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Dib Nunes Junior

Presidente do Grupo Idea

Op-AA-51

Os anos de ouro e os anos de chumbo
No final da década de 1980, o Brasil produzia cerca de 220 milhões de toneladas de cana-de-açúcar sob a tutela do Estado, que controlava, através do IAA, o Instituto do Açúcar e do Álcool, a produção, a comercialização e as cotas de exportação dos produtos finais. Isso gerou um atraso enorme ao setor, que não tinha muitas preocupações em se tornar competitivo, pois seu principal cliente era o governo.

Bastava enviar um telex e seu produto já estava vendido. Com isso, não se desenvolveram novas tecnologias agroindustriais, sistemas de gestão, comercialização, logística e, muito menos, novos mercados. Havia intervenção estatal regulamentada no setor e uma alta dependência do governo. Para conseguir uma nova cota para produção e exportação, ou ter um adicional de produção de açúcar para vender no mercado interno, era preciso “engraxar” (termo antigo para “propinas”) os detentores do poder do IAA e, principalmente, os fiscais do Instituto que faziam “vista grossa” para desvios. Com a extinção do IAA pelo então presidente Collor, o setor ficou órfão de pai e mãe e, de repente, foi lançado num mercado livre para o qual não estava preparado. 
 
Esse fato coincidiu com um período de excesso de oferta de açúcar e etanol ao mercado, com baixíssimas cotações e uma crise sem precedentes aos produtores. De repente, descobriu-se uma palavra que é fundamental para a sobrevivência num mercado livre: competitividade. O setor, finalmente, precisava avançar rumo a um aumento da sua produtividade para reduzir significativamente seus custos de produção. Essa transição durou quase uma década, com muitas divergências dentro do próprio setor sobre os critérios da liberação do mercado do anidro e do açúcar para comercialização, estocagem e adição à gasolina.

Os conflitos ocorriam em todas as interfaces: produtores de cana-usinas; usinas-distribuidores; distribuidores-Petrobras; Petrobras-varejo e o pior, entre os próprios players do mercado; uma vez que ninguém se entendia, era um “salve-se quem puder”. As usinas mais bem geridas começaram a aprimorar o processo produtivo, suas estruturas de gestão e sua infraestrutura de produção e comercialização. Nada mais uniria o setor, nem mesmo a criação da Unica, em 1997, pois, em mercado livre, todos se tornam concorrentes. A desregulação do mercado motivou as empresas a investir em crescimento.

No ano 2000, o sistema produzia apenas 250 milhões de toneladas, mas o setor teve um significativo crescimento na década seguinte, atingindo a cifra de 620 milhões de toneladas em 2010. Nessa década, aconteceu um boom de crescimento movido pela abertura de novos mercados para o açúcar e extraordinário crescimento de vendas de carros flex.
 
No período de FHC no poder, o setor não teve nenhuma ajuda, o governo apenas deixou o mercado livre se acertar sozinho. No primeiro mandato de Lula, em 2002, o Brasil já era considerado a “bola da vez” para investimentos estrangeiros, e o setor sucroenergético também fez parte da onda de investimentos que assolou o País.  Essa condição da economia brasileira motivou a criação de 93 novas unidades produtoras e a expansão de todas as existentes. 

Novas regiões canavieiras foram abertas nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Além disso, levou alguns grupos a abrir capital e a realizar aquisições de outras empresas, como foi o caso do Grupo Cosan (hoje Raízen), Guarani/Tereos e São Martinho.
 
Ao mesmo tempo em que o setor se organizava para se tornar mais competitivo, grupos de comercialização foram surgindo, e novos produtos e oportunidades de negócios foram criados, tais como a cogeração de energia elétrica a partir da biomassa, e novas modalidades de açúcar foram oferecidas ao mercado: açúcar light, líquido, orgânico e VHP. O setor crescia a olhos vistos, gerando renda, empregos e desenvolvimento no interior do País. 
 
Empresas multinacionais, petrolíferas e grupos de investimentos acreditavam no setor e na estabilidade política do Brasil. Muitas usinas resolveram montar a segunda, a terceira e até a quarta planta, pois crédito era o que não faltava no mercado. Importantes projetos de infraestrutura, como alcooldutos, terminais portuários, estradas de ferro e mudanças no sistema produtivo, surgiram.
 
Entretanto tudo isso começou a ruir em 2006, quando, então, já no segundo mandato do sr. Lula da Silva, houve uma mudança brusca na política econômica rumo a um vergonhoso projeto de poder que passaria a ser implantado por um grupo de sociopatas comunistas que, simplesmente, nunca aceitaram os conceitos de uma política desestatizante, liberal e autorregulável, pois isso contrariava os preceitos estatizantes e intervencionistas do Partido dos Trabalhadores,teleguiado por Fidel Castro.

O projeto de poder comunista previa a cooptação de parlamentares, juízes e outras autoridades, o fatiamento do Estado e a dilapidação de estatais lucrativas, como a Petrobras e a Eletrobras, além de dar prioridade ao pré-sal, ao aparelhamento do Estado em todos os níveis e à criação de um “propinoduto”, através de empreiteiras em grandes obras, como plataformas de perfuração de poços de petróleo, estádios de futebol, empréstimos vultosos aos países comunistas aliados, subsídios seletivos a alguns setores amigos do poder. 
 
Foram criadas mais de 40 novas empresas estatais para acomodar apaniguados. Era o fim do livre mercado para todos, e o produto mais prejudicado foi o etanol, que, atrelado à gasolina, passou a não ter mais reajustes, pois os combustíveis, de um modo geral, começaram a ser utilizados como mecanismo de controle da inflação.
 
O problema se agravou quando sr. Lula da Silva elegeu Dilma como sua sucessora, uma pessoa totalmente despreparada, que detestava o setor sucroenergético, fato este várias vezes constatado pelo setor. Nesse período, o setor sofreu todo tipo de agressão: congelamento de preços do etanol, favorecimento da gasolina com retirada da Cide, intervenção no preço da energia elétrica, corte de créditos ao setor, etc. 
 
Foram seis longos anos com danos irreparáveis a um dos mais importantes segmentos da economia nacional. Com isso, o setor contraiu uma dívida impagável, teve mais de 80 unidades fechadas e 76 unidades em recuperação judicial. As usinas precisaram adotar políticas de sobrevivência, cortando na carne os seus gastos, demitindo funcionários, abandonando a tecnologia desenvolvida, deixando de tratar e reformar canaviais, e acabou-se a preocupação com a competitividade.
 
Felizmente, com a deposição do governo do PT e por obra do mercado, estamos passando por um bom momento de preços de açúcar, e o etanol já está respirando com ajustes nos preços dos combustíveis. Ainda temos alta tecnologia de produção, mão de obra altamente especializada, mais de nove milhões de hectares cultivados e infraestrutura nas empresas para iniciarmos um novo ciclo virtuoso. 
 
Espera-se que, daqui para frente, haja o mínimo de ação governamental sobre o setor e que ele tenha tirado boas lições dos seis anos de “chumbo grosso” que passaram e, dessa feita, parta para a recuperação de seu potencial produtivo, avançando rumo à melhoria contínua de competitividade do setor como um todo.