reagente possa entrar e fazer a transesterificação e, depois, com a centrifugação, tira-se o produto final. Estamos desenvolvendo tecnologias que utilizarão o etanol como catalisador para o processo.

Nas plantas de Guamaré foram investidos R$ 20 milhões, produzem 20,4 milhões de litros por ano e envolvem 5.200 famílias. Nas plantas de Quixada, Candeias e Montes Claros foram investidos R$ 227 milhões, produzirão 171 milhões de litros por ano e envolverão cerca de 70 mil famílias. Já existem mais de 6 mil postos, da BR Distribuidora, vendendo biodiesel no Brasil.