Secretaria da Agricultura de São Paulo
Op-AA-02
O Estado de São Paulo é especialmente privilegiado no desafio do desenvolvimento de energias limpas e renováveis. A cana-de-açúcar, que ocupa praticamente metade da área com culturas, permite ao Estado ser o maior produtor de açúcar e álcool do país e exportar quase 70% do açúcar brasileiro. Além do aspecto econômico, há também o da empregabilidade: meio milhão de trabalhadores são absorvidos ao longo da cadeia de produção.
Creio que o desenvolvimento de energias renováveis seja hoje um desafio mundial. A era dos combustíveis fósseis já tem hora e data para terminar. Costumo dizer que a idade da Pedra não terminou por falta de pedra. Elas estão por aí até hoje, mas sua era foi suplantada por outras. As questões ambientais, de saúde pública e desenvolvimento sustentado nos impõem a necessidade de buscarmos alternativas para a matriz energética. E nesse item temos dado passos importantes.
Um deles, que gostaria de destacar pelo seu significado e novidade, é a instalação no dia 30 de junho passado, em São Paulo, da Câmara Setorial Especial de Biocombustíveis. A câmara, que reúne representantes de toda a cadeia de produção dos biocombustíveis, terá a missão de consolidar as propostas de projetos estratégicos para o álcool combustível e o biodiesel.
Seu presidente é o professor Miguel Dabdoub, do Ladetel (Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas), do Departamento de Química da USP de Ribeirão Preto. A utilização do biodiesel deve ser regulamentada pelo governo federal em novembro, na mistura de 5% no diesel mineral. O biodiesel nada mais é do que a mistura de um álcool com um óleo vegetal (soja, girassol, milho, algodão, canola ou gordura animal).
Dessa reação resultam o biodiesel, a glicerina e o farelo de oleaginosa, que pode ser usado na alimentação animal. Esse combustível pode ser utilizado puro ou em misturas que variam de 5% a 30% no diesel mineral e já está presente em vários países do mundo. É um grande avanço, se considerarmos que as pesquisas para o desenvolvimento do biodiesel apontam caminhos bastante interessantes, como o processo de produção utilizando o álcool de cana como reagente, experimento patenteado pelo Ladetel.
Outro desafio iminente é a escassez de água e, sem entrar no mérito das conseqüências que este problema ocasiona nas cidades e também para a produção no campo, gostaria de destacar a dificuldade que o Brasil poderá ter repetida, em relação à sua demanda para a produção de energia elétrica, já que a grande parte da energia que movimenta o país vem das hidrelétricas.
A questão da cogeração de energia elétrica foi amplamente discutida depois do “apagão” e foi avaliada a contribuição que o setor poderia dar. Segundo a UNICA, todas as usinas brasileiras geram energia elétrica que as tornam auto-suficientes na época da safra e o excedente é vendido às concessionárias. Em São Paulo, são comercializados 500 MW para a rede pública, enquanto que o potencial disponível chega a 7.000 MW, muito representativo se considerarmos que São Paulo possui uma capacidade instalada de 20 MW de energia.
Para cogerar energia, as usinas dependem de investimentos, mas esta é uma bela oportunidade que o Brasil e São Paulo desfrutam. Os países estão de olho no Brasil por conta do Protocolo de Quioto, que tornou obrigatória a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, onde o gás carbônico é o mais abundante e o metano, o mais perigoso. Países que reduzem a emissão ou retiram estes gases da atmosfera podem vender cotas de carbono a países que necessitem se enquadrar ao protocolo. Essa é a grande vantagem que o Brasil tem ao investir fortemente no desenvolvimento de energias limpas e renováveis.