Sempre defendi a máxima de que toda usina bem administrada é uma máquina de fazer dinheiro. Ainda sustento que o negócio sucroenergético tem uma excelente oportunidade de crescimento, além de ser sustentável. Vislumbrando o futuro, as oportunidades são ainda maiores. O setor sucroenergético tem nas mãos os melhores produtos da modernidade: energia limpa e alimento. Quem não conhece o setor acredita que todas as usinas obtêm excelentes resultados.
A realidade, para grande parte delas, é totalmente diferente: possuem dívidas insustentáveis e gestão insuficiente para enfrentar os grandes desafios que o setor impõe. A complexidade é real. Uma usina que produz açúcar, etanol e energia elétrica é formada por vários negócios que exigem conhecimento, empenho e muito suor: agrícola, indústria química, logística, trading e manutenção. Quando o financeiro se torna a área mais crítica e importante da usina, todos os outros negócios são negligenciados.
Não vou detalhar a origem do endividamento que afundou o setor no início deste milênio. Importante saber que, nos últimos dois decênios do século XX, o setor era mal-acostumado e sempre esperou, passivo, uma mão salvadora do governo, que nunca veio. Crédulo, ainda apostou no crescimento quando o governo apontou para o horizonte mostrando uma visão de futuro fantástico.
A combinação desses eventos com a falta de gestão adequada levou para o abismo boa parte das usinas. Sem capacidade financeira, pagaram caro com as consequências da não renovação do canavial, dos juros maiores e dos custos mais altos. Para muitas, um caminho sem volta. Dessa forma, temos um exemplo clássico de um negócio Titanic: grande, forte, “infalível”, mas que, com gestão inadequada, consegue afundar. Todos já escutaram que “não existe uma safra igual à outra” e que “não dá para ter resultados diferentes fazendo da mesma maneira”.
Gestão ainda é a única saída: O setor vai viver mais consolidações saudáveis e vai ver mais usinas fecharem nos próximos meses. Esse é um dos poucos setores de commodities no mundo que ainda não é consolidado. Basta comparar com o número de companhias de petróleo, papel e celulose, mineração, entre outras que cada segmento tem. O enxugamento no número de participantes do segmento vai trazer maior equilíbrio entre oferta e demanda, melhorando margens e aumentando a sustentabilidade do setor.
Quem estava bem ficará melhor; quem estava mal será “consolidado” e quem estava pior fechará as portas definitivamente. Simples assim. Esperança é um comprimido placebo que donos de usina em dificuldades tomam diariamente. Escutam sobre programas governamentais para atingir produção anual de 50 bilhões de litros de etanol e ainda acreditam que isso será a salvação.
O RenovaBio tampouco vai resgatar ninguém, mas será um dos catalisadores da consolidação do setor. Quem acha que ele resgatará usinas mal geridas está apostando mais uma vez na salvação externa. Açúcar a 30 cents por libra-peso. Não serei repetitivo sobre os eventos relacionados ao setor que faz muita gente pensar que pode ser a salvação. Para ser rápido quanto aos preços do açúcar: ele chegou a valer R$ 1.500,00 a tonelada dois anos atrás: isso salvou alguma usina que estava no precipício?
Futurologia: O modelo já existente de companhias de petróleo unidas às usinas de açúcar e etanol é, na minha opinião, o modelo mais forte para ser o futuro do setor. Existem muitas sinergias entre ambos os negócios, além de margens agregadas da cadeia de valor. Acredito em duas ou três grandes empresas petrolíferas consolidando de 30% a 40% do mercado. O outro grande modelo são os vendedores de açúcar no varejo.
Como possuem o mercado de consumo nas mãos, garantem preços superiores aos da commodity e maior estabilidade nas margens.
Por fim, o modelo Trading-Usina está em xeque há algum tempo. O negócio de trading, apesar dos altos e baixos esperados, é excelente. Usinas, como afirmei, podem ser excelentes. Por que, então, os dois juntos parecem não ser tão bons quanto se esperava? A resposta parece simples: deve-se administrar a Trading como Trading e Usina como Usina.
Conheço mais de uma empresa com esse modelo que tem obtido excelentes evoluções. Eles se reinventaram conquistando melhores resultados. Portanto, sim, é possível. Nesse modelo, assim como as companhias de petróleo, existem sinergias entre os negócios que devem ser capturados e divididos. No meu entendimento, um modelo de sucesso. Deve ser um dos ganhadores na batalha da consolidação.
Os modelos acima devem ficar com 60% a 70% do volume de cana esmagado anualmente. O restante ficará com as boas usinas, de gestão familiar ou profissional, com boa administração e endividamento adequado.