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Paulo Meneguetti e Dagoberto Delmar Pinto

Presidente da PASA e da CPA Trading, respectivamente

Op-AA-39

A logística paranaense

O potencial de demanda de etanol e açúcar é gigantesco. O consumo de combustíveis renováveis cresce a taxas superiores ao crescimento econômico (no Brasil, em média, três pontos percentuais acima do PIB). E a tecnologia brasileira de motores FFV (considerada benchmark na indústria automobilística mundial) criou um mercado novo e expressivo para a indústria canavieira.

Os mandatos mundiais de mistura obrigatória de etanol anidro à gasolina e a rápida evolução de tecnologias avançadas também geram forte demanda pelos subprodutos da cana brasileira. O mercado de açúcar não é diferente com consumo direcionado por crescimento vegetativo e econômico. Ásia e África demandarão volume expressivo de açúcar nos próximos anos. A demanda mundial é garantida, mas e a oferta?

Análises detalhadas mostram que disponibilidade escassa de recursos naturais, mão de obra especializada, infraestrutura e forte intervenção do governo restringem a expansão de cana e beterraba para muitos países. As mesmas análises mostram que o Brasil é o único país capaz de fazer crescer expressivamente a área plantada para atender a essa demanda potencial aos atuais níveis de preço.

Recentemente, o setor sucroenergético paranaense dedicou um estudo para estimar quais as perspectivas para o nosso estado nos próximos anos. Assim, ressalvados os naturais desacertos desses ensaios de futurologia, atrevemo-nos a algumas estimativas e projeções, fruto desse esforço que deve nos orientar para os planos de investimentos em logística neste futuro.

 O crescimento ocorrerá no Brasil e exigirá do estado do Paraná investimentos em toda a cadeia de produção e de consumo. Atualmente, as usinas do estado do Paraná processam 45 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, e, conforme as projeções estudadas, há espaço para cultivo, mercado doméstico e internacional de açúcar e etanol para alcançar, aqui,  até 118 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nos próximos 20 anos.

Então, investimentos em logística deverão ser realizados para que o estado possa comercializar eficientemente os 13,6 milhões de toneladas de açúcar e os 9,3 bilhões de litros de etanol que serão demandados em 2033/34. Com um parque logístico extenso, que compreende, atualmente, terminais de transbordo inland (CPA), terminais portuários exclusivos para embarque de açúcar e etanol (CPA, PASA e Álcool do Paraná) e projetos concretos, como a construção do poliduto Maringá-Paranaguá (CPL), com capacidade de movimentação de 4 bilhões de litros por ano, o estado do Paraná já está organizando-se com o intuito de atender a essa demanda.

Toda essa estrutura não cria ambiente competitivo apenas para as usinas no Paraná, mas beneficia também o escoamento de produtos das novas áreas produtivas (do Mato Grosso do Sul e extremo oeste do estado de São Paulo), assim novos empreendimentos localizados em áreas de fronteira que apresentam desvantagem logística em função da distância dos portos devem ganhar competitividade com a consolidação da infraestrutura logística do nosso Estado.

Assim, analisando o conjunto dessas estruturas atuais e suas possibilidades, podemos estimar eventuais gargalos e direcionar os investimentos que serão necessários para que o parque logístico possa atender a essa demanda. O estado do Paraná é considerado benchmarck na logística de açúcar e etanol mundial. Terminais inland interligados por ferrovias aos terminais exclusivos de açúcar e etanol garantem operações mais eficientes do que a média do Centro-Sul do Brasil.

Cerca de 90% do açúcar exportado transportado no estado é feito por ferrovia até a PASA (Paraná Operações Portuárias), um complexo de armazéns dedicados à exportação de commodities agrícolas, com foco no açúcar e localizado no Porto de Paranaguá. A potencial capacidade operacional é de 8 milhões de toneladas, número acima dos volumes realizados pelas unidades do Paraná, visto que o terminal também atende a volumes expressivos oriundos de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

De forma a consolidar o terminal como de grande importância para a operação logística de exportação de açúcar bruto (VHP), a PASA inicia, nesta safra, a operação de um novo armazém, com capacidade estática de 65.000 toneladas, o que significa um incremento de 37% às 174.000 toneladas atuais. Aliadas a isso, as obras de ampliação de carregamento nos navios (shiploader) e da descarga com novos tombadores (rodoviária) e moegas (ferroviárias) contribuirão para o benefício da eficiência de todo o conjunto. Novos investimentos em capacidade estão em estudo. O Paraná exporta, atualmente, 5 milhões de toneladas, e há mercado para mais que dobrar esse volume para a região, de 10,9 milhões de toneladas.

