Diretor de Biofuel da British Petroleum Brasil
Op-AA-19
O cenário econômico mundial é preocupante. A guinada da economia mundial foi brutal e sem precedentes, pegando governos e iniciativa privada despreparados para enfrentá-la. A crise abalou o mercado financeiro e muitos bancos que pareciam sólidos acabaram ou tiveram que receber recursos dos governos para sobreviver.
As linhas de créditos comerciais, antes abundantes e baratas, escassearam e encareceram; o consumo de carros e de outros bens de consumo, que dependiam de crédito para alavancar suas vendas, despencaram, impactando negativamente toda a sua cadeia de fornecedores e provocando ondas de choques que estão repercutindo em toda a atividade econômica mundial, sem ainda sabermos quando esses efeitos irão terminar.
Contudo, devemos encarar as crises como períodos de ajuste. Elas servem para reflexão, cortar custos, rever prioridades e traçar novas metas. As crises criam oportunidades e as empresas mais criativas, saudáveis e focadas normalmente saem delas fortalecidas. Nessa crise, as empresas do setor de açúcar e álcool brasileiras foram particularmente afetadas. Muitas delas estavam em processo de rápida expansão e muito endividadas, algumas em dólares.
A escassez e o encarecimento do crédito, aliados à forte desvalorização cambial, fizeram muitas dessas empresas estremecerem e algumas delas já pediram concordata. Os próximos meses indicam que poderão ser extremamente duros para o setor, já que a oferta de açúcar e álcool continuará aumentando, devido aos investimentos que estavam em curso.
A demanda não deverá crescer tanto quanto se previa, devido ao aumento do desemprego e à diminuição da atividade econômica. Além disso, o baixo preço do petróleo e seu impacto no preço do etanol é um fator de grande preocupação. Entretanto, se olharmos além da crise, iremos verificar que os fatores que levaram ao surto de investimentos recente continuam presentes, pois o petróleo continuará sendo uma energia não renovável e cada vez mais escassa.
Além disso, o mundo continuará tendo que enfrentar o problema das mudanças climáticas e mudar a sua matriz energética. O interesse da British Petroleum - BP, por biocombustíveis foi formalizado em 2006, quando ela criou a unidade de negócios de biocombustíveis. Dois anos depois, em 2008, a BP anunciou o seu primeiro investimento de porte no segmento de açúcar e álcool no Brasil, ao formalizar uma parceria com os Grupos Maeda e Santelisa Vale, nominada Tropical BioEnergia.
Sendo que a primeira usina prevista pela parceria iniciou suas operações em Setembro de 2008, ou seja, em plena eclosão da atual crise. Entretanto, como a maioria das grandes empresas de energia, as decisões de investimento da empresa não se alteraram, já que essas decisões levam em consideração as tendências de longo prazo. Nesse aspecto, a BP visualiza duas grandes tendências no setor.
A primeira é relacionada à necessidade de se ter segurança energética e a segunda é relacionada à necessidade de enfrentarmos os riscos das mudanças climáticas. Tendo em vista essas tendências, a BP focou sua atuação na produção, desenvolvimento e pesquisa de biocombustíveis sustentáveis, que possam proporcionar benefícios ambientais e ao mesmo tempo contribuir para a segurança do abastecimento energético mundial.
Nós acreditamos que os biocombustíveis darão uma contribuição particularmente importante para o transporte rodoviário, reduzindo as emissões de carbono do setor e diversificando a oferta de combustiveis. Os biocombustíveis também serão um poderoso fator de mudança no campo. Eles têm o poder de impactar positivamente o setor agrícola das economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
No mundo mais desenvolvido, os biocombustíveis podem estimular a atividade agrícola, ao passo que nas economias em desenvolvimento podem oferecer oportunidades para a redução da pobreza e de estímulo ao crescimento econômico. A produção de biocombustíveis criará novos centros de produção, desenvolverá novos mercados e gerará empregos em regiões pouco desenvolvidas, e necessitará que a mão-de-obra local seja treinada e educada.
