A cana-de-açúcar apresenta alto potencial de produtividade quando não existem fatores restritivos ao seu desenvolvimento. Relatos na literatura apontam produtividades potenciais acima de 300 t/ha de colmos. Porém a produtividade obtida comercialmente está muito longe desse valor devido a uma série de fatores, entre eles: manejo varietal, épocas de plantio e de colheita, correção e fertilidade do solo, ambientes de produção, clima com destaque para a distribuição de chuvas e temperatura, irrigação, controle de plantas daninhas, pragas e doenças, sanidade e qualidade das mudas, espaçamento, compactação e conservação do solo, etc.
Alguns fatores podem ser facilmente manejados, com praticamente nenhum ou com baixíssimos investimentos, e, mesmo assim, ter canaviais produtivos:
1. elaboração de um cronograma e de um planejamento de todas as operações necessárias durante o ano agrícola, para realizá-las nos momentos mais favoráveis. Manter sempre um detalhado histórico da área, das operações e dos insumos utilizados;
2. definir bem os tipos de solo de cada região que irão compor os ambientes de produção e associar a escolha de variedade apropriada para o local. Ambientes de produção favoráveis apresentam melhores condições ao desenvolvimento das plantas. Nos ambientes de produção, existem diferenças quanto à capacidade de armazenamento de água (CAD). Assim, como exemplo, o Nitossolo e o Latossolo armazenam, respectivamente, de 125-150 mm e 60-80 mm. No estudo desenvolvido por Prado et al. (2011), em cana-planta, em dois solos semelhantes na textura e diferentes na química e na morfologia – Latossolo Vermelho distrófico, textura muito argilosa A, moderado (LVd) e o Nitossolo Vermelho eutrófico, textura muito argilosa A, moderado (NVe) –, constatou-se que houve um ganho de 15 t ha-1 na produtividade para o NVe, ou seja, 11% superior, principalmente pelo maior potencial de água armazenada que esse solo apresenta;
3. definir bem as épocas de plantio e de corte de acordo com os ambientes de produção. A safra agrícola na região Centro-Sul normalmente ocorre entre abril e novembro, e, nesse período, a cultura passa por deficiência hídrica, que pode prejudicar a brotação e seu desenvolvimento. A cana-de-açúcar colhida no outono (início da safra) apresenta pouca influência da deficiência hídrica (20 a 50 mm) se comparada com a colhida na primavera (final de safra), com deficiência hídrica variando de 450 a 550 mm. Dados do Projeto Caiana, Programa Cana – IAC, com 6.948 dados de produtividade de cana observados em diferentes regiões, mostraram que, ao colher a cana no início da safra, nos ambientes favoráveis, em relação ao final de safra, houve queda de 15% na produtividade. Já nos ambientes mais restritivos, essa queda passa a ser de aproximadamente 30%. Esses resultados mostram que é necessário priorizar a colheita mais cedo nos ambientes restritivos quanto à deficiência hídrica e à fertilidade do solo;
4. qualidade das mudas quanto à sua sanidade e reserva nutricional. Iniciar o canavial com mudas sadias e de procedência conhecida é um passo muito importante, para não comprometer a produtividade do canavial.
5. análise de solo, principalmente por ocasião da reforma do canavial, é uma ferramenta de baixo custo, fundamental no diagnóstico das características químicas, fornecendo subsídios para as possíveis correções do solo, tanto na superfície quanto em profundidade. O solo corrigido e bem adubado propicia o crescimento das raízes e é garantia de boa produtividade e longevidade;
6. atentar para a qualidade das operações de preparo do solo, da aplicação e da incorporação de corretivos, bem como dos resíduos da agroindústria, das operações do plantio, como a sulcação, mantendo o espaçamento equidistante, além de distribuição de mudas e cobrimento, apresentando, assim, boa uniformidade de plantio e evitando falhas;
7. manutenção dos implementos e calibração da dose recomendada dos insumos, proporcionando uma boa uniformidade de aplicação;
8. evitar o pisoteio da linha de cana e a compactação do solo, que funciona como barreira física no desenvolvimento do sistema radicular, tanto em superfície como em profundidade, bem como a infiltração de água no solo. A compactação está relacionada aos tipos de solo, ao teor de umidade, ao tráfego intenso, principalmente associado ao espaçamento e à umidade do solo;
9. parcelamento da adubação, principalmente do potássio no plantio, quando as doses recomendadas são elevadas, e em solos de baixa CTC (pouco tamponados), associado ao período chuvoso;
10. levantamento das plantas daninhas e escolha do produto com melhor relação custo-benefício. O controle químico de plantas daninhas custa, atualmente, entre 3% e 6% dos custos de produção e promovem efetivos ganhos de produtividade;
11. aplicação dos insumos próximos à linha de cana, onde se localiza a maior parte do sistema radicular;
12. atentar para a qualidade da operação de colheita, evitando perdas, arranquio de soqueiras que irão provocar falhas ao longo dos ciclos subsequentes, compactação e pisoteio da linha de cana.
Outros fatores também podem elevar a produtividade, porém é necessário investimentos maiores. Nesse sentido, as operações básicas de baixo custo citadas deverão ser anteriormente priorizadas pelo produtor. O olhar do dono, o carinho e o dia a dia com o canavial não têm preço. Para quem se apaixona pelo que faz, as operações bem-feitas, o cuidado e o capricho são questão de honra e geram também um grande prazer.