Outros esforços já estão em curso e devem ser abordados de forma compartilhada entre o estado e o setor privado, principalmente na infraestrutura dos acessos ao Porto de Paranaguá: citamos como exemplo o aumento do calado de atracação. A saber, diferenças expressivas no calado entre os portos podem limitar a atracação de navios e reduzir a competitividade do estado do Paraná, com prejuízos operacionais e financeiros importantes. O mercado mundial já demanda navios maiores, principalmente em função da mudança do eixo de importação: da Europa para a Ásia. De acordo com estimativas da APPA (Autarquia dos Portos de Paranaguá e Antonina), que tem sido proativa no tema, o tamanho médio dos navios aumentou, em média, 45%, de 264~274 metros em 2000 para 396 metros em 2013.

Noutra ponta, e em conjunto com a PASA, a CPA Trading, que representa comercialmente importante produção de etanol do estado, grande parte oriunda de suas acionistas, também presta serviços de organização logística em geral e de vendas no mercado doméstico e internacional. Para tanto, utiliza as estruturas das CPA Armazéns Gerais, uma de suas coligadas, que foram criadas objetivando uma administração eficiente sobre a armazenagem de produtos em diversos pontos do estado, bem como trâmites de entrega aos clientes, inclusive portuária. É também encarregada da guarda e da conservação de granéis líquidos e sólidos, bem como da emissão de contratos de depósito mercantil e títulos representativos de mercadorias depositadas (warrant).

A CPA Armazéns Gerais, terminal multimodal em Sarandi, município próximo de Maringá, recebe e escoa açúcar e etanol e conta com capacidade estática de armazenagem de 300.000 toneladas de sólidos (açúcar) e 100 milhões de litros de líquidos (etanol e combustíveis) e inaugura, ainda neste ano, uma ampliação do fluxo de movimentação de sólidos (açúcar e grãos), incrementando em 27% a atual capacidade de 6.500 toneladas por dia de expedição ferroviária. Em Paranaguá, na área retroportuária, a CPA Armazéns Gerais possui terminal de recepção e armazenagem de etanol, principalmente de usos industrial e potável, com capacidade estática de 53,2 milhões de litros, interligado por dutos ao píer público do Porto de Paranaguá.

Nessa linha, outra iniciativa de logística para escoamento de etanol em Paranaguá foi a criação da Álcool do Paraná Operações Portuárias, estabelecida com o objetivo de fornecer uma alternativa à exportação de etanol carburante, a partir da utilização do Terminal Público Anisio Tormena, onde há intenso esforço do setor sucroenergético paranaense e do governo do estado do Paraná.

A PASA, CPA e Álcool do Paraná são grupos predominantemente nacionais, de forte cultura associativa, administrados por executivos locais com tradição no setor e especialistas no mercado de açúcar e etanol. A busca de eficiência logística é destaque nesses grupos e com investimentos sistemáticos em toda a cadeia, desde transbordos inland até centros de distribuição e/ou terminais portuários.

A mais recente prova dessa organização é a estruturação e a criação da CPL- Central Paranaense de Logística, empresa que foi estabelecida para viabilizar o poliduto Maringá-Paranaguá, que apresentará capacidade para escoamento de 4 bilhões de litros por ano, a partir da produção oriunda dos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul para o mercado internacional e estados do Sul, passando pelo polo de distribuição da REPAR (Refinaria Getúlio Vargas), em Araucária, região metropolitana de Curitiba.

O objetivo inicial do poliduto é aumentar a eficiência do transporte doméstico de etanol. As usinas no Paraná apresentam uma distância média de 600 quilômetros, e outras localizadas em novas áreas de expansão podem chegar até 1.000 quilômetros do Porto de Paranaguá ou dos grandes centros de consumo, sendo assim, o etanol atravessa um caminho longo e custoso para ser exportado ou consumido, perdendo competividade frente a outros estados (e países) no fluxo de comércio mundial. Durante os últimos 5 anos, inúmeros esforços foram dispendidos nesse projeto, desde análises detalhadas de impacto ambiental até audiências públicas para apresentação do projeto às comunidades de 23 municípios ao longo dos 502 quilômetros de sua extensão.

Mesmo em um ambiente com inúmeros desafios financeiros e regulatórios, a indústria sucroenergética do estado do Paraná está extremamente organizada para suportar a necessidade de investimentos futuros, para atender à demanda de açúcar e etanol, que aguardamos.