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Amaury Pekelman

Presidente da UDOP

Op-AA-58

Respirando novos ares
Responsável hoje por cerca de 20% da atividade econômica do Brasil, o agronegócio deve crescer em torno de 1,35% neste ano de 2018, refletindo o recrudescimento da economia nacional como um todo, que vive hoje a esperança de dias melhores com um novo governo, que tomará posse a partir de 1º de janeiro de 2019.
 
O pequeno crescimento do PIB do agronegócio em 2018 é fruto de uma série de fatores, como a alta nos custos de produção, os efeitos da greve dos caminhoneiros e do tabelamento de frete, a insegurança jurídica, dentre outros pontos. As exportações do agronegócio brasileiro em 2017 somaram mais de US$ 96 bilhões, 13% acima de 2016, o que representou 44% de todas as exportações brasileiras. Ou seja, sem o agronegócio, o déficit da balança comercial brasileira em 2017 seria de US$ 15 bilhões. 
 
Estamos falando de um setor que, nos últimos 20 anos, foi responsável pela exportação de nada menos que US$ 1,23 trilhão. Dentro do agronegócio, destacamos a cadeia sucroenergética, que processou, em 2017/2018, cerca de 630 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O Brasil é hoje o maior produtor de cana do mundo, tendo mais de 365 usinas e cerca de 70.000 produtores rurais. O PIB da cadeia sucroenergética na safra 2017/2018 foi da ordem de R$ 85 bilhões, gerando cerca de 800 mil empregos diretos em mais de 20% dos municípios do Brasil. O setor se mantém como o 2º setor agropecuário mais importante para a balança comercial brasileira, gerando cerca de 12 bilhões de dólares anuais em exportações. 
 
Outro benefício do setor vem da área ambiental. Somos responsáveis hoje pela redução nas emissões de gases de efeito estufa da matriz energética de transportes, em linha com as necessidades do Brasil para cumprimento de seus compromissos firmados em 2015, no Acordo do Clima de Paris (COP21).
 
O etanol evita em até 90% a emissão de gás carbônico (CO2) ao longo de seu ciclo de vida. Para se ter uma ideia do impacto ambiental disso, de 2003 até hoje, o setor evitou a emissão de mais de 450 milhões de toneladas de CO2eq. Esse volume equivale às emissões individuais de países como Itália, Espanha e França em 2016. 
 
Além de todos esses benefícios, e muitas outras externalidades, o setor da bioenergia é responsável pela fixação do homem no campo, em pequenas cidades, localizadas nas novas fronteiras agrícolas de diversos estados da região Centro-Sul do Brasil, e que têm no setor sua maior fonte de arrecadação, que propicia, inclusive, a geração de empregos e renda e a circulação de divisas nessas pequenas comunidades.
 
Toda essa cadeia de negócios vê com bons olhos a eleição de Jair Bolsonaro, um presidente desenvolvimentista, que assume o comando do País para um novo ciclo de crescimento para o Brasil, alicerçado em políticas de Estado que possam perdurar por mais de uma gestão e que garantam a segurança jurídica tão necessária, e até então precária, e cujos reflexos vemos nos números crescentes de fechamento de usinas e severa crise financeira de outras.
 
Poucos setores da economia estão tão atrelados aos mandos e desmandos do governo como o setor sucroenergético, haja vista que, dos três principais produtos que temos em nossa cadeia, dois deles, etanol e energia elétrica (bioeletricidade), têm seus mercados regulados pelo governo.
 
O passado já nos mostrou os riscos de políticas eleitoreiras que acabaram por dizimar cerca de 1/3 das usinas brasileiras, nos governos Lula e Dilma. Com Jair Bolsonaro no comando da nação, temos esperança de que respiramos novos ares de desenvolvimento, principalmente com a adoção de medidas que permitam maior fortalecimento para nossos produtos e nossa cadeia de negócios genuinamente brasileira, o que deve gerar um forte estímulo ao crescimento interno alicerçado em políticas de longo prazo e maior previsibilidade e segurança.
 
A escolha, por exemplo, da deputada federal Tereza Cristina como nova Ministra da Agricultura do governo Bolsonaro foi muito bem recebida por todo o segmento do agronegócio. Tereza Cristina é muito ligada ao setor, tendo em seu currículo ações muito bem desenvolvidas na área, quando de sua gestão no estado do Mato Grosso do Sul e mesmo na presidência da Frente Parlamentar Agropecuária na Câmara dos Deputados.
 
Dentre as agendas positivas que podemos sugerir para o novo governo, estão políticas que possam prevenir, por exemplo, a invasão do etanol de milho americano no mercado brasileiro, seguindo o que outros países têm feito (União Europeia, China e Paraguai) a fim de protegerem seus mercados e reconhecer o papel estratégico do etanol em nossa matriz energética.

A manutenção de benefícios fiscais nas novas fronteiras desenvolvimentistas, como o Centro-Oeste, é outra política necessária para que o setor possa se manter competitivo. Isso porque, nessas novas áreas, esses benefícios foram oferecidos a fim de se manter a equalização de custos, investimentos na geração e qualificação profissional, investimentos em logística, adequações e tratamentos de solo para essa nova cultura, adaptada para essas fronteiras agrícolas. Benefícios esses que, também, contribuíram para uma maior competitividade dos custos logísticos.
 
A regulamentação do RenovaBio é, também, de suma importância para continuarmos crescendo. O RenovaBio já avançou grandes passos, mas ainda carece de regulamentações e do cumprimento de prazos para que possa, efetivamente, surtir os efeitos desejados, a partir de 2020, que permitirão dobrar nossa atual produção para atender ao mercado crescente de biocombustíveis nos próximos 10 anos.
 
Da porteira para dentro, o setor também precisa fazer sua parte. Para isso, a UDOP – União dos Produtores de Bioenergia tem investido fortemente na capacitação profissional e principalmente no fomento à pesquisa aplicada, tão necessária para o ganho de competitividade.
 
Vemos na inovação a alavanca que pode nos impulsionar para novos patamares de desenvolvimento. Nosso desafio é diminuir nossos custos de produção e aumentar nossa produtividade, ganhando, com isso, maior competitividade para disputarmos em pé de igualdade com nossos principais concorrentes.
 
Nosso desafio, no entendimento da UDOP, é saltarmos da atual produção de 5 a 6 mil litros de etanol por hectare para 10 a 12 mil litros/hectare. Mas isso só será possível com aplicação de inovações e novas tecnologias, tanto no campo como nas usinas. Aí também vemos a importância do Ministério da Ciência e Tecnologia do governo Bolsonaro, que promete investir em pesquisas e no melhoramento da ciência aplicada a nosso segmento.
 
Nessa linha, também, a UDOP vem firmando parcerias com importantes centros de pesquisa, como a Embrapa, a Esalq-USP, a Faculdade de Agronomia da Unesp de Jaboticabal, o CTBE e, mais recentemente, a Fapesp, para citar apenas algumas, que visam dar o impulso necessário para este novo momento que vamos adentrar.
 
Todos esses desafios se abrem como importantes oportunidades de repensarmos nossas estratégias e nos fortalecermos ainda mais. Oxigenados por uma nova ordem nacional, rogamos que possamos romper a inércia e voltarmos a crescer. Oxalá!