Presidente da ETH Bioenergia - Grupo Odebrecht
Op-AA-25
O setor de bioenergia brasileiro experimentou grandes conquistas em 2009. O consumo de etanol cresceu 20% e superou pela primeira vez o uso da gasolina no país. Além disso, os elevados investimentos feitos no setor ressaltam a importância desse mercado na economia nacional. Hoje, a cana-de-açúcar está presente em 22 estados brasileiros e emprega mais de 600 mil pessoas.
Não por acaso, o segmento representou 1,5% do PIB do ano passado. Em 2010, o cenário não será diferente: a consolidação do setor é uma realidade. Ao mesmo tempo em que o etanol de cana-de-açúcar – energia limpa, renovável e competitiva – está na agenda global de sustentabilidade, a energia elétrica de biomassa, cogerada nas unidades a partir do bagaço da cana, ocupa importante posição na diversificação da matriz energética brasileira, trazendo um panorama novo, promissor e positivo.
A consolidação da tecnologia flex, presente em 90% dos novos veículos vendidos atualmente no Brasil, também impulsiona o setor, com a perspectiva de grande crescimento do mercado nos próximos anos. Ao final de 2010, praticamente metade da frota brasileira possibilitará ao consumidor decidir abastecer seu automóvel com etanol ou gasolina.
Em poucos anos, o país contará com 40 milhões de veículos e 70% deles serão flex. Internacionalmente, o etanol passou a chamar a atenção de forma positiva. Países que antes utilizavam apenas derivados do petróleo passam a buscar fontes limpas e renováveis de energia em função das suas vantagens ambientais, sobretudo a redução das emissões de CO2.
Exemplo disso é o reconhecimento da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) de que o etanol da cana-de-açúcar é um combustível avançado. Soma-se a isso a aprovação, pelo Conselho de Qualidade do Ar do Estado da Califórnia, da regulamentação do Padrão de Combustível de Baixa Emissão de Carbono - LCFS, tornando obrigatória a redução em 10% das emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, naquele estado, até 2020. Essas medidas do governo norte-americano são importantíssimas e devem favorecer a entrada do etanol brasileiro nesse país.
O Japão também vê no etanol da cana uma solução para reduzir a emissão de CO2 e sua dependência em relação a combustíveis fosseis. O governo local trabalha em um projeto para aumentar para até 10% a mistura de etanol na gasolina até 2020, o que criará um mercado potencial de 6 bilhões de litros para o produto brasileiro. Esses movimentos positivos, no âmbito nacional e internacional, apontam para um potencial importante do crescimento da produção e da demanda do etanol.
Entre 2006 e 2008, somente o consumo interno brasileiro passou de 12 para 24 bilhões de litros. A tendência é manter esse ritmo, superando os 50 bilhões de litros por ano ao final de 2015. Pensando na demanda que os Estados Unidos poderão gerar, serão mais 15 bilhões de litros em 2022. Aos poucos, a civilização do petróleo abre espaço para combustíveis mais limpos, sustentáveis e, acima de tudo, competitivos. Esse potencial do etanol e suas perspectivas de futuro inauguram uma nova fase de investimentos no setor, estimados em US$ 50 bilhões para os próximos cinco anos.
A chegada de novos players, como grandes tradings agrícolas e empresas petrolíferas, além das operações emblemáticas de redesenho do setor - como a associação da Cosan com a Nova América, da francesa Louis Dreyfus com a Santelisa Vale, seguida por Bunge e Moema, Shell e Cosan e pela combinação de ativos da ETH Bioenergia com a Brenco – tomaram conta dos noticiários. Sem falar na entrada da Petrobras no capital da Açúcar Guarani e São Martinho. E não é só isso.
Esse movimento deve se intensificar, nos próximos anos, com a consolidação de empresas com escala, tecnologia e grande capacidade de investimentos e confirma a atratividade do negócio e o forte potencial de crescimento do mercado para esse combustível. Hoje, o Brasil é o país mais competitivo na produção de energia renovável e seus derivados, e precisa investir em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias para consolidar e manter essa posição no médio e longo prazo.
Os produtores brasileiros precisarão aliar sustentabilidade e competitividade para atingir a alta eficiência necessária para continuar liderando a produção de etanol mundialmente. Além dessa evolução exigida pelo mercado nacional e internacional, o Brasil precisa se estruturar para transportar o etanol para os grandes centros de consumo e facilitar sua exportação. O plano de construção de um alcoolduto que ligará a região produtora de etanol, no Centro-Oeste, ao porto de Santos é hoje a alternativa logística mais competitiva.
Os investimentos no projeto estão estimados em R$ 2 bilhões e os benefícios são consideráveis, como a redução no custo do transporte do combustível das novas fronteiras de produção para os mercados consumidores, a diminuição no uso de diesel e a consequente redução na emissão de CO2. Importantes conquistas foram feitas ao longo dos últimos anos, especialmente em 2009 e 2010. Mas, como vimos, o crescimento do setor, nacional e internacionalmente, depende, ainda, de muito trabalho e de significativos investimentos. Chegou o momento de unir forças para que o Brasil possa extrair o máximo desta oportunidade.