A BP acredita que o negócio dos biocombustíveis irá crescer muito nos próximos anos, devido aos fatores mencionados anteriormente e devido à grande disponibilidade de terras agrícolas e de matérias-primas no mundo. Nossas análises apontam que existe um potencial teórico dos biocombustíveis poderem substituir de 20% a 30% dos combustíveis fósseis utilizados no mundo para transportes rodoviários até o ano de 2030, contra os atuais 3%, sem que esse aumento cause impactos inaceitáveis nas terras disponíveis para a alimentação, podendo, com isto, produzir uma redução de mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa, originados pelos transportes rodoviários.
A produção de biocombustiveis também é importante no que se refere à segurança energética e isto se torna claro quando observamos o Brasil, onde o consumo de etanol já ultrapassou o da gasolina. É por isso que nos comprometemos a investir em biocombustíveis e já anunciamos investimentos de cerca de US$ 1,5 bilhão em várias iniciativas, que incluem investimentos na produção de biocombustíveis de primeira geração e no desenvolvimento de tecnologias de biocombustíveis mais avançados.
Em virtude de seu tamanho e de sua abrangência global, a BP habilita-se a desempenhar um papel importante no aumento da oferta de biocombustíveis. A BP entra nesse mercado consciente que existe um grande interesse de muitas outras empresas, desde empreendedores e empresas de capital, a empresas do setor agrícola e alimentício.
A BP também precisa trabalhar com parceiros que tenham experiência nesse setor. Nós acreditamos ser necessário investir na primeira geração de biocombustíveis, particularmente na produção de etanol de cana-de-açúcar do Brasil, com o objetivo de adquirir conhecimento, capacidade de produção e criar plataformas para os biocombustíveis mais avançados no futuro.
Ao elaborarmos a nossa estratégia de longo prazo, nós procuramos responder às seguintes perguntas: Quais são as melhores matérias-primas e processos disponíveis na atualidade? Quais serão os próximos avanços tecnológicos? Qual são as matéria-primas e tecnologias mais promissoras e que oferecem o maior potencial no longo prazo?
E obtemos respostas muito claras. Hoje, a matéria-prima que oferece a maior redução de gases de efeito estufa, maior conteúdo energético e melhor economicidade é a cana-de-açúcar brasileira. No curto/médio prazo, estamos empenhados no desenvolvimento do biobutanol, uma molécula de combustível mais avançada e que oferece várias vantagens em comparação ao etanol, mas que pode ser obtido a partir das mesmas matérias-primas que hoje o produzem.
O biobutanol tem maior densidade energética que o etanol, pode ser misturado à gasolina em concentrações mais elevadas do que o etanol e é menos suscetível à separação na presença de água do que o etanol, o que significa que ele poderá utilizar a infraestrutura da indústria da distribuição, sem exigir modificações nas instalações existentes.
Nós criamos uma parceria com a DuPont para construir uma planta de demonstração de biobutanol no Reino Unido. Esta planta está sendo construída ao lado de uma planta de bioetanol, que estamos construindo junto com a Associated British Foods. Investimentos como estes são formas de construir uma ponte para o futuro dos biocombustíveis avançados.
No longo prazo, estamos trabalhando no desenvolvimento de combustíveis a partir de matérias-primas lignocelulósicas, que podem aumentar a produtividade de produção atual de etanol. Em agosto de 2008, anunciamos uma aliança estratégica com a Verenium Corporation. Nós investiremos juntos US$ 90 milhões, com o objetivo de desenvolver bioetanol celulósico de baixo custo.
Espera-se que o etanol lignocelulósico ofereça muitas vantagens sobre o etanol de primeira geração, incluindo a utilização de matérias não-alimentares, tais como miscanthus e energycane, matérias-primas que poderão ter maior rendimento por hectare e, potencialmente, trazer uma maior redução dos gases que agravam o efeito de estufa.
Nós acreditamos no futuro dos biocombustíveis, mas confiamos firmemente que a indústria de biocombustíveis deva se desenvolver de forma sustentável e que todos eles devam ter o seu desempenho e sua sustentabilidade avaliados. Nós só investiremos naqueles biocombustíveis que acreditamos serem os melhores.