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Tirso de Salles Meirelles

Presidente da Faesp

OpAA81

Biogás: a nova face energética da cana-de-açúcar
O uso do biogás tem crescido significativamente em todo o mundo, impulsionado pela necessidade de encontrar fontes de energia renováveis e de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Países europeus, como Alemanha e Suécia, estão na vanguarda dessa expansão, com políticas públicas favoráveis e investimentos substanciais em infraestrutura de biogás.

Na Ásia, China e Índia também têm investido massivamente na produção de biogás como parte de estratégias para melhorar a gestão de resíduos e aumentar a segurança energética. Esse crescimento global reflete a versatilidade e a eficiência do biogás como uma solução energética sustentável.
 
Dependendo da origem da matéria orgânica e do processo de produção, o biogás pode ser classificado em diferentes tipos, cada um com características e aplicações específicas. Os resíduos podem ser industriais, a partir dos resíduos de esgoto, de resíduos agrícolas ou por uma mistura de elementos. No processo industrial, a geração é feita por indústrias de alimentos e bebidas, processamento de carne, laticínios e outras atividades industriais.

Outro tipo é a partir da digestão anaeróbica de lodo, um subproduto do tratamento de águas residuais no tratamento de esgoto, conhecido como "gás de lodo", capturado e utilizado para várias finalidades, incluindo geração de eletricidade, aquecimento e como combustível veicular.

A co-digestão é um processo que combina diferentes tipos de resíduos orgânicos em um único biodigestor para otimizar a produção de biogás. Ao misturar resíduos agrícolas, industriais e urbanos, a co-digestão pode melhorar a eficiência do processo de digestão anaeróbica e aumentar a quantidade de biogás produzido. O processo de digestão anaeróbica desses resíduos ocorre em biodigestores, resultando na produção de biogás que pode ser utilizado para gerar eletricidade, calor ou ser purificado para se transformar em biometano.
 
Na produção com base em resíduos agrícolas, o biogás a partir de resíduos da cana-de-açúcar tem ganhado destaque como uma alternativa energética sustentável e eficiente. No Brasil, em especial no estado de São Paulo, essa prática tem-se mostrado promissora tanto em termos econômicos quanto ambientais. 

Pela importância histórica da cultura em nosso estado, era primordial que as pesquisas e os avanços no setor acontecessem aqui.

O biogás a partir da cana-de-açúcar oferece inúmeros benefícios econômicos, como contenção de gastos e diversificação de rendimentos para as usinas de etanol. Pode ser utilizado para gerar eletricidade e calor, reduzindo os custos operacionais das usinas e aumentando a competitividade. Além disso, quando purificado, o biogás produz biometano, um substituto do gás natural, que pode ser comercializado, criando uma nova fonte de receita. Esse processo também contribui para a independência energética, reduzindo a necessidade de importação de combustíveis fósseis.

Os benefícios ambientais são significativos. A utilização de resíduos da cana-de-açúcar ajuda a mitigar os impactos ambientais associados ao descarte inadequado desses subprodutos. A vinhaça é rica em nutrientes, mas pode causar poluição se descartada inadequadamente em corpos d’água. Ao ser utilizada na produção de biogás, esse problema é evitado, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa, porque o metano, um dos causadores do efeito estufa, é capturado e utilizado como fonte de energia, em vez de ser liberado na atmosfera.

A produção de biogás a partir da cana-de-açúcar é um exemplo claro de economia circular, onde os resíduos são transformados em recursos valiosos. A sustentabilidade é promovida ao reduzir o desperdício e aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais. 

Empresas e instituições de pesquisa estão constantemente desenvolvendo novas tecnologias para otimizar a produção de biogás e melhorar a eficiência dos biodigestores. Essas inovações no setor agrícola e energético não só aumentam a viabilidade econômica do biogás, mas também ampliam seu impacto ambiental positivo.

O Centro de Excelência da Cana-de-Açúcar, que está sendo construído pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), representa um marco significativo para a inovação e o desenvolvimento sustentável no setor agrícola. Localizado em Ribeirão Preto, tem o objetivo principal de fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias avançadas para a produção de cana-de-açúcar, com foco na sustentabilidade e na eficiência produtiva.

O centro vai funcionar como um polo de formação e capacitação para produtores e técnicos e integrar práticas agrícolas modernas com soluções energéticas renováveis, como a produção de biogás, contribuindo para a competitividade e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
 
Contudo, apesar dos inúmeros benefícios, a produção de biogás enfrenta desafios significativos. A implementação de biodigestores e outras infraestruturas necessárias requer investimentos substanciais. A operação eficiente desses sistemas exige conhecimento técnico especializado. A variabilidade na quantidade e qualidade dos resíduos também pode afetar a consistência da produção de biogás. Políticas públicas adequadas e incentivos financeiros são essenciais para superar esses desafios e promover a adoção generalizada dessa tecnologia.

As perspectivas, entretanto, são promissoras. Com o aumento da demanda por energias renováveis e a conscientização sobre a importância da sustentabilidade, o biogás irá desempenhar um papel crucial no futuro energético do Brasil. A pesquisa e o desenvolvimento contínuos de novas tecnologias e de processos contribuirão para a eficiência e viabilidade econômica da produção de biogás. Importante ressaltar que políticas governamentais favoráveis e incentivos financeiros podem acelerar a adoção dessa tecnologia, garantindo sua expansão.

O biogás emerge como uma solução energética multifacetada que oferece benefícios econômicos, ambientais e sociais. À medida que o mundo busca alternativas sustentáveis para enfrentar a crise climática, o biogás destaca-se por sua capacidade de transformar resíduos em recursos valiosos, promovendo uma economia circular.

As perspectivas futuras são encorajadoras, com potencial de crescimento significativo impulsionado por inovações tecnológicas, políticas de apoio e uma crescente conscientização global sobre a importância da sustentabilidade energética. O biogás será um componente vital no mix energético do futuro, contribuindo para um planeta mais limpo e sustentável.

Em São Paulo, onde a produção de cana-de-açúcar é predominante, essa prática tem o potencial de transformar o setor energético e agrícola. Ao promover a sustentabilidade e a eficiência no uso dos recursos, a produção de biogás a partir da cana-de-açúcar retoma a visão sustentável do Brasil, como ocorreu na criação do Programa Nacional do Álcool (ProÁlcool), e contribui para um futuro mais verde e próspero. O futuro que todos nós queremos.