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Automação total e material genético saudável
O Futuro do Cultivo de Cana-de-Açúcar no Brasil

Alewijn Broere e Conny Maria de Wit
CEO da MultiCropsPlus e CEO da SBW do Brasil, respecticamente
 
Um chamado à inovação no setor sucroenergético brasileiro: O setor de cana-de-açúcar no Brasil, um pilar essencial da economia nacional, enfrenta queda na produtividade: de uma média de 80 toneladas por hectare para cerca de 75 toneladas. — redução que compromete tanto a rentabilidade quanto a competitividade internacional.
 
Esse cenário decorre, em grande medida, do envelhecimento do parque varietal brasileiro, onde o prolongado uso de cultivares tradicionais resulta em acúmulo de doenças (especialmente viroses e pragas) e declínio gradual do vigor genético, fenômenos que se amplificam através de propagação vegetativa inadequada de mudas.

Essa tendência ameaça simultaneamente produtividade, lucratividade e sustentabilidade. Diante deste contexto, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UDOP) e atores como a Adecoagro — grande conglomerado agrícola que exemplarmente implementou uma biofábrica de mudas meristema com capacidade de 30 milhões de mudas/ano — demonstram que a recuperação setorial passa pela convergência de duas estratégias complementares: uso de variedades novas com potencial produtivo maior e mudas sadias livres de patógenos.

E a melhor notícia é que a produção de mudas de meristema sadias é possível ser realizada em biofábricas 100% automatizadas. Esta solução estruturante é capaz de resolver simultaneamente os gargalos de qualidade genética, sanidade fitossanitária e escala de produção de mudas — fundamentos para a retomada sustentável da produtividade. 
 
Doenças e Pragas: Os Inimigos Silenciosos da Cana: A principal causa da perda de produtividade é a presença disseminada de doenças e pragas que comprometem a vitalidade da cana-de-açúcar. A doença do enfezamento da soqueira (Ratoon Stunting Disease – RSD) apresenta taxa de infecção de até 70%. A queima das folhas afeta até 60% das lavouras. Além disso, a Síndrome da Murcha e o besouro Sphenophorus ameaçam os campos; o Sphenophorus causa cerca de 15% de prejuízo. A Adecoagro demonstra que medidas direcionadas funcionam: com práticas aprimoradas e mudas saudáveis, reduziu a infestação por Sphenophorus de 30% para 1%, provando que a recuperação por meio de implementação de mudas saudáveis e um excelente preparo da nova área a ser implementada é possível.
 
A Solução: Automação Total e Mudas Saudáveis: A estratégia mais eficaz para reverter o declínio produtivo reside na automação integrada de todas as etapas da produção de mudas, desde a multiplicação inicial até o estabelecimento em campo. Este processo estrutura-se em quatro componentes interdependentes que garantem qualidade sanitária, uniformidade genética e otimização de recursos:

1. Automação laboratorial:  A primeira etapa ocorre em laboratórios especializados em cultivo de tecidos, a MultiCropsPlus na cidade de Holambra é a parceira estratégica da Adecoagro neste projeto da Biofábrica. O processo utiliza biorreatores de imersão temporária (TIB), sistema semiautomático que reduz em até 90% o uso de mão de obra na etapa final da produção dos meristemas. A MultiCropsPlus neste momento está desenvolvendo sistemas robóticos de corte dos explantes nas fases anteriores, isto irá assegurar maior eficiência e produtividade nesta etapa.

2. Robotização nos viveiros: Os explantes do laboratório são transferidos para viveiros de aclimatação automatizados, onde recebem progressivamente as condições de campo (luminosidade, umidade e temperatura variável). Nesta fase, robôs automáticos de plantio e seleção garante produção de mudas uniformes e saudáveis. O resultado é um lote homogêneo de mudas robustas, preparadas fisiologicamente para o plantio a campo.

3. Plantadeira automatizado no campo: O plantio ocorre através da plantadeira totalmente automatizada, que implanta mudas com eficiência operacional de 2 hectares por hora e precisão milimétrica. A automação garante: densidade de plantio otimizada, profundidade uniforme, espaçamento preciso e minimização de erros humanos, fatores que impactam diretamente o vigor inicial e a população final de colmos produtivos.

4. Gestão de pegamento no campo com sistema de gotejamento: Simultaneamente ao plantio, sistemas de gotejamento automatizado são instalados, fornecendo água e nutrientes de forma controlada e eficiente durante a fase crítica de estabelecimento das mudas. A irrigação por gotejamento reduz significativamente o desperdício hídrico e permite fertirrigação precisa, ajustável conforme estádios fenológicos. O sistema pode ser temporário e reutilizável, removido após o estabelecimento completo do canavial para a próxima área a ser plantada.

Esta abordagem totalmente integrada assegura que cada etapa reforça as anteriores: mudas saudáveis do laboratório >> desenvolvem-se uniformemente no viveiro >> implantam-se com precisão no campo >> recebem nutrição otimizada nos estádios críticos. Aplicando-se a exemplo do que a Adecoagro vem fazendo, através da implementação destas mudas em uma cantose próxima a área a ser implementada. Com esta estratégia, associada a outras boas praticas de manejo, a Adecoagro conseguiu reduzir sua infestação de Sphenophilos de 30% para apenas 1%, melhoria que seguramente impacta o rendimento da empresa e a coloca no ranking dentre as mais eficientes do mercado. 
 
Redução de Custos e Produção Local de Robôs: Os investimentos iniciais parecem altos, mas os benefícios de longo prazo e a produção local tornam o modelo viável. Um robô holandês avançado para cultivo de tecidos custa cerca de €120.000; com taxas de importação e logística no Brasil, esse valor sobe para cerca de €200.000. A produção local pode fornecer robôs semelhantes por cerca de €50.000, reduzindo significativamente as barreiras de adoção. O retorno sobre o investimento é favorável.
 
Impacto e Estratégia: Um Futuro Sustentável: Um sistema totalmente automatizado garante a disponibilidade de material genético saudável e de alta qualidade, resultando em lavouras mais robustas e produtivas. Essa abordagem reduz a dependência de produtos químicos e mão de obra, além de aumentar a eficiência do uso da terra. O modelo é escalável e aplicável a outras culturas, como o eucalipto. Economicamente, a eliminação de doenças e a otimização dos processos de plantio podem aumentar a produtividade por hectare em 30 toneladas ou mais, promovendo diretamente a lucratividade e o crescimento sustentável.
 
Descrição do Modelo: O modelo baseia-se na produção totalmente automatizada de material genético saudável. As plantas são inicialmente cultivadas em sistema de cantose, em parcela da área a ser renovada, ou em área próxima; entre 8 a 9 meses depois, esse material é usado para estabelecer a área de produção comercial utilizando-se as maquinas de plantio automatizada que as usinas já possuem, com um fator de 1 para 5. Para essa fase, está sendo desenvolvida uma metodologia mais eficiente de multiplicação e plantio com uma proporção de 1 para 20.
 
Conclusão: Investir em automação total e em material genético saudável não é um luxo, além de ser economicamente viável, trata-se de uma etapa necessária para tornar o setor sucroenergético brasileiro resiliente, lucrativo e sustentável.