Presidente da SIAMIG e Coordenador do Fórum Nacional Sucroenergético
Op-AA-33
Após vultosos investimentos, na última década, que contribuíram para tornar a matriz energética do País uma das mais limpas do mundo, com o aumento espetacular da produção de etanol, o setor sucroenergético carece de uma união de esforços para entrar num novo ciclo de crescimento.
Muitos são os desafios, ainda a vencer, de ordem tributária, tecnológica, logística e de capacitação, a fim de garantir maior competitividade e segurança para novos investimentos e ampliação do consumo do combustível renovável frente ao fóssil.
Demonstração de amadurecimento, como os avanços na gestão dos negócios com a incorporação do conceito de sustentabilidade, tem sido dada pelo setor, por exemplo, no cumprimento da meta de eliminar a queima da cana e a evolução nas relações trabalhistas diante da recente certificação de 169 empresas pelas boas práticas implementadas.
As discussões têm avançado no sentido de dar um direcionamento para que o setor seja, de fato, reconhecido e valorizado como uma das cadeias mais viáveis do agronegócio. No grupo de trabalho criado para discutir uma agenda de objetivos e metas para o etanol no Conselho de Energias Renováveis – Programa Brasil Maior, um dos pontos principais é a revisão dos tributos, a fim de dar maior competitividade ao produto em relação à gasolina.
Contudo, medidas de desoneração para o combustível fóssil, como a eliminação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre a gasolina, no final de junho, desincentivam a produção de etanol. O controle do preço da gasolina, há cerca de sete anos, e a retirada de impostos, sem a contrapartida também para o etanol, provocam graves distorções nesse mercado, geram dúvidas nos consumidores, incerteza para novos investimentos e não valorizam o benefício ambiental do produto.
Outros países, porém, avançam em suas metas, como os Estados Unidos, que liberaram recentemente a venda de gasolina nos postos com 15% de etanol para todo tipo de veículo, retirando regulações que incidiam sobre o ano de fabricação dos carros para abastecimento com a mistura. Esse foi um passo importante para fortalecer o mercado de etanol naquele país.
Algumas ações isoladas têm sido tomadas e são importantes para ampliar o aumento da matéria-prima, a cana-de-açúcar, como a liberação da linha de financiamento Prorenova e de estocagem de etanol, permitindo maior segurança na oferta do produto no período de entressafra.
Porém os recursos têm que ser contínuos e no prazo devido, para que o setor possa fazer um planejamento da renovação dos canaviais, já que o plantio tem ocorrido durante todo o ano. Atualmente, pela escassez de recursos para investimentos na lavoura de cana, a indústria trabalha com cerca de 20% de ociosidade. O setor já demonstrou várias vezes seu potencial de reação frente às necessidades do mercado, como em 2003, com o lançamento dos carros flex, e comparecerá novamente se for construído um ambiente mais favorável para a retomada dos investimentos.
O alcance de novos índices de produtividade, tanto na área agrícola quanto na industrial, aumento da capacidade produtiva, bem como o avanço ainda maior da gestão administrativa, na busca de melhores resultados de sustentabilidade, são metas que devem ser ancoradas por um ordenamento setorial de curto, médio e longo prazos.
Com papel preponderante no desenvolvimento da indústria da cana-de-açúcar, os fabricantes de máquinas agrícolas devem continuar no caminho do aperfeiçoamento e da otimização do maquinário, a fim de reduzir as perdas das colhedoras e das plantadoras de cana, o que tem impactado fortemente o custo de produção. Contamos também com as montadoras, que alavancaram as vendas do etanol no início da década, para tornar os motores flex mais eficientes, fator que irá ampliar a competitividade e o consumo do combustível renovável frente à gasolina.
Oportunidades que precisam ser mais bem direcionadas se referem também à necessidade de avanços da pesquisa na produção dos derivados de cana-de-açúcar de segunda geração e novos usos (etanol de celulose, biogás, biogasolina, biodiesel de cana, bioquerosene de aviação e outros óleos especiais), além dos bioplásticos. São grandes inovações com o aproveitamento do bagaço de cana e o etanol, que necessitam de maior fomento para deslanchar.
Os programas de capacitação através do Planseq - Plano Setorial de Qualificação, do Ministério do Trabalho, são importantes ferramentas para a capacitação dos trabalhadores; porém, ainda tímidos, necessitam ser otimizados e não sofrerem descontinuidade, a fim de fortalecer a competitividade do setor.
É importante também ter o foco na requalificação da mão de obra para outras atividades, em função do avanço da mecanização nas lavouras.
Não são poucas as vantagens diretas e as externalidades positivas do setor sucroenergético, do ponto de vista econômico, ambiental e social. O cenário mundial da busca de fontes renováveis para mitigar os impactos da poluição no clima oferece uma oportunidade ímpar para que o Brasil possa se consolidar como liderança global nessa área, beneficiando sua população e outros países.
Dessa forma, não podemos nos esquecer da bioeletricidade, a energia elétrica do bagaço de cana, que pode contribuir para tornar nossa matriz energética ainda mais limpa. Durante a Rio+20, um dos assuntos mais discutidos durante o fórum da sociedade civil foi a necessidade de medidas concretas para garantir igualdade de acesso à energia elétrica.
A bioeletricidade tem grande potencial nesse sentido, é produzida próxima aos grandes centros urbanos e em períodos de déficit hídrico, porém necessita de maior valorização dos seus pontos positivos, criando condições de competitividade nos leilões de energia renovável. Os países desenvolvidos possuem grande eficiência energética, mas países em desenvolvimento, como o nosso, ainda enfrentam o desafio de levar energia a todos.
Temos certeza de que o esforço de todos os elos para um planejamento mais estável e duradouro da cadeia sucroenergética fará com que ela se torne mais competitiva e criará um ambiente propício para a retomada do crescimento, contribuindo para maior desenvolvimento do País e de avanços para mitigar a poluição ambiental e refrear o aquecimento global.