Presidente do Conselho de Administração da Copersucar
Op-AA-31
A análise sobre o cenário vivido pela indústria sucroenergética brasileira na última safra, face à quebra da produção de cana e ao crescimento contínuo da demanda por etanol, já percorreu todos os caminhos possíveis para identificar as causas, diagnosticar os gargalos e lançar alertas para que os erros do passado não se repitam no futuro.
Esse debate é sempre necessário, mas entendo que precisamos ser mais propositivos na defesa das virtudes do nosso negócio, em vez de potencializar os problemas, em busca de culpados, o que pode até justificar, mas não contribui para a melhora do quadro.
Nos últimos cinco anos, nosso setor investiu US$ 50 bilhões e dobrou o patamar de produção. Após a crise global de 2008, que deixou um rastro de efeitos negativos, passamos da expansão para a consolidação do setor, depois de um processo intensivo de crescimento.
Desde então, o canavial envelheceu, a demanda continuou impulsionada pelo aumento da frota de veículos flex, e os problemas climáticos afetaram ainda mais a produtividade. Essa é a história recente, conhecida por todos. Proponho, então, projetarmos esse filme na perspectiva de ter, já na safra que se inicia, a retomada do crescimento, com o aumento da produção e da oferta, tanto de açúcar quanto de etanol.
Vencido esse ponto de inflexão, o sinal positivo passará a ser dominante, e, nesse caso, a curva do tempo contará a nosso favor, com a recuperação crescente dos ciclos da cana em volume e em produtividade. Em termos industriais, a capacidade já está instalada.
Esse é o trailer do novo filme no capítulo agrícola, restando ainda a crítica econômica que ronda a atratividade do nosso negócio, sob o ponto de vista da remuneração do investimento. Ora, um dos pontos cruciais para a viabilidade de qualquer indústria é o mercado.
Na nossa indústria, o mercado está dado, com demanda crescente tanto por açúcar quanto por etanol. Somente o Brasil tem a vantagem competitiva de ocupar e de expandir esse mercado com competência, consolidando a sua liderança global como grande fornecedor de alimento e energia.
O Brasil responde por 50% do mercado livre de açúcar no mundo e continua sendo de fato o único país que tem a oportunidade de expandir sua produção e de suprir a carência mundial por alimentos. A viabilidade do etanol como energia limpa e renovável é inquestionável, e somente o Brasil tem como ampliar substancialmente a oferta do produto com eficiência econômica e ambiental, para atender à urgência global por uma matriz energética limpa e renovável.
Uma demanda que pode ser considerada infinita, por um produto cuja utilidade não é apenas insumo, mas benefício planetário. Por tudo isso, não me parece razoável que as questões ora em discussão possam prejudicar o fundamento do nosso negócio.
Tive a oportunidade de propor uma agenda positiva para o nosso setor ao participar do Fórum Internacional sobre o Futuro do Etanol promovido pela Revista Opiniões na abertura da Fenasucro&Agrocana, em agosto último.
Pude demonstrar que, a partir dos dados de expansão estimados para a Copersucar, a capacidade de moagem do Centro-Sul poderá passar dos atuais 500 milhões de toneladas para 620 milhões de toneladas, apenas com melhorias nas condições do canavial.
Com o incremento da capacidade industrial, já previsto, poderemos moer, em cinco anos, o equivalente a 790 milhões de toneladas de cana. Em termos de atendimento à demanda interna por etanol, isso representa sair dos 32% de abastecimento da frota flex na safra 2011/12 para um patamar de 45%, ainda distante dos 60% a que já chegamos, mas um indicativo evidente da capacidade de recuperação do negócio – pelo menos no que depender da força empreendedora do nosso setor.
Nessa perspectiva, de médio prazo, ter 45% do mercado representa atender a uma demanda da ordem de 47 bilhões de litros, um mercado de R$ 47 bilhões, ao preço de R$ 1 por litro. Com custos crescentes de produção e outros riscos inerentes ao setor, o esforço de atendimento a esse mercado só faz sentido se o investidor tiver, de fato, a percepção real de viabilidade dos planos de investimento. Admito que ainda há dúvidas na equação, mas também muitas ponderações a favor.
A demanda firme, o domínio dos processos produtivos, a eficiência operacional e a capacidade de atendimento ao mercado global estão entre elas. Acrescentemos a busca pela produtividade, com maior eficiência nos custos, e a inovação tecnológica, com a evolução das variedades e a viabilidade da produção do etanol celulósico, como fatores de ganhos incrementais.
Por fim, ressalto a vocação de empreendedorismo do nosso setor, que não conterá a expansão do seu negócio, uma vez restabelecidas as premissas de atratividade do investimento. Com todos esses elementos, acredito que falta pouco para construir o melhor enredo para um negócio que não é apenas do interesse do nosso setor, mas de todo o País.