Consultora da Key Associados
Op-AA-34
A grande vocação do setor sucroenergético sempre esteve ligada à produção agrícola e industrial. Essa é uma questão histórica e significativa quando patrimônio e, depois, tecnologia, eram valores exclusivos.
A trajetória da indústria da cana-de-açúcar acompanha o próprio crescimento do País, uma história de evolução contínua em expansão territorial e desenvolvimento tecnológico, marcada por crises cíclicas. No cenário atual, a ausência de fronteiras para o capital financeiro produz uma crise profunda de cultura empresarial aliada à necessidade de transformar vantagens comparativas em vantagens competitivas.
Esse é um dos primeiros setores econômicos do Brasil; foi pioneiro no desenvolvimento de energia limpa com a produção de etanol e energia a partir da biomassa, quando a questão ambiental ainda não estava em pauta com a força que hoje tem. Mas, lamentavelmente, sempre esteve em notícia pelos aspectos negativos, seja por crise no balanço entre produção de açúcar e álcool e a consequente falta do produto nos postos de abastecimento, no auge de demanda do mercado por álcool, seja por transgressões trabalhistas ou reclamações da população pela queima da palha da cana.
Não apenas as questões mercadológicas, mas os impactos sociais e ambientais negativos nortearam por anos as matérias que circularam sobre o setor sucroenergético brasileiro. Os problemas da queima da palha da cana-de-açúcar e das condições degradantes do trabalho no corte também tiveram sua cota de contribuição na imagem que se formou de um setor que não soube usar de forma satisfatória seus muitos pontos fortes em favor de construir uma percepção mais favorável.
Voltado ao intramuros, o setor não demonstrou preocupação, na medida necessária, com a opinião pública. Tudo indica que a crença generalizada era de que a lição estava feita. Os melhores índices de produtividade do mundo na produção de açúcar e álcool e desenvolvimento tecnológico para produção de energia limpa são, sem qualquer sombra de dúvida, provas incontestáveis de competência.
Porém não o bastante para esperar que a sociedade, espontaneamente, reconheça com propriedade todo o valor que o setor tem e nem mesmo para que o governo, voluntariamente, estabeleça regras que contribuam para sua sustentação. Além da percepção social da necessidade de se fazer representar, outro aspecto crítico para o qual, evidentemente, não foi dada a devida atenção é o capital humano: a capacidade de atração, retenção e desenvolvimento do capital humano.
Alguns indicadores de que o fator humano não tem sido uma questão estratégica para esse segmento são o fato de não se ter notícias de programas consistentes de trainees ou, ainda, de não se encontrar empresas listadas entre as melhores para se trabalhar, em qualquer um dos rankings de mercado.
A formação de uma imagem mais favorável, construída a partir da percepção de que este é um setor que valoriza as pessoas, constituído por empresas admiradas, que se preocupam com a saúde e o bem-estar, qualidade de vida, que investem no desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, contribuiria, e muito, para consolidar a reputação.
Reputação é a palavra-chave, a pedra de toque, tanto capaz de engajar os profissionais existentes, quanto de atrair novos talentos; reputação se constitui a base para o encaminhamento de problemas, a identificação de oportunidades que permitam alterar as “regras do jogo”.
Atualmente, a perenidade de qualquer negócio está muito além da capacidade produtiva, e o setor sucroenergético não é exceção, portanto ser o melhor em produtividade e gerador de energia limpa não é mais suficiente. É preciso investir na construção de uma boa imagem e transformá-la em reputação.
A atração de novos talentos é fator crítico, e a possibilidade de solução reside na capacidade de contar com profissionais capazes de fazer uma valoração correta do setor e de contribuir para que ocorra uma comercialização justa de seus produtos. Sobretudo a onda recente de fusões e aquisições aliada à estabilização da economia nacional tem demonstrado, na prática, a necessidade urgente de um redirecionamento na área de recursos humanos do setor.
Novas abordagens necessitam de novos formatos de gestão, e novos formatos de gestão requerem novos talentos para manejarem antigos problemas, de produzirem novas soluções propostas por um novo modelo, a fim de manter a competitividade.
Inclusive, é importante lembrar que o enorme diferencial competitivo existente foi gerado por talentos humanos que não devem ser negligenciados, mas ampliados em perspectiva e fortalecidos por novas competências, capazes de uma abordagem compatível com as necessidades atuais e futuras. Para tanto, reter e formar novos talentos é um desafio que se impõe.
Para que o setor possa encontrar seu caminho, é preciso reformular, adotar novas abordagens e fazer da sustentabilidade tema inerente às estratégias organizacionais, na forma como se concebem e realizam negócios. Fazer o que sempre foi feito vai conduzir, inevitavelmente, aos mesmos resultados.
Consolidar a reputação do setor sucroenergético nacional como gerador de riqueza para todas as suas partes interessadas é a opção para que o setor de açúcar, álcool e bioenergia brasileiro se coloque num rumo de crescimento consistente e sustentável. Há uma colocação de Einstein muito apropriada para a fase de transição de modelos que o setor vive atualmente: “Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”.