Presidente da Petrobras
Op-AA-13
Nos últimos 30 anos, o Brasil conviveu intimamente com um produto só agora vislumbrado pelo mundo como fonte de energia ecologicamente correta e economicamente viável. O etanol, esse nosso conhecido, desponta globalmente como substituto parcial aos combustíveis fósseis e se torna objeto de interesse de países tão distintos como Japão, Venezuela, Nigéria, China, Estados Unidos e Coréia do Sul, entre outros.
O etanol tem importância crescente no mercado internacional de derivados leves. Adicionado à gasolina, até a proporção de 10%, substitui o chumbo e o MTBE como potencializa-dor da octanagem, sem qualquer alteração nos motores e sem prejuízo ao ar ou aos lençóis freáticos. Em mistura entre 10% e 25%, requer a intervenção da indústria automobilística, no ajuste de motores.
Acima de 85%, exige veículos flex-fuel. Estamos diante da possibilidade real de criação de uma nova commodity global, o álcool combustível, com o Brasil na dianteira do processo. Porém, a consolidação do mercado internacional do etanol exige o engajamento de toda a cadeia energética, com investimentos tanto de países produtores, quanto de consumidores.
Se a produção de etanol goza de relativa flexibilidade, sua expansão exige incentivos que encorajem a participação de produtores, distribuidores, fabricantes de carros e consumidores. A formação de preços deve seguir uma regra transparente e adequada à realidade do mercado de combustíveis. Contratos de longo prazo viabilizam investimentos em infra-estrutura, enquanto uma rede de múltiplos fornecedores internacionais garante a segurança no suprimento.
Para o Brasil e demais produtores, é essencial a revisão das barreiras comerciais para produtos agrícolas. Mas, não é só isso. Precisamos discutir o zoneamento das áreas de expansão do plantio da cana, desenvolver logística de transporte e viabilizar uma estrutura de produção capaz de garantir atendimento a contratos de longo prazo.
Aos países consumidores, cabe preparar seus mercados para incorporar o novo produto, redesenhando a regulamentação do setor de combustíveis, definindo a especificação internacional do etanol e, sobretudo, rompendo as barreiras de importação. A sustentabilidade ambiental e social do produto também é fundamental na consolidação do mercado.
O aumento de produção deve seguir modernos padrões de gestão ambiental e responsabilidade social. No Brasil, o novo marco regulatório do setor poderá ter como princípios evitar a monocultura da cana, garantir renda ao produtor individual, reduzir o prazo de queimadas e priorizar a instalação de novas usinas em áreas degradadas, promovendo a sua recuperação.
O papel da Petrobras neste novo cenário é o de abrir o mercado internacional para a nova produção brasileira e desenvolver uma logística que agregue valor e competitividade ao etanol nacional. A companhia também pode ter papel importante na consolidação do etanol como commodity, associando-se a parceiros privados, em projetos de produção que garantam o atendimento a contratos de longo prazo.
Os grandes mercados consumidores potenciais são o objetivo da companhia - como o Japão, que em 2010 começará a adicionar 3% de álcool à gasolina. Em junho passado, a Petrobras e sua coligada no Japão, a Brasil-Japan Ethanol, realizaram a primeira exportação de etanol para indústrias japonesas, desde a desregulamentação do setor do álcool naquele país, em abril de 2006. Os 73 mil litros exportados serão utilizados sem necessidade de reprocessamento.
A operação foi fundamental para avaliarmos todas as etapas do processo da logística e seu impacto na qualidade final do produto. E demonstrou que a Petrobras está capacitada a atender os altos padrões de qualidade e padronização da indústria japonesa, cujo mercado potencial para o álcool é de 300 milhões de litros por ano.
Nos próximos meses, a Petrobras assinará com a japonesa Mitsui os contratos dos cinco primeiros projetos privados de produção de etanol no Brasil, para o mercado japonês. Outros 35 estão em análise. Os primeiros projetos terão investimento de US$ 1 bilhão e agregarão um bilhão de litros de etanol à produção brasileira, a partir de 2009.
A Petrobras será um dos atores do processo, com uma participação entre 10% e 20%, em parceria com empreendedores brasileiros e estrangeiros. A participação da companhia visa atender à exigência japonesa de garantia de fornecimento de longo prazo. Discutimos a criação de uma fórmula, fixando preços mínimos e máximos no período.
As 40 usinas, ao custo estimado de US$ 200 milhões cada, vão agregar 3 bilhões de litros de etanol à produção brasileira, pouco menos que os 3,5 bilhões que a companhia pretende exportar em 2011. A participação nos 40 projetos, aliada à construção de dois alcooldutos, representa, para a Petrobras, investimentos de mais de US$ 2,5 bilhões, em três anos.
O primeiro alcoolduto ligará Senador Canedo, GO, ao porto de São Sebastião, SP, e poderá transportar até 8 bilhões de litros por ano. Estudamos um segundo alcoolduto, ligando Cuiabá, MT, ao Porto de Paranaguá, PR, e alternativas de uso da hidrovia Tietê-Paraná, escoando a produção do oeste paulista, Mato Grosso do Sul e Paraná. A idéia é montar uma estrutura logística em multimodais de transporte, seja em forma de dutos, ferrovias ou hidrovias.
A Petrobras, como empresa de energia e alavancadora de importantes setores da economia brasileira, seguirá firme em seu papel de promover uma verdadeira revolução na infra-estrutura sucroalcooleira do país, contribuindo, de forma decisiva, para a sustentabilidade do produto nacional e para a consolidação do mercado internacional do etanol.