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Alan Charlton

Embaixador do Reino Unido no Brasil

Op-AA-22

Para nós, não há plano B

Em dezembro, as atenções dos líderes mundiais estarão voltadas para as negociações de um novo acordo global para o clima. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, espera que a Conferência do Clima em Copenhague fique marcada como um daqueles momentos em que as nações se unem para fazer história. Para nós, não há plano B. Não há segunda chance quando se trata de mudança do clima.

O governo britânico tem trabalhado de maneira incessante para criar políticas públicas que estimulem a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa - GEEs, e já cumpriu as metas do Protocolo de Kyoto, com reduções de 18,4% em 2007, acima das metas obrigatórias de 12,5%, baseado nos níveis de emissão de 1990. Projeções recentes indicam que se pode esperar uma redução de emissões de 23% até 2010.

Na área de energias renováveis, o governo assumiu um compromisso de utilização de 10% de combustíveis renováveis no setor de transportes, como parte da Diretiva Europeia para Energias Renováveis - RED, aprovada pelo Parlamento Europeu no fim do ano passado. Acreditamos que os biocombustíveis sustentáveis apresentam-se hoje como uma das mais importantes alternativas, tanto para redução de GEEs no setor de transporte, como para aumentar a segurança energética dos países.

Por esses motivos, o incentivo ao seu uso é hoje mais do que uma obrigação legal, é uma realidade. O fato é que iniciativas como a do governo britânico deverão beneficiar o Brasil, já que a demanda por biocombustíveis irá aumentar e, consequentemente, impulsionar a criação de um mercado global. O Brasil desempenha um papel fundamental, pois, além de ser uma potência energética - notadamente o segundo maior produtor e maior exportador mundial de biocombustíveis - tem uma posição estratégica de liderança na América Latina.

Em especial, o etanol brasileiro é reconhecido internacionalmente por apresentar o maior potencial de redução de GEEs entre os biocombustíveis de primeira geração, o que amplia as perspectivas de exportação do produto para a Europa. Atualmente, os países europeus discutem critérios de sustentabilidade que servirão como base para certificação dos biocombustíveis comercializados no mercado interno.

Entendemos que esse processo deve ser visto como uma oportunidade para o Brasil, uma vez que o etanol apresenta uma clara vantagem em relação aos outros biocombustíveis, com índices de redução de emissões superiores aos exigidos pela diretriz europeia, entre outros critérios. Essa vantagem pode ser comprovada por dados recentes sobre o consumo interno de biocombustíveis no Reino Unido, apresentados pela Agência Britânica de Combustíveis Renováveis (RFA, do inglês
Renewable Fuel Agency), indicando que 85% do etanol utilizado no país são provenientes do Brasil.

Essa é uma clara demonstração do reconhecimento da liderança brasileira no setor. Dentro desse contexto, gostaria de destacar os esforços brasileiros na busca constante de aprimoramento do setor, tanto na utilização de novas tecnologias, como na busca de maior eficiência nos processos agrícolas e industriais, e parabenizar o empenho em desenvolver políticas públicas que busquem atender aos critérios socioambientais atualmente em discussão, como o Zoneamento Agroecológico da Cana e o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar.

Essas políticas demonstram o comprometimento do país com a preservação ambiental e a garantia da sustentabilidade dos biocombustíveis brasileiros.
O desafio no médio prazo será a consolidação do mercado global de biocombustíveis, com o aumento da oferta e da demanda. Considerando as limitações geográficas da Europa, o Reino Unido vem incentivando e promovendo o uso de biocombustíveis de segunda geração e, em parceria com o Brasil, apoia um programa de pesquisa conjunta de intercâmbio entre pesquisadores da Embrapa e universidades britânicas.

O Reino Unido não deverá adotar políticas tão ambiciosas para criar um mercado interno de biocombustíveis como o brasileiro, já que, no médio e no longo prazos, estamos apostando nos carros híbridos e elétricos. Mas podemos, sim, apostar em uma política de aumento da mistura de etanol na gasolina. Portanto esperamos fortalecer o nosso diálogo com o Brasil, nessa área tão promissora, e trabalhar com o governo brasileiro para a consolidação do mercado global de biocombustíveis. Estamos confiantes que iniciativas como essa são fundamentais para enfrentar o maior desafio da nossa geração: o de acelerar a transição para uma economia global de alto crescimento e baixas emissões de carbono.