Diretor da Consnufer Consultoria Agrícola
Op-AA-05
Dentre os diversos fatores de produção da cana-de-açúcar, a adubação destaca-se como a prática fundamental para o alcance da maximização da produtividade econômica da cultura. Na região centro-sul, a cana tem apresentado significativos incrementos de fronteira agrícola, onde a maioria dos solos requer intensas práticas de adubação.
A cana extrai e exporta grandes quantidades de nutrientes do solo, os quais devem ser repostos pelo próprio solo ou através da adubação mineral. O fertilizante é um insumo de preço elevado e participa, em média, em torno de 20% do custo total da cultura. A calagem apresenta efeito corretivo da acidez do solo e também nutricional (fornecimento de cálcio e magnésio).
Apesar da cana ser relativamente resistente à acidez do solo, a calagem em cana-planta, quando necessária, deve ser realizada em área total. A correção do pH do solo, dentre outros aspectos, contribui para melhor aproveitamento dos fertilizantes minerais, decomposição da matéria orgânica e intensificação das atividades microbiológicas do solo. O uso de equipamentos de aplicação de calcário, que façam uma distribuição uniforme do corretivo no solo, é fundamental para o êxito da prática.
A aplicação do calcário no sulco de plantio, como fonte nutricional, tem sido alternativa adotada por algumas unidades produtoras. Neste caso, na aplicação, deve-se evitar o contato direto entre o fertilizante e o corretivo, para não retrogradar nutrientes, principalmente, o fósforo. Excelentes resultados têm sido obtidos principalmente, em solos com baixa capacidade de troca catiônica, com a aplicação do calcário em soqueiras. O gesso, material muito mais solúvel que o calcário, também tem incrementado a produtividade das soqueiras, pelo fornecimento de enxofre e principalmente, de cálcio.
Estas práticas não deixam de contribuir para o aumento da longevidade da cultura. É importante observar que a análise química do solo constitui a principal ferramenta para a recomendação de adubação e calagem para a cana. Amostragens de terra, tanto em pré-plantio, como nas soqueiras, permitem o monitoramento de diferentes áreas, através das análises químicas do solo, o que facilita a elaboração de programas de adubação, com maior segurança.
A fixação do nitrogênio (N2) atmosférico por raízes de cana, através de bactérias, principalmente, Aceto-bacter, é uma realidade. Isto faz que, com maior intensidade na cana planta, haja menor reação à adubação nitrogenada. Maiores respostas da cana-planta ao nitrogênio ocorrem quando se planta a cana pela primeira vez; quando o plantio ocorre em solos eutróficos (alta V%) e em plantio direto.
Devido a sua baixa mobilidade no solo, o fósforo é preferencialmente aplicado em dose total - para todos os ciclos, no fundo do sulco de plantio (quanto mais fundo melhor). Esta dosagem irá suprir as necessidades da cana-planta e das soqueiras subseqüentes. O potássio, na forma de KCl, deve ser adicionado nas formulações de plantio e soqueiras, apresentando excelentes resultados. As soqueiras apresentam uma composição N:K, cuja relação pode variar de 1:1 a 1:3, dependendo da fertilidade do solo.
Para o N, nas soqueiras, tem-se empregado o nitrato de amônio ou sulfato de amônio, que permitem que o fertilizante seja aplicado superficialmente no solo, sem necessidade de incorporação, com um mínimo de perdas de N, por volatilização. No caso de utilizar-se uréia - fonte que pode apresentar menor custo por unidade de N, a mesma deverá ser incorporada ao solo, para minimizar as perdas de N.
Dependendo dos teores no solo, micronutrientes como boro, cobre, manganês e zinco poderão ser adicionados nas fórmulas de plantio e soqueiras. Para o fornecimento via solo, os oxi-sulfatos de Cu, Zn e Mn e a Ulexita (Boro), têm apresentado bons resultados. De forma geral, nas formulações, emprega-se a mistura de grânulos, os quais devem apresentar diâmetros semelhantes para diminuir a segregação e proporcionar distribuição uniforme, ao longo do sulco ou linha de cana.
Os fertilizantes adquiridos devem ser analisados periodicamente - do ponto de vista químico, para controle de qualidade. A adubação diferenciada está sendo bastante utilizada pelos produtores. A mesma poderá ser através de formulações diferentes (função da fertilidade do solo) e/ou doses diferentes (função da expectativa do potencial de produtividade).
Com esta prática, tem-se obtido elevação de produtividade e/ou redução de custos. A relação w/t (w = preço da t de cana e t = preço do kg do nutriente) deve ser sempre considerada no cálculo das recomendações. O preço mais favorável da cana permite o uso de maior dose de fertilizante e vice-versa. O emprego no campo de resíduos agroindustriais, como torta de filtro e vinhaça, além de minimizar problemas ambientais, permite a substituição parcial ou total dos fertilizantes minerais, com reduções de custo.
Na reforma dos canaviais, a rotação de cultura com soja, amendoim, feijão, etc, assim como o plantio de adubos verdes (crotalárias e mucunas) constituem práticas recomendáveis. Isto se reveste de maior importância em solos distróficos pela melhoria de suas propriedades químicas, físicas e biológicas, com efetivos reflexos na elevação da produtividade da cana.
Finalmente, é importante que cada Unidade estabeleça seu sistema de gerência de adubação, didaticamente dividido em planejamento, execução e controle. Com isto, é possível estabelecer replanejamentos, controle da eficiência de aplicação, cálculo de custos, determinação de perdas e, principalmente, a comparação do planejado, versus realizado e as correções em tempo hábil.