É frequente a afirmação sobre o setor sucroenergético se posicionar entre os mais tecnologicamente avançados do País, talvez do mundo, mas persistem as questões referentes à dificuldade que esse mesmo setor enfrenta em relação a avanços em produtividade e, consequentemente, à redução real de custos de produção. Nas mais diversas áreas das ciências agronômicas, é possível identificar falhas em processos e na qualidade de execução das atividades definidas ao longo do ano agrícola.
Essas falhas são fatores de redução na produtividade e nos lucros, podendo ser definidos como fatores de desperdício. Seria fácil descrevermos 10 fatores de desperdício que ocorrem em nossas lavouras, em nossas operações ou na nossa gestão. Concentrando apenas uma das ciências agronômicas que trata da entomologia e gera a tecnologia de Manejo Integrado de Pragas – MIP, podemos observar alguns tópicos que merecem atenção e requerem mudanças na forma de gestão e de aplicação dos recursos, para evitar perdas ou desperdícios.
Primeiramente, podemos afirmar que o conhecimento existente, nessa área, é vasto e cobre a grande maioria das questões, gerando informações básicas e métodos de monitoramento e controle para as mais importantes pragas, na maioria das condições de campo.
Ainda há muito a evoluir, mas as informações e as técnicas que existem já são suficientes para possibilitar melhorias significativas em produtividade e em redução de desperdícios, se forem corretamente conhecidas, interpretadas e aplicadas. Há equipes treinadas, para execução das etapas do MIP, em bom número de empresas produtoras de cana, e esse aspecto é importante para que se obtenham resultados satisfatórios.
Entretanto é comum se verificar que as etapas de monitoramento foram executadas a contento, mas a aplicação do controle não pode ser realizada no momento correto, permitindo que ocorresse a evolução das populações e, consequentemente, dos danos no local.
Acrescenta-se a isso o fato de aplicações de produtos químicos ou microbianos não serem realizadas de acordo com os padrões mínimos de qualidade, resultando em erros na dose, falhas no momento correto da aplicação ou falhas na distribuição dos produtos.
Outra questão importante é em relação à tomada de decisão sobre adoção de controle, e podemos partir de uma observação geral que comprova haver diferenças marcantes em ambientes e em condições de desenvolvimento dos canaviais (solo, umidade, variedade, nutrição, idade, quantidade de palha presente, vinhaça, etc.); em função disso, não se recomenda a adoção de estratégias únicas de controle em área total, visto que, seguramente, levará a falhas no controle das pragas e a desperdícios.
O MIP mais eficaz é aquele que se baseia nas condições de cada local, nas espécies de pragas presentes e nas suas respectivas densidades populacionais, gerando a recomendação das técnicas de controle mais adequadas para cada situação, incluindo sempre a avaliação econômica das alternativas e optando pela adoção da melhor.
São comuns extensos bancos de dados que mantêm o histórico de diversas safras consecutivas, que podem gerar informações preciosas para a execução correta do MIP na unidade produtora. Entretanto não são raras as respostas de que não há conhecimento ou tempo para extrair e analisar os dados existentes, para gerar informações e recomendações ajustadas de controle. Pode-se dizer que, no ciclo PDCA, somente conseguimos executar as duas primeiras etapas, perdendo as oportunidades de melhoria e de aumento da eficiência dos métodos de controle adotados, introduzindo mudanças e atualizações nos sistemas de manejo e de controle.
Os sistemas informatizados, que contêm a inteligência da análise e das melhores recomendações de controle, representam, hoje, ferramentas essenciais para a evolução do manejo e a redução de perdas e de desperdícios, quando corretamente programados e utilizados.
Não se acredita que o MIP possa permanecer estagnado, sendo muito mais provável que evolua com as novas tecnologias, com o conhecimento mais amplo e com o aprendizado a campo. No decorrer dos próximos anos, teremos contato com a tecnologia Bt em variedades de cana transgênicas e sentiremos a necessidade de entender melhor o MIP, ampliando o conhecimento para o Manejo de Resistência das pragas alvo.
Veremos também ampliar a possibilidade de uso de ferramentas geradoras de imagens detalhadas, para auxiliar na detecção e possível identificação dos problemas de pragas e de doenças. Haverá lançamento de novos produtos no mercado (químicos ou biológicos) e de novas técnicas de aplicação, ou de novas interpretações das técnicas de manejo, com resultados mais efetivos.
É necessário preparar esse futuro, com aprendizado, com adoção das mudanças necessárias, e entender que os dados obtidos a campo, quando forem corretos e confiáveis, têm a importância, mediante correta análise e interpretação, de gerar informações básicas para suportar todas as decisões do MIP. Queremos, realmente, que o setor se torne, nos próximos anos, o maior empregador de tecnologias que possibilitem aumento de produtividade e de redução de desperdícios.