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Mirian Rumenos Piedade Bacchi

Professora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq-USP

Op-AA-10

Com o sucesso, crescem a concorrência e o trabalho para manter a competitividade

O esgotamento das reservas de petróleo tem feito com que os preços dos combustíveis fósseis atinjam níveis elevados, o que está motivando o uso de fontes alternativas de energia, que permitam minimizar os impactos de ordem econômica. Entre essas fontes, inclui-se a agroenergia, antes não competitiva. Também questões geopolíticas, sociais e, principalmente, as ambientais reforçam a necessidade de se utilizar combustíveis produzidos a partir de biomassa.

Acordos no âmbito internacional, entre os quais o de Quioto, o mais importante deles, são os instrumentos indutores de mudanças no padrão mundial de consumo de energia. Através desse Protocolo, negociado no Japão em 1997, e em vigor a partir de fevereiro de 2005, diversos países comprometeram-se a reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerado como a causa do aquecimento global.

Mesmos os países que não assinaram o Protocolo mencionado, como os Estado Unidos, têm demonstrado, em função de aspectos ambientais, claro interesse em substituir fontes de energia fósseis, por renováveis, reconhecidamente menos poluentes. O álcool tem sido considerado, pela comunidade internacional, uma fonte energética que atende à proposta de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL, estabelecida no acordo firmado em Quioto.

Devido à tecnologia já madura, ele é tido como a estrela entre os combustíveis derivados de biomassa. Sabe-se que mesmo na era das “células de combustíveis”, aguardadas para o futuro, o etanol deverá ter um importante papel no processo de geração de energia limpa. As condições edafoclimáticas favoráveis para a produção de cana no Brasil, e o atual estágio de desenvolvimento da nossa indústria sucroalcooleira, que é referência tanto no aspecto tecnológico, quanto no negocial, resultam nos menores custos de produção de açúcar e álcool do mundo.

Esse fato, associado à possibilidade de expansão da área plantada com cana-de-açúcar, faz do Brasil um país com excelentes condições de suprir parte representativa da demanda mundial por combustíveis limpos. O aumento da demanda por etanol, tanto no mercado doméstico, quanto no internacional, tem se traduzido em remuneração atrativa para os agentes do segmento produtivo.

Cumpre lembrar que também os preços de açúcar recebem impacto positivo, decorrente de expectativa de aumento de produção de etanol - pela maior alocação de cana-de-açúcar para a produção desse combustível, em detrimento da produção de alimento energético. A despeito do aumento da oferta brasileira de açúcar e álcool, observado nos últimos três anos, os preços reais desses produtos apresentam tendência crescente, o que expressa um aumento real da demanda, em ritmo maior que o da oferta.

No caso do álcool, o aumento da demanda no mercado interno tem se dado pelo preço favorável desse combustível, relativamente ao da gasolina C, o que induz ao seu maior consumo nos carros bicombustíveis, que têm cada vez maior representatividade na frota nacional de veículos leves. Além do mais, o preço favorável do álcool hidratado, em relação ao da gasolina C, tem motivado o uso de uma mistura desses dois combustíveis, em proporções variadas, na frota de carros, montada para utilizar exclusivamente o combustível fóssil.

Essa mistura, chamada de “rabo de galo”, tem sido utilizada de forma representativa, especialmente pela população de menor poder aquisitivo. Em relação às exportações, elas vêm crescendo de forma acentuada, o que se deve, principalmente, às vendas de álcool combustível, produto que passa a ser inserido na matriz energética de países que são deficitários na sua produção.

A remuneração atrativa da cana, do açúcar e do álcool, comparativamente a de outras atividades do agronegócio, tem motivado grandes investimentos na indústria canavieira brasileira, o que é plenamente justificável, em função da expectativa que se tem de expansão de mercado interno e internacional, para o álcool combustível.

No entanto, alguns aspectos devem ser considerados, quando se pensa em rentabilidade futura. Em primeiro lugar, é certo que alguns países, que tenham interesse em introduzir ou ampliar o uso do álcool na matriz energética, venham a se tornar também exportadores, o que é interessante do ponto de vista da consolidação do mercado internacional desse produto; entretanto, esses países serão nossos futuros concorrentes.

Os Estados Unidos, por exemplo, estão investindo cifras elevadas, visando o aumento da produção de agroenergia, utilizando o milho como matéria-prima para a fabricação de etanol. No Brasil, ganhos significativos em produtividade foram obtidos na indústria canavieira nas últimas décadas, mas, para que ela possa continuar ocupando a posição de destaque entre os fornecedores mundiais de agroenergia, deve-se procurar manter e até ampliar a competitividade já alcançada.

Os preços ascendentes para o açúcar e o álcool nos últimos anos têm assegurado boa rentabilidade para os agentes do setor produtivo, mesmo para aqueles com menores níveis de eficiência. No entanto, rentabilidade no nível da atual só poderá ser mantida num momento de reversão da tendência de preços (que poderá ocorrer, caso a demanda pelos produtos do setor não cresça na mesma proporção que a oferta), se os custos de produção e comercialização caírem.

Nesse sentido, a redução de custos através do uso de tecnologia moderna, nas áreas agrícola e industrial, deve ser uma meta continuadamente imposta. É essa a lei que prevalece em setores governados por economia de mercado. Assim, maiores investimentos em P&D e a superação de entraves logísticos para o escoamento dos produtos da indústria canavieira são essenciais para que esta continue crescendo.