Presidente executivo do SIFAEG-GO e Coordenador do Fórum Nacional Sucroalcooleiro
Op-AA-04
O comportamento humano, com suas mutações sociais, seus volúveis hábitos de consumo e sua ambígua interação com o ambiente vital, está em constante estado de impermanência. Prever o destino de qualquer produto nas próximas décadas é um desafio carregado de imprecisão. Mas está em nossas mãos determinar o futuro do etanol como combustível.
Devido à rapidez em que o conhecimento da humanidade cresce, a primeira premissa é estabelecer o tipo de veículo que os humanos vão se locomover neste século. Em função dos imensos custos que uma mudança radical provocaria, as alterações não deverão ser muito significativas nos próximos 20 ou 30 anos. A segunda premissa é identificar quais produtos serão os possíveis competidores do mercado de combustíveis nas próximas décadas.
A tecnologia de combustão interna está em seu estágio de maturidade, de forma que seu custo seja mais baixo que qualquer nova tecnologia. Os combustíveis fósseis continuam com muita força, mas o imprevisível comportamento de seus preços, as limitações das reservas existentes, os conflitos nas regiões produtoras e as severas conseqüências ambientais existentes, os colocam na berlinda.
Uma tecnologia já muito badalada é a de células de combustível, movidas a hidrogênio. Um resumo da matéria publicada recentemente na revista Scientific American Brasil, sobre o assunto, é muito elucidativo: “Apesar das declarações otimistas dos fabricantes, persistem consideráveis desafios técnicos e mercadológicos que podem retardar por anos ou décadas a adoção de carros domésticos movidos por células de combustível.”
Antes de disponibilizar algo mais ‘verde’, a indústria automobilística precisará inventar uma maneira de aumentar a capacidade de armazena-mento dos tanques de hidrogênio e reduzir o preço do sistema de transmissão e do motor de células a combustível para um centésimo do atual. Além disso, será necessário quintuplicar a vida útil das unidades geradoras de energia.
Finalmente, será necessária uma infra-estrutura de abastecimento de hidrogênio para substituir a rede mundial de postos de gasolina. Será muito difícil que essa tecnologia ocupe o espaço nas próximas duas décadas, mas em 25 ou 30 anos ela poderá ser competitiva. Outra tecnologia que já está sendo utilizada, é de veículos híbridos que são movidos a gasolina e a eletricidade.
Há também grandes desafios para a sua sedimentação, como a autonomia de consumo limitada, à precária rede de abastecimento, a limitação das reservas energéticas e ao preço da energia nos próximos anos. Entretanto, os veículos elétricos poderão ser acessíveis em 20-30 anos. Diante deste cenário, é possível enxergar espaço para crescimento de um combustível que utilize todo o sistema de transportes já existente, desde a tecnologia da combustão interna da rede de distribuição e abastecimento, até chegar à plataforma de produção automobilística implantada.
Sem grandes investimentos em transformações estruturais, o etanol pode ser introduzido no mercado mundial de maneira tranqüila e sem sobressaltos. Primeiro como aditivo da gasolina em praticamente todos os mercados e depois como combustível principal, através da difusão da tecnologia flex fuel. A principal vantagem do etanol é a de se associar ao petróleo na utilização da cara estrutura de transportes implantada durante o último século.
O segundo principal apelo do produto é, sem dúvida, o preço competitivo. Por último estão as outras vantagens do etanol: ser menos poluente e ter forte apelo social, em virtude da grande geração de empregos. Contudo, este é um jogo de negócios, de maneira que nenhum país irá adotar o etanol em sua matriz de combustíveis se não for pelo aspecto financeiro.
Mais que isto, os governos sabem que a criação de novos hábitos de consumo de combustíveis irá criar novos centros de concentração de riqueza e poder. As estratégias de relações internacionais dos países produtores de etanol, serão decisivas pa-ra viabilizar a inserção do etanol em novos mercados nos próximos anos.
A chance do etanol se tornar um combustível mundial estará resumida às próximas duas décadas. As novas tecnologias deverão avançar nesse período, de forma que se o etanol chegar muito tarde aos novos mercados poderá não encontrar mais espaço. Ações concretas da iniciativa privada para conquistar mercados são urgentes, mas não parece haver muita preocupação entre os empresários. Acredita-se que as coisas acontecerão sozinhas, mas a história tem nos mostrado que isso não é verdade.
O governo também deve se interessar pelo assunto, se deseja aumentar tanto a soberania do país quanto o seu poder no cenário internacional. De sua parte, o setor deve se organizar e ser mais agressivo. A demanda internacional por energia renovável já existe e será suprida por outros players, caso insistamos em não fazer tanta questão na exportação de etanol.
Perto do mercado mundial, o consumo interno de etanol é muito pequeno e poderá ser substituído por novas tecnologias nas próximas décadas. O sucesso da agroindústria brasileira de etanol, nesse século, está contido no desafio simples e cheio de significado feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “É exportar ou morrer”.