Diretor de Relações Institucionais da ETH BioEnergia - Grupo Odebrecht
Op-AA-19
Em meio a uma tormenta em alto mar, o grande temor é o de que nossa pequena embarcação nunca mais saia dela. Desde o segundo semestre de 2008, lemos e ouvimos notícias sobre um novo cenário econômico mundial e suas consequências em nossas vidas e empresas. Este cenário influencia diretamente o setor sucroalcooleiro, porque representou claramente a fechada da torneira do crédito.
Neste contexto, usinas que já demonstravam deficiências de caixa antes da crise, ficaram muito mais expostas, diante da falta de liquidez. O crédito tornou-se muito menor, muito mais caro e muito mais seletivo e quem já estava com problemas ficou em uma situação ainda mais delicada. Apesar disto, já se vê sinais de bonança.
O ambiente presente, que começamos a viver agora, favorece muito as fusões e aquisições de usinas. Vamos assistir à aceleração deste processo, ao longo deste ano. Em 2008, essa movimentação foi tímida, face aos altos preços dos ativos e ao estouro da crise. Não podemos esquecer que, nos últimos oito anos, o setor expandiu-se como nenhum outro.
Até 2006, no entanto, essas expansões concentravam-se nas próprias unidades originais – um crescimento orgânico nas áreas agrícolas ou industriais já existentes. Eram investimentos pontuais, realizados em moendas, em torres de destilação, em desbloqueios industriais e agrícolas. Assistimos também a novas formas de gestão das empresas familiares.
Estas, por sua própria constituição, não propiciam, em geral, injeções de capital de fora. Somente a partir de meados desta década, a expansão interna chegou ao seu limite, por disponibilidade e concorrência da cana e das naturais limitações de layout industrial. Com a maré de bons resultados operacionais, com geração de caixa para investimento, as empresas - em especial as de núcleo familiar, tão comum no setor - começaram a criar novas unidades e fechar parcerias.
Dentro deste processo, destacamos o início dos greenfields, grande parte dos quais em novas fronteiras, além de São José do Rio Preto, Araçatuba, a expansão no Triângulo Mineiro, no Sul de Goiás e Mato Grosso do Sul. A partir de então, a capacidade de moagem de uma usina, que era de 1 milhão de toneladas de cana, passou a ser de 3 ou 4 milhões de toneladas.
Isso significa que investir no setor exige montantes muito maiores do que no passado. Além disso, não podemos deixar de citar as dificuldades logísticas em regiões e zonas não tradicionais. Encontramos também um clube de players novos no setor, tais como Bunge, ADM e Cargill ou já mais tradicionais, como Tereos e Dreyfus. São estrangeiros que conhecem bem o Brasil e devem entrar forte.
Atualmente, eles representam menos de 10% dos investimentos totais. A contínua valorização do real e a queda dos preços de açúcar e etanol ao longo de 2007 e 2008 complicaram a vida de um grande número de empresas. Em setembro de 2008, estas chegaram sem fôlego para aguentar o aperto de crédito. Algumas reestruturaram-se, mas um grande número assiste a uma difícil crise financeira.
Há linhas que ajudam a superar as dificuldades presentes, em especial os tradicionais financiamentos de novos projetos junto ao BNDES. Além destas, novas linhas de financiamento de capital de giro e de financiamento para a exportação, em condições mais adequadas à presente conjuntura, estão sendo aprovados no BNDES.
A legitimidade dos pleitos de linhas desta natureza deriva de ser o setor aquele que mais investiu nos últimos anos, por unidade de faturamento. Alguns dizem que a expansão foi irresponsável, embora eu esteja longe de partilhar desta ideia. Há extraordinárias perspectivas positivas de médio e longo prazo. Somos detentores potenciais da fantástica expansão do fornecimento de energia limpa e renovável, na forma de etanol e energia elétrica. Nenhum lugar no mundo tem a tecnologia e as condições naturais que possuímos.
O Brasil assegura uma base científica para trabalhar geneticamente com as variedades da cana-de-açúcar, investe recursos públicos e privados na expansão da produção, observa a aceleração da demanda por veículos leves dotados com motores flexíveis, entrega etanol nos mais remotos portos do globo, sustenta uma política agrícola livre de subsídios, como reconhece a OMC - Organização Mundial do Comércio, procura maximizar o aproveitamento energético das sobras da cana-de-açúcar e tem uma política de melhoria nas relações de trabalho e na valorização social.
Graças ao nosso histórico e a muito investimento em pesquisa, o etanol obteve uma vantagem excepcional nos dias atuais: é economicamente viável e ambientalmente consistente. Diante desta crise financeira internacional, podemos oferecer ao mundo a revisão de paradigmas e abrir um novo ciclo econômico, a partir dos biocombustíveis. O etanol não é somente uma alternativa, é uma solução ambiental, social e econômica para o novo ciclo em que vivemos.
Somos capazes de mostrar isso, por mais que a crise afete o preço do petróleo. Apesar de sua volatilidade, as exportações brasileiras de etanol apresentam importante tendência de crescimento. Estamos numa nova era, em que todas as formas de energia serão beneficiadas. Não há crise que afete a prosperidade de longo prazo. O que somos capazes de produzir encontrará sempre um mercado.