Presidente do CEISE Br
Op-AA-43
Competitividade. Não há como falar do setor sucroenergético sem falar de competitividade – principal elemento que devemos levar em consideração para traçar qualquer estratégia e/ou medida, visando à sua retomada. A recuperação da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, inclusive das usinas e da própria indústria de base, depende do aumento da competitividade de seus produtos e subprodutos no mercado para atrair novos investimentos e reconquistar a confiança sobre os negócios.
A competitividade do etanol começa a ser esboçada a partir de medidas como a volta da Cide – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, sobre a gasolina, que já foi anunciada e tem previsão de ser implementada a partir de maio, e o aumento da mistura de etanol anidro à gasolina, de 25 para 27%, também já divulgado pelo governo.
Além dessas ações, precisam ser estimulados programas mais específicos, como o regime automotivo Inovar-Auto, para que as montadoras invistam em pesquisas de aprimoramento da eficiência dos motores flex, quanto ao uso de etanol. A redução do ICMS do biocombustível em outros estados, como já é praticada em SP e, mais recentemente, em MG, contribui para o aumento do consumo e, consequentemente, da arrecadação, beneficiando também produtores e o consumidor final.
A cogeração de energia elétrica a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, subprodutos da cadeia produtiva, enfrenta entraves e despreza uma fonte limpa e barata. A inclusão dessa energia pode ser viabilizada através de leilões específicos, assim como com a definição clara do papel da biomassa na matriz energética brasileira. As medidas citadas só podem ser executadas, em sua maioria, através do interesse e disposição do Governo Federal e de governos de estados produtores.
As plataformas administrativas sabem da crise que acomete o setor, reconhecem as reivindicações e urgências e têm mostrado inclinação em prol da retomada. No entanto os empresários do setor precisam “mexer esse caldeirão, fazer a coisa andar”. Mas como conseguir isso? Não, não é mesmo uma tarefa simples, mas é necessário, primeiro, que os elos se fortaleçam em um objetivo comum, organizado, mais sólido e/ou mais próximo da realidade, ou seja, com reais possibilidades de sair do papel, sempre pensando, é claro, na competitividade.
Hoje, um dos maiores problemas do Brasil é a produção de energia elétrica suficiente para atender à demanda. Estamos no gargalo e, no curto prazo, o setor sucroenergético pode ajudar a resolver a escassez de oferta de energia. Temos condições de aumentar a disponibilidade de geração de energia pelas unidades produtoras em operação, que não exportam energia excedente, através da melhoria da eficiência das caldeiras instaladas, ampliando a geração de energia e reduzindo as perdas.
No curtíssimo prazo, esse projeto, que começa na indústria de base e é direcionado às usinas, beneficia os demais vínculos da cadeia e ajuda a amenizar a crise energética – originada pela fragilidade da principal fonte, a hidrelétrica, que sofre os efeitos das drásticas mudanças climáticas, das barreiras ambientais, da falta de planejamento estrutural e da própria ação depreciativa do homem. Esse déficit de energia pode ser sanado por meio da energia elétrica produzida nas usinas de açúcar e álcool, de forma limpa, sustentável, mais barata e gerando milhares de empregos e renda.
Outra externalidade positiva da energia elétrica proveniente do setor sucroenergético é que ela é produzida, justamente, no período de seca. No médio e longo prazo, temos condições de aumentar e melhorar a eficiência das plantas já exportadoras de energia elétrica, além da implantação de novas unidades geradoras. Este é momento de se pensar além, de tomar atitudes mais concretas, de abrir a mente para as oportunidades que o mercado tem oferecido e exigido e unir forças em busca da superação de um dos setores mais importantes para a economia do País. E, lógico, a efetiva recuperação do setor depende, e muito, da vontade política das autoridades competentes.